A identificação após quase 11 anos do suspeito do assassinato brutal da menina Rachel Genofre, encontrada morta em um mala com sinais de abuso sexual em 2008, causou comoção não só à família da vítima, mas também aos próprios peritos criminais que trabalham no caso desde o início. Agentes da Polícia Científica do Paraná chegaram a chorar de emoção ao confirmarem que o DNA de Carlos Eduardo dos Santos, 54 anos, que cumpre pena de 22 anos em um presídio em Sorocaba (SP) desde 2017 por estelionato e outros crimes sexuais, era o mesmo do material genético colhido na época do crime.
“Parece que tirei um peso das costas. Depois de tanto tempo, com tantas tentativas, quase não acreditei quando vi que finalmente havíamos encontrado o suspeito”, emociona-se o perito criminal Hemerson Bertassoni Alves, um dos gerentes do Laboratório Forense da Polícia Científica que assinou 140 dos 170 laudos de cruzamentos genéticos do caso feitos desde 2008. "Quando vi o resultado, já comecei a chorar de emoção", recorda.
O crime foi solucionado graças ao banco nacional de perfis genéticos de criminosos, que reúne material genético de presos que cumprem pena por crimes hediondos em todo o Brasil. Atualizado toda semana com novos DNAs, o banco permite que o material genético de detentos seja cruzado com o material colhido nas cenas de crimes, possibilitando a conclusão de casos como o de Rachel.
O possível ponto final deste longo caso, tratado até então como o maior fracasso da investigação criminal do Paraná, o que levou a Polícia Civil a pedir desculpas à família da menina, foi por volta de 19h da última terça-feira (17), quando os peritos constataram que o perfil genético de Carlos Eduardo dos Santos batia com o material colhido em 2008.
“Fiquei até mais tarde no trabalho para avaliar os relatórios de cruzamento de material genético que chegam semanalmente. Quando peguei o último relatório, não fazia ideia de que era o da Rachel porque no relatório não há informações de que caso se trata ”, explica a também perita criminal e administradora do Banco Estadual de Perfis Genéticos do Paraná, Claudia Becker.
Quando Claudia abriu o arquivo no programa e viu que havia mais de 100 tentativas de cruzamento, já desconfiou que se tratava de um caso antigo. “Eu estava sozinha no laboratório e quase não acreditei. Fiquei verificando várias vezes e então liguei para os dois peritos mais antigos que trabalharam no caso na época”, descreve.
Um dos peritos para quem Claudia ligou na hora foi Hemerson. “Ela me disse que eu tinha que ir urgente para o laboratório, mas não podia me contar o motivo por telefone”, conta o perito. Sem reação, os três peritos olharam incrédulos para o computador com o resultado positivo do cruzamento de DNA do suspeito. “Ficamos nós três chorando, comemorando silenciosamente”, relembra Claudia.
Trâmites
O DNA correspondente ao do suspeito do assassino de Rachel veio de São Paulo, do detento Carlos Eduardo dos Santos, de 54 anos, preso desde 2017 na Penitenciária de Sorocaba II. O programa define que haja coleta de material genético e seja feito o cadastro de todos os detentos que cumprem penas por crimes hediondos para o banco de DNA.
Quando o cruzamento de dados liga informações de dois estados, como no caso Rachel Genofre, é emitido um alerta para as respectivas polícias científicas, um “match”. Ou seja, há comprovação de compatibilidade entre o DNA colhido no banco genético e o da cena do crime.
No entanto, mesmo após a confirmação de compatibilidade, é necessário uma nova coleta do detento para una nova contraprova, o que no caso Rachel Genofre foi feito e confirmado sexta-feira (20) pelo Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba. “Fazemos outra coleta somente naquele detento. Isso garante que não haja nenhuma dúvida de que aquele material pertence ao suspeito”, enfatiza Claudia.
Tecnologia
A tecnologia que permitiu a conclusão do caso Rachel Genofre é a mesma usada no FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. Em um laboratório no prédio da Polícia Científica no bairro Capão da Imbuia, em Curitiba, ficam equipamentos de coleta e reconhecimento de perfis genéticos avaliados em R$ 6 milhões. “Esse caso é a existência viva de que esse trabalho é importante”, ressalta Hemerson.
Para o perito, encontrar o suspeito da investigação policial mais emblemática da história do Paraná dá esperança de que outros casos difíceis sejam solucionados. “Isso dá esperança para resolução de casos como o de Tayná, por exemplo”, diz o perito, referindo-se ao estupro e assassinato da menina Tayná da Silva, em Colombo, região de Curitiba, em 2013, que ainda segue sem solução.
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