Pacientes das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) de Curitiba poderão ter acesso a internet gratuita enquanto aguardam por avaliação médica — espera que pode levar horas em alguns casos. O plano é instalar sistemas de rede Wi-Fi nas nove unidades da capital em um modelo semelhante à conexão prometida no transporte público da cidade, projeto que vem sendo discutido desde 2016, mas que até agora não saiu do papel.
O edital do Wi-Fi grátis nas UPAs foi publicado pela primeira vez no último mês de abril, mas nenhuma empresa se mostrou interessada em patrocinar a ideia. No entanto, segundo a Urbs, gestora do sistema de transporte de Curitiba, a proposta será relançada no mesmo edital que vai definir o fornecedor do serviço de internet nos terminais de ônibus da cidade.
A intenção é de que o documento seja lançado até o fim de 2019 e oferte instalação e a manutenção da rede em troca de exploração publicitária. Isso quer dizer que o serviço não geraria custos aos cofres do município e que, como contrapartida, a empresa vencedora do certame poderia fazer publicidade em pontos de ônibus, nas televisões dos coletivos e em painéis de mídia digital espalhados pela cidade.
Menos dor?
Apesar de a justificativa da prefeitura para levar Wi-Fi às unidades é de que a oferta conversa com os novos serviços públicos disponibilizados por meio de aplicativos de celulares, usuários veem na proposição uma tentativa de minimizar as reclamações por causa do tempo de espera para atendimento médico - ponto contestado pela própria prefeitura. Não é raro que, em alguns casos, pacientes aguardem até quatro horas para chegar ao diagnóstico.
"Acho que isso é para ludibriar as pessoas e vai funcionar para quem gosta de perder tempo na internet. O que você quer dentro de um posto de saúde é ser atendido rápido", opina o construtor Osiel Barbosa, 46 anos, enquanto aguardava atendimento na UPA do Cajuru.
Embora o tempo até ao médico tenha surpreendido — pouco mais de dez minutos em uma unidade curiosamente vazia —, o construtor afirma que já chegou a desistir de aguardar por atendimento na mesma unidade por causa da fila imensa. "É sempre bastante demora, então para quem gosta de internet, claro, fica aí e não se preocupa com a dor. Hoje, se já tivesse, eu ficava mais duas horas", brincou.
O porteiro Sergio Henrique Wojciechowski, 48 anos, aprova a ideia, mas também acredita que a iniciativa tem uma "segunda intenção". Acompanhando um amigo idoso na UPA do Cajuru, ele contou já ter esperado por mais de três horas por atendimento na unidade. "É legal para quem tem que enfrentar isso sempre lotado. Tem tanta internet gratuita por aí e não custava ter nas UPAs também. Acho que, se tivesse, o pessoal ia se distrair, esquecer um pouquinho da dor e reclamar menos".
A Secretaria Municipal de Saúde, no entanto, contesta que a demora seja um aspecto frágil no público de saúde da cidade. Conforme a pasta, o monitoramento do tempo de aguardo nestas unidades atende a critérios internacionais de classificação de risco dos pacientes, o que significa acolhimento sem espera para pacientes de emergência e muito urgente.
Além disso, segundo a pasta, entre janeiro e julho de 2019, o tempo médio de espera para pacientes urgentes foi de 28 minutos; pouco urgentes 1h14 min e não urgente cerca de 1h50min - tempo em acordo com o estabelecido em protocolos internacionais, que é de 1 hora em casos urgentes; 2 horas em pouco urgentes e 4 horas em não urgentes. "Os atendimentos nas UPAs de Curitiba são realizados, em média, na metade do tempo máximo preconizado por protocolos internacionais de classificação de risco", ressaltou, em nota, a SMS.
Nos ônibus
Assim como nas UPAs, a prefeitura também se comprometeu a levar wi-fi gratuita para os ônibus de Curitiba - promessa antiga que até agora não se concretizou. Desde 2016 são feitas tentativas de implantação do sistema no transporte público. Naquele ano, a rede foi testada no terminal do Capão Raso e em um veículo da linha Santa Cândida/Capo Raso, mas foi reprovada.
No início de 2019, o prefeito Rafael Greca (DEM) prometeu o serviço a pedido do governador Ratinho Júnior. Logo depois, a conexão começou a ser testada no Terminal do Pinheirinho e em alguns tubos do Centro da capital, como nas praças Rui Barbosa e Carlos Gomes.
De acordo com a Urbs, os testes de wi-fi continuam no Pinheirinho e a intenção é adotar os serviços de internet nos tubos da linha Santa Cândida –Praça do Japão por meio do mesmo edital que quer levar o acesso para as UPAs. Quanto à internet dentro dos ônibus, a Urbs afirmou que vem fazendo alguns testes, mas a medida depende de parceria, que está em estudo, com as empresas de ônibus.