Carcaças das tartarugas passaram por exames veterinários| Foto: Centro de Estudos do Mar/ Divulgação

Uma sequência de tartarugas-verdes encontradas mutiladas no Litoral do Paraná colocou em alerta pesquisadores da região. Nos últimos três meses, 27 animais da espécie - quase ameaçados de extinção - apareceram mortos nas areias entre Matinhos e Pontal do Paraná. Alguns foram localizados sem a carapaça, geralmente usadas para adorno, e outros sem a musculatura - casos que indicam a possibilidade do uso animal para consumo, delito tipificado na Lei de Crimes Ambientais. Há chances de parte dos répteis ter sido mutilada ainda em vida.

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Todos as carcaças encontradas - alguns duplamente mutilados, sem a carapaça e sem a musculatura - foram levados para o Laboratório de Ecologia e Conservação (LEC) do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde passaram por análise veterinária. As aferições confirmaram cortes intencionais, e o relatório dos pesquisadores vai dar base a um laudo técnico que será enviado nos próximos dias ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Ministério Público do Paraná (MP-PR), autoridades competentes para investigar o caso no campo criminal.

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De acordo com a bióloga do LEC Camila Domit, há possibilidade de que as mutilações tenham ocorrido com as tartarugas ainda vivas. "Muitas vezes, os animais que aparentam estar mortos só estão desmaiados e isso gera uma preocupação ainda maior", comenta a pesquisadora. A hipótese é viável porque é comum as tartarugas, que precisam ir à superfície do mar para respirar, se enroscarem em redes de pesca e desmaiarem com a falta de ar. Com a restrição, o animal desmaia, mas a situação pode ser revertida após um período de descanso se o animal for retirado da água a tempo.

A bióloga não acredita que as mutilações possam ter sido causadas por pescadores, que já são orientados a como proceder em casos de pesca acidental dos répteis. "As pescarias comerciais podem capturar acidentalmente e quando isso acontece, inclusive, não é crime", comenta. "É comum tartarugas aparecerem mortas ao longo do nosso Litoral durante o ano inteiro, mas o que nos preocupou foram as várias mutilações em um período curto", complementa Camila.

Conscientização

Ainda segundo a pesquisadora, as equipes envolvidas preferiram, em vez de formalizar denúncias imediatas, partir para uma campanha de conscientização para evitar que os casos continuassem a se repetir. "O nosso trabalho não foi para investigar pessoas que tiraram essas partes do animal. Nos preocupamos principalmente em sensibilizar a sociedade, para que caso alguém encontre uma tartaruga que está morta fique alerta".

A caça intencional de tartarugas-verdes chegou a ser comum no país, mas campanhas desenvolvidas nos últimos vinte anos diminuíram os riscos extremos de a espécie desaparecer. Ainda assim, o impacto causado pela mortalidade e exploração de partes das tartarugas marinhas - como a retirada das carcaças, por exemplo - ainda mantém a comunidade científica na batalha para evitar retrocessos.

Conforme a legislação, fazer uso de partes de espécies ameaçadas de extinção, mesmo de indivíduos mortos, é crime. No Brasil, a lei de crimes ambientais número 9.605 proíbe a captura, morte, coleta de ovos e molestamento de fauna silvestre. Infração às normas podem levar à prisão. No caso das tartarugas mutiladas, a lei permitir aplicação de multa de R$ 5 mil por animal/carapaça coletada.

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O Centro de Estudos do Mar reforça que quem se deparar com tartaruga, golfinho ou ave marinha morta ou debilitada deve entrar em contato com os pesquisadores pelo telefone 0800 642 3341.