Em depoimento rodeado de contradições, o técnico Caio Santos, 30 anos, que impermeabilizava o sofá do apartamento que explodiu no bairro Água Verde em Curitiba, afirmou à Polícia Civil ter orientado os moradores do imóvel a não acenderem o fogão e a manterem as janelas abertas durante a aplicação do produto altamente inflamável. O depoimento foi colhido nesta quinta-feira (18) no Hospital Evangélico Mackenzie, onde Santos segue internado com 65% do corpo queimado.
A declaração do funcionário da empresa Impeseg vai na contramão do depoimento do casal morador do apartamento, Gabriel Araújo, 29 anos, e Raquel Lamb, 23 anos. Também em depoimento à polícia, Raquel afirmou que não houve orientação de segurança e que por isso o fogão teria sido aceso durante a aplicação .
A ocorrência matou o menino Mateus Lamb, de 11 anos, irmão de Raquel. O que levou Santos e o casal proprietário da empresa, José Roberto Porto Correa e Bruna Formankuevisky Lima Porto Correa, a serem indiciados por homicídio. Entretanto, o inquérito conduzido pela Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (Deam) ainda não concluiu se o indiciamento será por homicídio culposo ou por dolo eventual.
Para o delegado responsável pela investigação, Adriano Chofhi, as contradições do depoimento do técnico soaram estranhas e terão de ser rebatidas em um novo depoimento do casal que morava no apartamento. Assim como o técnico, Araújo e Raquel seguem internados no Hospital Evangélico Mackenzie.
"O Caio diz que afirmou categoricamente no momento da impermeabilização sobre os perigos. Mas achamos pouco provável que mesmo com o aviso a proprietária fosse acender o fogão para colocar em risco toda a família dela", pontuou o delegado.
"Até agora, há muito mais provas que demonstram que essas informações de segurança realmente não eram repassadas aos proprietários. Muito estranho um morador, mesmo sabendo da periculosidade do produto, acione um fogão e colocar em risco toda a sua família", acrescentou Chohfi.
Mais contradições
Para a Polícia Civil, o depoimento do técnico também é contraditório no que diz respeito a denúncias feitas por outros funcionários da Impeseg já ouvidos na investigação. De acordo com os empregados, eles não estavam cientes de que os produtos de impermeabilização de sofás eram inflamáveis. Eles também afirmam que os proprietários não os orientavam a apresentar possíveis riscos aos clientes.
Eles também disseram que não tinham equipamentos de segurança, o que foi negado por Santos no depoimento desta quinta. "De forma estranha, outros funcionários disseram que não existiam os equipamentos, que existia uma máscara velha, apenas. Mas ele disse que tinha luva, tinha uma mala com equipamentos de proteção, o que nenhum funcionário, nem mesmo o proprietário da empresa, chegou a mencionar. Achei estranho, mas é o direito dele", completou o delegado.
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