Aprovada em segundo turno na Câmara Municipal nesta quarta-feira (29), a renovação do subsídio mensal da prefeitura ao transporte público vai permitir que a passagem de ônibus em Curitiba fique nos atuais R$ 4,50 até o fim do ano. Já para 2022 a possibilidade é de reajuste ao usuário, com o cenário tendo de ser reavaliado pela Urbs, empresa municipal que gerencia a frota. A promessa, no entanto, é evitar um "tarifaço".
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A expectativa é de que se o sistema recuperar ao menos 80% do volume de passageiros de antes da pandemia, junto com alguns ajustes operacionais, a Urbs possa abrir mão do subsídio mensal já a partir de janeiro. Ou seja, abandonaria o pagamento por quilômetro rodado da frota para retornar ao pagamento da diferença da tarifa técnica.
"O aumento da passagem tem que ser somente o suficiente para que o passageiro possa pagar. A transferência total dos custos da passagem para o usuário não é uma coisa que devamos fazer", adianta o presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto, em entrevista à Gazeta do Povo.
Atualmente, a tarifa técnica - custo real de operação por usuário - é de R$ 8,11. A diferença de R$ 3,61 em relação aos R$ 4,50 pagos pelo passageiro era custeada pela prefeitura até o início da crise sanitária. Com a queda no número de passageiros na pandemia, quando o sistema chegou a operar com apenas 20% do fluxo normal de usuários, ficou um rombo no sistema, o que exigiu o subsídio. A Urbs afirma ter economizado R$ 211 milhões com a troca do complemento da tarifa técnica pelo pagamento por quilômetro rodado.
A renovação do subsídio, aprovada nesta quarta, que deve manter o aporte entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões mensal no sistema até dezembro, teve uma emenda retirada que impedia a demissão de motoristas e cobradores durante esse período. Mesmo assim, o presidente da Urbs não acredita em demissões em massa. "Não vejo essa possibilidade. Até porque para fazer um corte em massa de trabalhadores precisa de uma adequação grande no sistema, muita coisa tem que acontecer. E o momento não é para isso", explica. Leia a entrevista.
Com a continuidade do subsídio, até quando a Urbs consegue segurar a passagem a R$ 4,50?
A passagem do transporte público de Curitiba é reajustada todo ano. Mas não reajustamos desde 2019. É claro que com esse regime emergencial, com o aporte de recursos, a intenção é permanecer com a passagem a R$ 4,50 pelo menos nesse ano. Então até dezembro não teremos alteração no preço da passagem. Até dezembro garantimos esse valor, apesar de termos o preço do diesel disparando, ontem subiu 9%. Segundo a Agência Nacional de Petróleo tem mais 31% para subir ainda nesse ano. E combustível é o maior custo que temos no sistema, depois do custo com pessoal, do salário de motoristas, cobradores e pessoal do administrativo. Só que o pagamento de pessoal não oscila, tem apenas a negociação na data-base e alguns reajustes. Mas o combustível acaba crescendo em termos percentuais na composição de custos justamente porque não a gente não tem controle nos aumentos. Então isso atrapalha e muito.
Qual quadro pode haver depois de dezembro com o fim do subsídio? A passagem pode chegar a quanto ao usuário?
O custo do serviço hoje, a tarifa técnica, é de R$ 8,11. Para que a população tenha acesso ao transporte coletivo, que é um direito, o poder público tem que garantir um preço módico da passagem, independente do custo. Ou seja, temos que manter uma frota operando para dar conta do volume de pessoas que necessitam do transporte público.
Portanto, o aumento da passagem tem que ser somente o suficiente para que o passageiro possa pagar. A transferência total dos custos da passagem para o usuário não é uma coisa que nós devamos fazer. Por isso buscamos subsídios do governo do estado, do próprio município, redução de custos dentro do sistema, investimento em tecnologias para reduzir custos operacionais. Essas são as ferramentas que temos.
Dentro desse plano para reduzir custos operacionais para não repassar valores ao usuário pode haver redução da frota se o cenário não melhorar em dezembro?
A redução da frota entre os picos do movimento de passageiros deve acontecer. Aí os ônibus não circulam vazios. Claro que no transporte coletivo é necessário frequência, porque a pessoa não pode ficar a vida toda no ponto esperando sem saber se o ônibus vai chegar ou não. Então temos os aplicativos que mostram o horário dos ônibus para ter previsibilidade ao passageiro. Mas uma adaptação que pode ser feita é naquela linha de ônibus que passava de 15 em 15 minutos e passe a ser de 20 em 20 minutos, justamente para gerar uma economia. São ajustes na frequência dos horários que devem acontecer.
Qual a perspectiva do retorno dos usuários ao transporte coletivo agora que o quadro da pandemia está melhorando? Há possibilidade de se chegar ao volume de passageiros de antes da crise sanitária sem o subsídio a partir do ano que vem?
O número de passageiros está aumentando. Mas só lembrando que antes da pandemia também tínhamos subsídio. Tivemos subsídio em 2018 de R$ 70 milhões e em 2019 de R$ 90 milhões e aí entrou na pandemia. O subsídio na realidade é uma necessidade que sempre existiu no sistema. Nunca tivemos um sistema que pudesse se pagar 100%.
A quantidade de passageiros já aumentou e consequentemente aumentamos a frota nos horários de pico justamente para atender esse acréscimo da demanda. Já estamos com 60% dos passageiros que tínhamos antes da pandemia. A expectativa é de que quando a pandemia ceda mais a gente alcance 80% do número de passageiros que tínhamos anteriormente. Acreditamos que não deva passar disso. E aí faremos os ajustes operacionais para manter o sistema.
Qual era a movimentação de passageiros no sistema antes da pandemia, qual é agora e qual foi o valor mais baixo que chegou?
Antes da pandemia tínhamos média de 756 mil passageiros por dia. Hoje estamos com 440 mil passageiros por dia. O pior momento foi no início da pandemia, entre março e abril de 2020, quando a queda foi de 80%, com média de apenas 130 mil passageiros por dia, quando a situação ficou bem difícil.
Se o volume de passageiros alcançar essa meta de 80% de antes da pandemia, dá para o sistema voltar ao normal, descartando o subsídio?
Com 80% dos passageiros de antes da pandemia, um pequeno reajuste na tarifa, uma readequação operacional, mas algum subsídio municipal ou estadual, sim. Mas na verdade o que temos que arrumar é a composição do subsídio entre Curitiba e Região Metropolitana. Sabemos que hoje grande parte, aproximadamente 30%, dos passageiros que circulam por Curitiba são provenientes da Região Metropolitana. Então nada mais justo que essa situação seja adequada junto com o governo do estado para que tenhamos o equilíbrio financeiro, uma vez que o sistema entre Curitiba e Região Metropolitana é totalmente integrado. É o único sistema integrado do Brasil de ponta a ponta com passagem única. Isso é uma conquista que não podemos deixar acabar. Perder isso seria um retrocesso de mobilidade gigantesco, talvez o maior já visto por aqui.
Qual é o peso desses passageiros da Região Metropolitana no caixa de Curitiba?
Calculamos em torno de R$ 150 milhões por ano. Só Curitiba banca isso. Por isso tem que ser discutido com o governo do estado. Estamos tendo reuniões com o governo dentro do Conselho Estadual de Transportes e também com a Comec [Coordenação da Região Metropolitana de Curtitiba, órgão do governo estadual] para que essa negociação avance e até chegue à criação de um consórcio metropolitano em que cada ente participe com seu quinhão.
Em que pé está a conversa para se criar o consórcio metropolitano?
Estamos em contato direto. Ontem mesmo tivemos uma reunião do Conselho Estadual de Transporte para reunir algumas diretrizes disso. Além disso, conversamos semanalmente com a Comec.
Antes da pandemia, o transporte coletivo já estava perdendo um volume grande de passageiros para o transporte por aplicativos e outros modais, movimento que ganhou ainda mais força com o medo de as pessoas se contaminarem com a Covid-19 nos ônibus. O que a Urbs pretende fazer para recuperar esses passageiros?
Os aplicativos são uma realidade e não temos intenção de acabar com eles, já que são um modal assim como o táxi, as motos, as bicicletas. Então temos que fazer um redimensionamento do sistema de transporte para que ele conviva com essas novas tecnologias. O transporte público tem que ter valor acessível à população. O retorno dos passageiros, inclusive, está acontecendo porque com a passagem a R$ 4,50 e a gasolina a R$ 6 o litro encarece muito o transporte por aplicativo. Temos que ajustar essas questões para que os sistemas convivam. Mas o transporte coletivo é o mais barato para a cidade, é o mais econômico e o mais viável por conta do trânsito. Precisamos achar o caminho para equilibrar o sistema. Claro, temos o contrato de uma licitação feita em 2010 que nos amarra em algumas questões. Mas acredito que até a nova licitação em 2025 esses problemas contratuais serão dirimidos e teremos um novo modelo de gestão implantado.
Na proposta de subsídio aprovada na Câmara Municipal foi incluída retirada uma emenda que permite a demissão de motoristas e cobradores de ônibus, o que os termos anteriores não permitiam. Qual é o risco de haver demissões no transporte público de Curitiba?
Acredito que nenhuma decisão vá ser tão brutal ao ponto de ter cortes em massa. Não vejo essa possibilidade. Até porque para fazer um corte grande de trabalhadores precisa de uma adequação grande no sistema, muita coisa tem que acontecer. E o momento não é para isso. Não existe essa possibilidade.
Para finalizar, no fim de dezembro a Urbs vai se debruçar sobre todos os números, se o volume de passageiros aumentou, como estão os preços de combustíveis e insumos, etc. O que vai ser feito para tentar não precisar mais do subsídio?
De outubro a dezembro vamos acompanhar os números muito mais de perto com o sistema sendo reestudado para que em janeiro tenhamos novas soluções previstas.
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