Vereadores da base e da oposição de Curitiba comentaram na manhã desta terça-feira (2) a manifestação contra o racismo ocorrida na cidade que terminou em confronto com a polícia e vandalismo na noite de segunda-feira (1º). Houve apoio às críticas feitas pelos manifestantes e repúdio à depredação de patrimônio público e privado e da queima da bandeira nacional que ficava hasteada em frente ao Palácio Iguaçu.
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O primeiro a falar foi o vereador Dalton Borba (PDT), que não mencionou diretamente o protesto em Curitiba, mas, alinhado à pauta da manifestação, lembrou da morte do ex-segurança negro George Floyd, asfixiado pelo policial branco Derek Chauvin em Minneapolis, nos Estados Unidos, no dia 25 de maio. Chauvin manteve seu joelho pressionado sobre o pescoço de Floyd por mais de oito minutos, até a morte do ex-segurança, que, rendido, algemado e deitado no chão, insistia que não conseguia respirar. “Um ato de racismo intolerante que vitimiza toda a humanidade de uma só vez”, nas palavras de Borba.
“Esse fato desencadeia uma série de protestos por todas as partes do mundo, inclusive no Brasil, onde se soma ao movimento de repúdio a práticas absolutistas, ditatoriais e antidemocráticas do chefe do Poder Executivo federal, senhor Jair Bolsonaro”, disse o vereador. “No domingo, 600 dos grandes juristas e pensadores brasileiros lançaram um manifesto contra os reiterados ataques ao Estado democrático de direito”, exemplificou.
O pedetista ainda criticou o projeto de lei 3019/2020, protocolado na segunda-feira (1º), que propõe alteração na Lei Antiterrorismo para tipificar os chamados grupos antifas (antifascistas) como organizações terroristas – a manifestação em Curitiba incluía a participação de autointitulados antifas. “Este é o retrato do desrespeito ao estado democrático, às instituições democráticas. Este é o retrato da intolerância e da força que assola o país.”
Defesa de Bolsonaro
O vereador Osias Moraes (Republicanos), vice-líder do prefeito na Câmara Municipal, utilizou seu tempo para um discurso que misturou o tema racismo com a defesa do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). “Eu, que sou do Nordeste, natural de Manaus, no Amazonas [o estado, na verdade, fica na Região Norte], quando cheguei nesta capital fui sim vítima de racismo”, contou. “Não sou negro, mas fui vítima de racismo de um jornalista que disse que a igreja estava trocando um carioca por um nordestino.” Moraes é pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.
“Nordestino também é vítima de preconceito neste país; também é perseguido”, prosseguiu. “E eu não saí quebrando, não saí por aí tacando pedra na janela de ninguém, não saí por aí querendo matar as pessoas.” O parlamentar emendou uma crítica ao Supremo Tribunal Federal (STF), que, segundo ele, estaria tentando “criar uma narrativa” para incriminar o presidente da República. “Ele tem defendido a democracia”, disse.
Sobre a manifestação do dia 1º, ele se disse indignado. “Queimar a bandeira do Brasil em frente ao palácio do governador do estado é um crime contra um símbolo muito importante”, falou. “Vestidos de preto! Como vamos aceitar uma situação como essa? Não vimos até agora nas manifestações em que o povo se veste de verde e amarelo e vai apoiar seu presidente o quebra-quebra, a baderna.”
Críticas dentro da Constituição
Líder da oposição, a vereadora Professora Josete (PT) apoiou o discurso de Dalton Borba, argumentando que “todos temos de nos colocar a favor da democracia e do respeito às instituições do país”. “Críticas devem ser feitas, mas para isso temos nossa Constituição Federal e todos os caminhos legais para fazer as modificações que a população achar pertinente e necessária”, ponderou. “Aqui em Curitiba queremos garantir o respeito à instituição Câmara Municipal de Curitiba. Isso não significa que temos que concordar com tudo o que acontece aqui nem nos silenciar quando queremos fazer uma crítica. Mas essa crítica pode ser feita de uma maneira educada, digna e cidadã.”
Hino à Bandeira
O vereador Professor Euler (PSD) levou trechos do Hino à Bandeira para repudiar a queima do símbolo nacional ocorrida durante a manifestação. “Sobre a imensa nação brasileira, nos momentos de festa ou de dor, paira sempre a sagrada bandeira, pavilhão da justiça e do amor”, recitou, entre outros versos. “A gente vive realmente um momento de dor no Brasil, com a pandemia, a economia em frangalhos e a crise política. Justamente por isso, é neste momento que a gente deveria pautar nossas ações na justiça e no amor e não na violência e na destruição”, disse.
“Meu melhor amigo é negro”
Assim como Osias Moraes, Paulo Rink (PL) criticou os atos de vandalismo ocorridos durante o protesto de segunda-feira e aproveitou para defender Bolsonaro. “Até que momento vamos colocar a culpa dessa depredação no Bolsonaro? É uma ideologia de certa maneira idiota”, disse. Rink relativizou atos do presidente considerados contrários aos princípios do Estado democrático de direito. “Segundo o vereador Dalton Borba falou, os 600 juristas estão culpando o presidente por não respeitar a constituição. É não respeitar, mas ele não está quebrando nada”, comparou.
“Aquela pessoa que infelizmente faleceu nos Estados Unidos, que não venha a acontecer novamente”, prosseguiu. “A gente tem que combater o racismo, mas não com essa violência”. “Eu, que fui jogador de futebol; meu melhor amigo é um negro. É o Oséas. Ficamos conhecidos Brasil afora; mundo afora, juntos. Ligo para ele toda hora e falo ‘Negão, como você está? Tudo bem com você?’ E eu não estou sendo racista”, disse. “Eles me chamam de Alemão. Meu apelido na turma dos jogadores de futebol é Alemão e nem por isso eles estão sendo racistas comigo.” O parlamentar disse ainda não respeitar “quem quebrou nossa cidade”. “Tem que ter punição exemplar.”
Doentes
A vereadora Noemia Rocha (MDB) relacionou os atos de vandalismo à problemas de saúde mental. “Estamos vivendo uma crise política, uma crise sanitária, uma crise econômica, e as pessoas que já estavam adoecendo estão adoecendo muito mais”, explicou. “É possível que essas pessoas, esses infiltrados, estão realmente – quase que a gente pode afirmar – estão doentes. Só é possível isso.”
“Parabéns à PM”
Já depois de encerrado o Pequeno Expediente, o vereador Ezequias Barros (PMB) pediu a palavra para uma mensagem urgente à Câmara para fazer um agradecimento à Polícia Militar do Paraná (PM-PR) e ao Coronel Péricles de Mattos, comandante-geral da corporação. “Parabenizar a PM pelo trabalho e por não deixar que a coisa ficasse pior”, destacou. “E dizer que quem concorda com esse tipo de vandalismo não merece fazer parte desta Casa”, concluiu, sem deixar claro a quem se referia.
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