Três pescadores de Matinhos, no litoral do Paraná, cortaram em alto-mar uma rede de pesca de 600 metros e valor próximo de R$ 7 mil para salvar uma tartaruga-de-couro, espécie extremamente ameaçada de extinção que vem sendo encontrada morta nas praias do Paraná. A atitude gerou elogio dos biólogos do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM-UFPR).
Em novembro, no prazo de apenas 20 dias, nove tartarugas desta espécie foram encontradas mortas nas praias paranaenses. Também conhecidas como tartarugas gigantes, por chegarem a 2 metros de comprimento e pesarem até 500 kg, de cada mil filhotes que nascem da espécie, apenas uma chega à vida adulta. Isso levou o Ibama a reforçar a fiscalização dos barcos pesqueiros.
- VÍDEO - assista aos pescadores salvando a tartaruga em alto-mar
O salvamento ocorreu por volta das 6h da manhã do último sábado (1.º), quando o pescador Adail João Pinto, de 60 anos, começava o dia de trabalho com dois colegas. “Tínhamos armado as redes na tarde de sexta-feira (30) e, ainda longe, percebemos que a tartaruga estava presa no meio da rede”, disse.
A tartaruga salva media quase dois metros de comprimento e estava assustada. “Enquanto puxávamos a rede para perto da canoa, ela se batia bastante. Aí comecei a cortar a rede com a faca que uso para abrir os peixes. Só que o bicho estava muito agitado e acabava se prendendo ainda mais”, relata. Além disso, o animal é muito forte e machucava o pescador. “Ela deu bastante porrada em mim, mas não desisti”, brincou.
Depois de quase uma hora puxando e cortando a rede, o réptil gigante ficou livre e os pescadores comemoraram o resultado. “Foi emocionante ver a tartaruga se afastar da canoa e saber que fizemos nossa obrigação”, disse Adail, que agora está consertando a rede de 10 m de altura e 600 metros de comprimento. “Pescamos peixes para sobreviver, não queremos machucar outros animais. Meu pai era pescador, meus irmãos são pescadores e todos têm esse cuidado com o meio ambiente”, afirmou.
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O patrão de Adail, Laertes José Santana, de 58 anos, corrobora o discurso de preservação do meio ambiente e não se preocupou em danificar a rede de R$ 7 mil para salvar a tartaruga gigante. “Essa rede é nova, mas o mais importante era salvar o animal, que ainda estava vivo”, afirmou Santana, que segurou a rede enquanto Adail a cortava. “A tartaruga era muito pesada e forte”, completa Santana sobre o trabalho que o bicho deu para ser salvo.
Outros animais
Além de salvar a tartaruga-de-couro, Santana já havia autorizado os outros pescadores que trabalham com ele a cortar a rede quando fossem encontrados animais presos.“Se tivermos a possibilidade de salvar alguma espécie marinha, assim será feito sempre”, enfatiza.
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Entre os animais que a equipe de pescadores já salvou estão um pinguim, um golfinho e até outra tartaruga que chegou a ser reanimada por Adail. “ Tinha visto na televisão como fazia, então coloquei o bicho morto no barco, fiz compressão na tartaruga e ela soltou água, voltou à vida e saiu nadando”, relata Adail.
O terceiro pescador que estava na canoa na madrugada no último sábado, Cláudio Ramos Amorim, 62 anos, filmou todo o salvamento. O vídeo foi divulgado nas redes sociais e, até tarde desta terça-feira (4), já tinha quase 10 mil visualizações e 300 compartilhamentos.
Uma das instituições que compartilhou o vídeo foi o Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná, do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná (CEM-UFPR). “Parabéns a estes pescadores artesanais do Paraná que fazem seu trabalho integrado à preocupação com a conservação da natureza! Esta imensa tartaruga-de-couro agradece e nós também!”, afirmaram os biólogos do laboratório na postagem.
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