Desde que foi assaltado a caminho do trabalho, em abril, o estudante Guilherme Camargo alterou sua rotina no Prado Velho. Até então, ele descia a algumas quadras da empresa de telefonia onde trabalha e ia caminhando até lá. Mas depois de ser mais uma vítima de violência, sua carona passou a dar uma volta muito maior para poder deixá-lo em frente ao seu destino final. E ele não foi o único a mudar seu dia a dia por causa da onda de assaltos que já se tornou comum na região. Estudantes da PUC, moradores e comerciantes tiveram que se adaptar para não serem vítimas da violência ou para não voltarem a sofrer nas mãos dos bandidos. Eles dizem que são obrigados a “conviver” com a criminalidade.
Basta um rápido passeio pelo bairro para perceber como o medo e a vigilância são constantes. Universitários aguardam ansiosos nos pontos de ônibus, alguns escondidos dentro dos portões da instituição enquanto esperam o transporte. Em cada um desses portões, um segurança acompanha quem entre e quem sai. Nas lojas, a presença de vigilantes é questão de necessidade.
Jaques Douglas atua há nove anos como segurança em uma panificadora do bairro e diz que o comércio local depende desse tipo de serviço. E, mesmo assim, as tentativas de assaltos são bastante comuns. “Ontem tentaram roubar a loja. Só não conseguiram porque viram os seguranças e acabaram desistindo”, relata.
Às escuras
A má iluminação das ruas perto da universidade (foto) apenas agrava a situação. Durante a noite, vias de acesso a pontos de ônibus ou estacionamentos são tomados por uma escuridão que serve de abrigo para criminosos ou mesmo para usuários de drogas, que vagam pelas ruas em busca de um ou outro trocado.
“As árvores atrapalham bastante”, aponta o segurança Jaques Douglas , que trabalha na região. “Elas não são podadas e bloqueiam a iluminação dos postes. Fica tudo mais escuro”.
Para Douglas, a instalação de um módulo policial na esquina das ruas Imaculada Conceição e Guabirotuba não resolveu o problema. “Ainda tem assalto que acontece na frente do posto e eles não fazem nada”, conta. Durante as quase duas horas que a reportagem da Gazeta do Povo esteve no Prado Velho, nenhuma viatura da Polícia Militar foi vista patrulhando a vizinhança.
Crimes mudaram de endereço
Para um dos vigilantes da PUC, que não quis se identificar, a presença policial ajudou a minimizar as ocorrências em frente à universidade. Em compensação, isso fez com que as ocorrências passassem a ser registradas nas ruas próximas, como a Comendador Roseira, Iapó e a Jóquei Clube. Não por acaso, o estudante Guilherme Camargo passou a dar uma volta muito maior para evitar esses trechos.
Ainda assim, há quem ainda se apegue a velhos comportamentos, mesmo que isso o transforme em uma vítima em potencial. Para o segurança, é muito comum ver pessoas caminhando com o celular em mãos durante o trajeto, mesmo durante a noite. “É algo que chama a atenção do bandido. A gente fala para tomar cuidado, mas eles continuam. Depois que acontece algo, é tarde”.
Por causa disso, o vigilante da PUC diz ter desenvolvido uma técnica para tentar evitar que novos assaltos aconteçam. “Sempre que a pessoa precisa ir à noite pelo bairro, a gente sugere caminhos e avisa outros seguranças pelo rádio para que eles fiquem de olho. Assim, a gente acompanha quase todo o trajeto”, conta. Porém, apesar da boa vontade, nem sempre é possível evitar que mais alguém seja vítima. “Na semana passada, uma menina estava indo embora quando dois homens passaram de moto e levaram sua bolsa”.
“Boom” de usuários de drogas
Apesar de o número de assaltos assustar e forçar novos comportamentos, a principal reclamação está na grande quantidade de usuários de drogas que vagam pelas ruas do Prado Velho. Como explica o jornaleiro Marcos Gomes de Lima, houve uma “explosão” de pessoas em situação de rua na região nos últimos anos. Na grande maioria das vezes, segundo ele, são usuários de drogas que pedem moedas para quem está esperando o ônibus ou saindo de alguma loja próxima.
O segurança Jaques Douglas diz que algumas dessas pessoas se tornam “conhecidos” por frequentarem a região. “Mas eles intimidam e assustam muitos clientes. Às vezes, quando veem meninas sozinhas, tentam assaltar”, afirma
Outro lado
Já a Polícia Militar informou que o policiamento ostensivo é feito na região diuturnamente e que há uma companhia situada nas proximidades da PUC. A corporação pede ainda que os crimes sejam registrados por meio de boletim de ocorrência. Leia abaixo a nota da PM na íntegra.
Procurada, a prefeitura informou que uma equipe da Secretaria Municipal de Obras Públicas iria até a região do Prado Velho ainda nesta quarta-feira (7) para verificar a situação. Destaca ainda que a região recebeu, em 2016, um projeto para melhorar a iluminação nas ruas próximas à universidade para “substituir as lâmpadas amarelas (vapor sódio) por lâmpadas de luz branca (vapor metálico), que melhoram a sensação de luminosidade” e que, nas reclamações feitas pelo 156, há apenas um pedido sobre postes apagados.
Já a PUCPR informou que conta com equipe de segurança terceirizada, que é responsável pelo monitoramento nas entradas do campus e que também faz ronda nas dependências da universidade com a utilização de motos e bicicletas. A instituição disse que o acesso aos estacionamentos é controlado.
Ainda de acordo com a universidade, a comunidade acadêmica conta com um número de telefone próprio - que funciona 24h - para o caso de emergências e, quando elas ocorrem, um segurança é enviado para o local imediatamente. A PUCPR ressaltou também que “estreita relações com as autoridades locais por meio de parcerias institucionais, visando garantir mais segurança à comunidade acadêmica”.
“A 5ª Companhia do 12º Batalhão, que atende a região, construída em parceria com a PUC, informa que o policiamento ostensivo e preventivo está sendo feito diuturnamente com os meios humanos e materiais que possui nas imediações da universidade e no bairro Prado Velho como um todo. As ações focam, principalmente, horários de entrada e saída de alunos.
A Companhia está situada na esquina das ruas Imaculada Conceição com Guabirotuba, próximo à PUC, e está à disposição dos alunos e moradores que queiram passar informações ou precisem de algum auxílio da PM, tanto pelo telefone 190 quanto na sede da unidade, onde um policial militar poderá ouvi-los e dar os encaminhamentos necessários de acordo com cada caso.
A PM também pede que alunos e moradores registrem o Boletim de Ocorrência, importante ferramenta que embasa a PM na readequação do policiamento. As pessoas também podem fazer denúncias, repassando características dos suspeitos via 181 Disk-Denúncia.”
Vai piorar antes de melhorar: reforma complica sistema de impostos nos primeiros anos
Nova York e outros estados virando território canadense? Propostas de secessão expõem divisão nos EUA
Ação sobre documentos falsos dados a indígenas é engavetada e suspeitos invadem terras
“Estarrecedor”, afirma ONG anticorrupção sobre Gilmar Mendes em entrega de rodovia
Deixe sua opinião