As duas tartarugas marinhas encontradas no litoral do Paraná e trazidas para Curitiba na última sexta-feira (12) para exames de raio-X terão de passar por tratamento especial para retirar o lixo que ingeriram no mar. Antes de serem soltas novamente na praia, ambas terão de ingerir substância com efeito similar ao do laxante em humanos, pois irá auxiliar a evacuar o lixo que trava o sistema digestivo dos animais. Os répteis estão sob os cuidados do Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC ) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que monitora a fauna das praias do estado. De acordo com levantamento do LEC, 80% das tartarugas marinhas encontradas na costa paranaense têm problemas digestivos causados pelo lixo jogado no mar.
Veja fotos do exame de raio-X das tartarugas
Encontradas por pescadores bem debilitadas, as duas se encontram no perfil da maioria das tartarugas achadas nas praias do litoral paranaense. De acordo com levantamento do LEC, 80% das tartarugas encontradas nas praias do estado tem lixo no seu trato digestivo.
“Na tartaruga maior identificamos lixo em vários pontos do sistema digestivo. Isso cria fecalomas, que são bolos de fezes que travam todo o sistema, fazendo com que o animal não consiga comer, nem defecar”, explica Camila Domit, bióloga coordenadora do LEC, que integra o Centro de Estudos do Mar (CEM) da UFPR. De acordo com a bióloga, o lixo no sistema digestivo pode causar infecção generalizada e levar à morte do animal.
A outra tartaruga trazida a Curitiba para exames semana passada estava muito magra, com aspecto ainda mais debilitado. “Não conseguimos visualizar exatamente o lixo no sistema dessa tartaruga pequena, mas ela também está com fecalomas. Provavelmente o lixo que está nela é do tipo que não dá para ser identificado pelo raio-X, como fios de nylon, por exemplo”. O nylon é usado para fazer redes de pesca.
Por enquanto, as tartarugas irão passar os próximos dias no centro de reabilitação do LEC, em Pontal do Paraná, passando por um tratamento chamado de mucilagem, no qual são utilizados laxantes para normalizar o fluxo digestivo e a capacidade de alimentação das dos quelônios.
Apesar de não haver previsão para liberação dos animais no oceano, as expectativas de Camila são otimistas, baseadas em experiências anteriores: “Cerca de 80% das tartarugas que encontramos vivas voltam para o ambiente, e, em dois anos, nenhum dos animais que soltamos teve reincidência”.
Semana passada, um grupo de cinco tartarugas devolvido ao mar em Pontal do Paraná, após tratamento digestivo.
O que fazer ?
Ao encontrar qualquer animal silvestre no Litoral, vivo ou morto, a orientação da bióloga Camila Domit é entrar em contato com o Centro de Estudos do Mar (CEM), da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O contato pode ser feito por meio do telefone 0800 642 3341. O número também é válido para ocorrências nas praias de São Paulo e Santa Catarina.
Perna de boneca, peças de tabuleiro, roda de carrinho
Entre os objetos mais encontrados no sistema dos animais marinhos resgatados pelo LEC estão pacotes de sorvete, embalagens de balas e chicletes, tampas de garrafas pet e cotonetes. “Com o tempo no oceano, essas substâncias acabam criando uma camada de cianobactérias e microalgas. Isso faz com que os animais confundam o lixo com comida”, explica Camila.
Outros objetos mais estranhos também já foram encontrados no sistema digestivo dos animais pela equipe do LEC. Entre eles, pernas de bonecas, peças do jogo de tabuleiro e rodas de carrinhos.
A confusão entre lixo e alimentos acontece especialmente com a espécie tartaruga-verde, a mais popular no Paraná e que está ameaçada de extinção. Conforme dados do LEC, apenas nos últimos 10 anos, foram encontradas mais de 4 mil tartarugas mortas nas praias do Paraná – cerca de mil somente no último ano.
Colaborou: Cecília Tümler
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