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| Foto: Bope/Divulgação

Um dia depois de a violência no transporte público transbordar com um tiroteio que acabou na morte de uma passageira de 24 anos dentro de um ônibus na região metropolitana de Curitiba (RMC), a Polícia Militar (PM) decidiu reforçar o policiamento nos coletivos com uma operação do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Nas ruas, a meta das equipes é ajudar a conter a ocorrência desenfreada de crimes que há dois meses fez exceder o medo em cobradores, motoristas e em quem usa os ônibus como meio de transporte.

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Medo: casos que expõem a insegurança nos ônibus em Curitiba

As fiscalizações em ônibus de Curitiba e da RMC começaram na segunda-feira (25) - um dia antes de a Secretaria de Estado de Segurança Pública e Administração Penitenciária (Sesp) anunciar, em reunião, medidas de policiamento para ajudar no controle da situação. No encontro desta terça (24), no entanto, a secretaria , mas não chegou a mencionar que equipes do Bope já estavam nas ruas.

Segundo informações do próprio batalhão, as ações envolvem “batidas” dentro dos ônibus. As ações, a partir de agora, são feitas diariamente, de dia e à noite, e se encaixam dentro do patrulhamento rotineiro das equipes. Até a manhã desta quarta, o Bope ainda não tinha um levantamento de abordagens e apreensões feitas. Não há uma data estabelecida de até quando o reforço será feito.

Pavor

Motivo de constantes protestos por parte dos motoristas e cobradores nos últimos dias, a violência dentro dos coletivos é companheira frequente dos passageiros que, ou já foram assaltados, ou conhecem alguém próximo que tem uma história triste para contar.

No começo desta semana, conversamos com 13 pessoas de diversas idades e profissões na Praça Rui Barbosa e no Terminal do Guadalupe, em Curitiba, e apenas uma delas disse nunca ter testemunhado nenhum tipo de violência. Seis pessoas entrevistas já foram roubadas e viram outras pessoas passarem pela mesma situação e outra seis nunca foram roubadas, mas já viram roubos ou furtos aconteceram enquanto estavam dentro do ônibus

O medo da maioria é de agressão ou algo pior, como no caso da menina morta neste final de semana. “Ontem eu vi o caso daquela moça que morreu. Só ficamos com mais medo a cada dia”, lamentou a aposentada Nair Cordeiro, de 67 anos. Ela contou que já teve objetos roubados de dentro da sua bolsa e por pouco não testemunhou uma tragédia.

“Dois homens entraram no Quississana [linha], que aliás é um dos piores que existem, e renderam o motorista e o cobrador. Um apontou a arma para o cobrador e outro pro motorista. Disse que se ele tentasse algo, estourava os seus miolos. Escondi minha bolsa embaixo das pernas e esperei o pior”, contou Nair, lembrando que os bandidos roubaram o dinheiro do caixa e fugiram.

Antes, porém, os bandidos falaram algo que ficou marcado na memória da aposentada. “Roubaram e chamaram o motorista de vagabundo. Nada justifica uma atitude dessas. Vem roubar gente de bem, trabalhadora, e ainda chama a gente de vagabundos”.

Nesta mesma linha os relatos são frequentes, como o da aposentada Geni da Silva, de 65 anos. Ela acompanha a filha todos dias de casa ao trabalho por medo de deixá-la sozinha nos coletivos. “Direto tem arrastão. Esses dias minha amiga disse que saíram do ônibus com uma sacola de celulares. Eu carrego o celular aqui (apontando para o sutiã) ou dentro da bota. Estão roubando demais na nossa região”.

Pelos relatos colhidos pela reportagem, os bandidos normalmente agem em dois ou mais. Em alguns casos, um distraí a vítima enquanto o outro usa de habilidade para furtar carteiras e celulares das bolsas. Em outros casos é a rapidez dos bandidos que surpreende. Eles aproveitam a distração de passageiros que estão mexendo com o celular ou com mochilas nas costas para praticar os furtos.

“E uma sensação horrível de insegurança. Antes se você fosse assaltada na rua, como eu já fui, corria para dentro do ônibus para se sentir segura. Hoje não dá mais. Eu já presenciei vários roubos. Não podemos vacilar”, explicou a zeladora Inês Viana, de 59 anos.

Todo mundo em risco

Além de aposentados, os alvos preferidos são os jovens, geralmente mais distraídos. “Eu já fui roubada. Uma vez minha mãe me ligou umas três vezes enquanto eu estava no ônibus e acho que o cara viu. Eu tinha uma bolsa grande e guardava num buraquinho que tinha. Na saída, naquele empurra-empurra, ele pegou. O meu e de outra mulher”, lamentou Amanda Rodrigues, de 19 anos.

A sobrinha de Amanda, por exemplo, já perdeu três celulares, todos na linha Circular Sul. “Ela tem só 16 anos e já foi roubada três vezes. Eu já vi outras pessoas também sendo roubadas. Está impossível, todo mundo se sente inseguro. Piorou demais de uns tempos pra cá”, reclamou a estudante, que revela sua estratégia para tentar escapar da bandidagem.

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