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 | Denis Ferreira Netto/Tribuna do Paraná
| Foto: Denis Ferreira Netto/Tribuna do Paraná

Aluguel seguro e pago em dia por pelo menos 4 meses por uma empresa suíça. Nem mesmo essa garantia tem sido suficiente para convencer alguns curitibanos, proprietários de imóveis, a alugarem seus espaços. O motivo? A origem dos locatários.

A situação preocupa entidades vinculadas ao acolhimento de refugiados venezuelanos no Brasil, que agora, lutam para encontrar não apenas imóveis disponíveis, mas real solidariedade frente aos 102 novos refugiados que devem chegar a Curitiba até o começo de dezembro.

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Traduzido para o português, “Pana” (em indígena venezuelano) significa “amigo”. Esse é o nome do projeto de acolhida, proteção e integração idealizado pela Cáritas da Suíça em parceria com o governo dos Estados Unidos e a Organização das Nações Unidas (ONU). Ativo em sete capitais brasileiras, o programa tem o objetivo de receber imigrantes venezuelanos e instalá-los em casas mobiliadas transitórias. Com garantia de pagamento integral das despesas dos locatários, proprietários de imóveis têm firmado contratos com a entidade em cidades como Boa Vista, Porto Velho, Brasília, Recife, São Paulo e Florianópolis.

Vinculada ao projeto por meio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Curitiba é uma das capitais-sede do programa. Por aqui, no entanto, alugar para refugiados não tem sido tarefa fácil. É o que afirma um dos coordenadores do projeto na capital paranaense, o psicólogo, Marcos Regazzo. “O público tem relutado muito em alugar para os venezuelanos e o problema está claramente na origem dos locadores. Quando descobrem que o aluguel será para estrangeiros, muitos se recusam logo de cara. Outros dobram o valor do aluguel ou exigem até um ano de pagamento antecipado”, afirma.

Com orçamento para pagar locações de até R$ 900 por casa mais as despesas de água e luz, a instituição busca entre 17 e 22 imóveis para até cinco pessoas cada. Mesmo intermediadas por imobiliárias e com previsão de estadia transitória, as propostas têm sido em sua maioria recusadas pelos locatários, principalmente em Curitiba. “Tentamos em bairros como Fanny, Boqueirão, Novo Mundo. Ninguém quis. Em municípios da Região Metropolitana, como Colombo e Fazenda Rio Grande, já não houve tanta resistência”, explica Regazzo. O ideal, no entanto, é alocar os imigrantes em áreas mais próximas do Centro, onde se concentram as oportunidades de trabalho. “Até agora apenas dois proprietários de Curitiba alugaram seus imóveis para o projeto. Mas isso só aconteceu depois que apelamos para ajuda da imprensa”, explica.

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Chamadas “casas de passagem”, as residências alugadas têm previsão de ocupação de apenas 4 meses – tempo estimado para adaptação e integração dos estrangeiros no Brasil. Passado esse período, novos grupos são instalados no local, cuja mobília e abastecimento são fornecidos por intermédio de doações feitas à Caritas. “À medida que arranjam emprego e ganham autonomia, eles deixam as casas e seguem se mantendo por seus próprios meios”, afirma.

No que classificou como real “preconceito”, Marcos lamenta a dificuldade em encontrar imóveis. “Basta as pessoas saberem que se trata de venezuelanos, que fecham as portas. O público curitibano costuma ser bastante assistencialista com doação de roupas e insumos. Somos generosos quando o assunto é doar alimento ou oferecer emprego, porém, há uma enorme resistência no aluguel de imóveis. Isso é muito triste”, desabafa.

Venezuelanos em Curitiba

Com expectativa de receber 204 imigrantes venezuelanos até o primeiro semestre de 2019, Curitiba já abriga 104 estrangeiros em imóveis alugados pela Caritas em diferentes bairros da cidade. Ao todo, a capital paranaense já recebeu três grupos atendidos pela Operação Acolhida, projeto do governo federal que tem o apoio da Agência da ONU para Refugiados (Acnur).

Entre os radicados em Curitiba, Madison Gonzalez Garcia, 28, é uma das imigrantes que tem enfrentado dificuldade para encontrar um imóvel para alugar. “Fui de porta em porta com toda a documentação que comprova que somos regulares e assalariados aqui no Brasil, mas as condições que exigem são abusivas quando descobrem que somos da Venezuela”, conta. Sem meios para cumprir as exigências estabelecidas pelos locadores, Madison e a família residem há um ano em um pensionato, nas Mercês. Ela lamenta a condição, principalmente ao se recordar do período que antecedeu a crise em seu país. “Sou geóloga e meu marido engenheiro da computação. Tínhamos nossa casa, nosso carro, nossa vida. É difícil viver dentro de um quartinho com a família inteira”, desabafa.

Contratada por uma das instituições de acolhimento para venezuelanos em Curitiba, Madison soma seu salário ao do marido, que concilia a jornada num lava-car e como recepcionista, numa clínica médica. Mesmo assim, ninguém quis alugar para eles. “Tentamos no Cajuru, Jardim Botânico, Capão da Imbuia, Bairro Novo, Campo Comprido. Não é questão de bairro. São as pessoas que não estão querendo alugar”, lamenta.

A reportagem também procurou a Fundação de Ação Social (FAS), que, em outubro, realizou um mutirão de cadastramento de refugiados por meio Centro de Referência de Assistência Social (Cras). Por meio de nota, a administração municipal informou que “o atendimento da Prefeitura de Curitiba aos venezuelanos acontece dentro de sua rede de serviços, em todas as áreas que necessitem, principalmente de assistência social, saúde, educação”.

A prefeitura afirma ainda que, por meio do Cadastro Único do governo federal, os estrangeiros ganham acesso a benefícios sociais, inclusive o Bolsa Família. Por fim, “quanto a aluguéis de imóveis, a FAS não tem influência por se tratar de uma situação de mercado, independe da vontade do poder público”.

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