Com intuito inicial de incentivar a convivência entre pedestres, a vaga viva da Rua Riachuelo, em Curitiba - espécie de minipraça que ocupa o espaço de um veículo estacionado - está jogada às traças, e se tornou local para consumo de drogas e depósito de lixo. Inaugurada em novembro de 2015, por meio de um projeto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTPFR), essa vaga viva foi a primeira da cidade, e, dois anos depois, comerciantes do entorno notam que a estrutura funciona mesmo é como um minimocó.
“A gente vê o banco sendo usado para consumo de drogas todos os dias. Acabou virando dormitório e banheiro, e até sexo já vi fazerem ali” conta Vanessa Prestes, 36 anos, vendedora de uma loja em frente à vaga viva. Segundo Vanessa, o estado de deterioração acaba inibindo a presença de pedestres que usariam a estrutura como local de convivência. Na opinião da vendedora, “a ideia do mobiliário urbano é muito interessante, mas está no lugar errado”.
Veja fotos do estado da vaga viva
Funcionária de um comércio do entorno, Carolina Souza, de 21 anos, explica que apenas os pedestres mais desavisados acabam sentando no banco, que está com pedaços de madeira faltando e partes quebradas. “Dá até dó quando eu vejo alguém sentado ali, pelo tanto de fezes e urina que eu sei que fazem”, diz Carolina.
Além de estar degradado visualmente, o banco acaba incomodando pelo cheiro forte que exala. “Às vezes a prefeitura vem lavar a vaga viva, mas só adianta logo depois”, conta Telma Souza e Silva, atendente de uma farmácia da região. De acordo com Telma, a situação é tão ruim que muita gente nem percebe que se trata de um local para qualquer pessoa sentar. E o mesmo vale para os turistas, que, como a vaga viva fica logo em frente ao Paço da Liberdade, na Praça Generoso Marques, são muitos por ali.
Para além das lavagens eventuais feitas pela prefeitura, não há nenhum outro tipo de manutenção regular por parte da atual gestão, que afirma que a responsabilidade pela conservação é conjunta com a UTFPR. Professora de Design da instituição e uma das idealizadoras do projeto, Jusmeri Medeiros explica que a universidade não tem como fazer a limpeza e conservação da vaga viva, e que o mobiliário foi uma doação à cidade. Por isso, a prefeitura deveria assumir o serviço. Outra alternativa - que já funciona em vagas vivas instaladas no Centro Cívico e nos arredores do Mercado Municipal - é que a responsabilidade pela estrutura seja assumida pelos comércios do entorno. “Tendo alguém para cuidar e fazer com que existam pessoas usando o espaço é uma alternativa que funciona”, afirma Jusmeri.
Para a professora, porém, não existe a possibilidade de se pensar em um mobiliário que exclua a presença de pessoas em situação de rua: “Não podemos fazer uma antiarquitetura, algo excludente. Todos esses problemas são reflexo do estado da sociedade. A diferença é que nas praças da cidade, por exemplo, a prefeitura faz manutenção diária e acabamos não percebendo tanto o vandalismo”. Ainda assim, a estrutura deverá ser retirada da Rua Riachuelo e recolocada em outro ponto da cidade onde exista alguém para se responsabilizar.
Segundo a professora, os alunos que integraram a instalação da vaga viva se reuniram em um mutirão no início do ano, substituindo peças e limpando o local. Fernanda Machoseki, designer e ex-estudante da UTFPR, integrou o grupo e conta sobre a decepção de ver a estrutura sendo degradada: “É bem triste ver a situação, nós lutamos para conseguir parcerias para os materiais. O pior é que no dia da inauguração da estrutura tinha vários políticos apoiando a causa, e depois ficou assim”.
Fernanda explica que o projeto inicial não previa que a vaga viva fosse colocada na Riachuelo: “Era pra ter sido colocada em outros locais, mas não conseguimos liberação. E eu tenho certeza de que se tivéssemos conseguido na Rua Vicente Machado, por exemplo, que fica no Batel, a prefeitura teria mantido a estrutura intacta”.
Em nota, a prefeitura explica que está analisando a viabilidade de continuação do projeto-piloto no local.
Colaborou: Cecília Tümler
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