Curitiba foi uma das três cidades brasileiras escolhidas pela Uber para servir de teste a um projeto que pretende aumentar o número de motoristas mulheres na plataforma. Ao lado de Campinas (SP) e Fortaleza (CE), a capital paranaense vai ser o ponto de largada do programa “Elas na Direção”, cujo objetivo final é, além de garantir empoderamento financeiro das condutoras, criar uma nova categoria dentro do aplicativo que viabilize a opção futura para passageiras escolherem viagens apenas com motoristas mulheres.
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A escolha de colocar Curitiba no projeto-piloto atende a algumas características específicas do projeto, como a cidade ter tamanho relevante, uma quantidade determinada de motoristas e estar numa localização geográfica diferente das demais, que são Campinas, no Sudeste, e Fortaleza, no Nordeste. “E Curitiba chama a atenção porque - como tem um número de motoristas maior que a média pode trazer muito mais aprendizado para o programa”, destaca a diretora-geral da Uber no Brasil, Claudia Woods.
A novidade vai permitir que, a partir do dia 8 de novembro, motoristas de Curitiba cadastradas na plataforma dirijam apenas para passageiras mulheres, caso e quando queiram. A opção, que não se estende para cadastros da Região Metropolitana no primeiro momento, poderá ser selecionada por meio de um botão específico (U-Elas) no app tradicional de motoristas. Não haverá custo adicional para o serviço, e o botão para selecionar a restrição poderá ser habilitado e desabilitado em qualquer horário e sem limites de vezes por dia.
De acordo com Woods, o projeto nasceu do descontentamento da empresa com a desproporção entre motoristas homens e mulheres que trabalham no aplicativo – o que barra a dinâmica de uma modalidade exclusiva para o público feminino e que faz com que a opção inversa da apresentada, de passageiras selecionarem apenas motoristas mulheres, ainda não esteja no pacote.
Conforme a empresa, no Brasil, dos 600 mil cadastrados, apenas 36 mil - 6% - são mulheres. Em Curitiba, a média é maior: 7,2%, mas a empresa não divulga o quanto isso representa em números absolutos. “Impossível estar no papel que eu estou e achar que a gente não tem que mudar isso. Então, essa nova opção vai assegurar principalmente a segurança da mulher motorista. Além de todas as ferramentas de segurança que a Uber já disponibiliza, agora elas terão uma específica desenvolvida só para elas”, declarou a diretora no lançamento do projeto nesta quinta-feira (24), em São Paulo.
Lucro garantido nas 100 primeiras corridas
Tendo segurança como eixo central, a proposta de ampliar a base de motoristas mulheres na plataforma contempla também outras frentes para tornar o projeto mais atraente.
No aspecto financeiro, a Uber vai garantir para novas motoristas da capital paranaense um lucro de R$ 1,5 mil nas 100 primeiras corridas feitas, valor que, se não atingido, a própria empresa promete complementar.
Outra novidade anunciada é uma parceria com a locadora de carros Localiza, que vai permitir que mulheres motoristas interessadas em se cadastrar no aplicativo, mas que não têm carro próprio, aluguem veículos nas unidades de Curitiba com um valor 25% menor do que o da tabela diária praticada e sem a necessidade de ter cartão de crédito para retirar o automóvel.
Como parte da mesma proposta, a empresa vai disponibilizar ainda uma plataforma educativa com cursos on-line sobre empoderamento financeiro produzida em conjunto com as entidades Iniciativas Empreendedoras, Rede Mulher Empreendedora e NoFront- Empoderamento Financeiro. Curitiba e as outras duas cidades-teste também terão uma rede de apoio com especialistas mulheres que vão atender as motoristas pessoalmente para dar suporte ao serviço.
Uber só para mulheres
Além de também pensado para garantir o empoderamento financeiro de mulheres, o novo projeto da Uber prevê que, a longo prazo, a plataforma tenha motoristas suficientes para atender a uma modalidade que permita passageiras optarem por viagens feitas apenas com motoristas mulheres.
No entanto, ainda não há expectativa de quando o serviço vai ser disponibilizado, já que a discussão da categoria depende da ampliação da base de mulheres motoristas. “A nossa expectativa agora é aprender para depois traçar uma meta. Queremos aprender ao longo desse período e da próxima vez, quem sabe, apresentar alguma tendência de quando teremos esse serviço”, explica Woods.
Ainda que controverso – há quem defenda que restringir não muda a cultura da insegurança -, a demanda pelo serviço de transporte individual de passageiros exclusivo para mulheres existe e cresce alimentada principalmente por casos de assédio denunciados por passageiras.
Em agosto de 2017, a campanha #MeuMotoristaAbusador ganhou fôlego depois que a escritora gaúcha Clara Averbuck denunciou ter sido estuprada por um motorista em São Paulo. O movimento engajou passageiras a compartilharem seus próprios relatos de violência e abuso sofridos nos trajetos percorridos durante viagens por aplicativos.
Em Curitiba, também há casos recentes. Em dezembro do ano passado, história compartilhada por uma jovem nas redes sociais deixou muita gente apreensiva em relação ao uso de aplicativos de transporte. No desabafo, a vítima contou que uma viagem pedida pelo Uber que era para ter demorado 5 minutos acabou levando 45 com o motorista ignorando o trajeto do GPS e seguindo para um ponto distante da cidade, completamente fora da rota programada. O caso foi relatado o caso à Uber e em Boletim de Ocorrência. O “susto” só não foi maior porque a jovem, após pedir várias vezes para que o motorista retornasse, compartilhou a viagem com amigos, para que eles estivessem cientes da localização dela.
Antes disso, em outubro de 2017, outro motorista da Uber foi acusado de estupro por uma professora de inglês de 27 anos na capita. O Ministério Público do Paraná (MP-PR) ofereceu denúncia pelo crime de estupro mediante violência e o caso segue na Justiça.
*A jornalista viajou a convite da Uber.
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