Dentro do movimento antimanicomial, do qual o psiquiatra Wirmond Luiz Rocha D’Angelis fez parte desde que ingressou na área da saúde, nos anos 80, a quebra do preconceito contra o paciente de saúde mental foi a questão que ele mais destacava. Afirmação difícil de ser elencada, já que Wirmond – falecido em janeiro deste ano aos 56 anos, em decorrência de um câncer de pele – foi liderança em várias frentes da luta que defende a humanização do tratamento a esses pacientes e seu direito à liberdade e à vida em sociedade. Fato é que, por causa dele, essa mudança de perspectiva sobre os pacientes acontecia até mesmo com a visão que eles tinham sobre si mesmos.
Pelo receio em relação à receptividade da sociedade a esses pacientes, é incomum que eles falem sobre sua condição a públicos desconhecidos. Wirmond trabalhava para que houvesse, junto com o tratamento, aceitação por parte deles mesmos e das pessoas ao redor. Durante as homenagens após sua morte, por exemplo, vários de seus pacientes compareceram e relataram quem eram, mostrando que esse progresso vinha de dentro do consultório.
Natural de Arapongas (PR), por causa do trabalho do pai como servidor público, a família morou em diferentes cidades até fixar residência em Curitiba, onde Wirmond formou-se em medicina pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) em 1985. No ano seguinte, já com especialidade em psiquiatria e homeopatia, foi aprovado em concurso público municipal e passou a atuar como médico psiquiatra da Prefeitura de Curitiba. Também pela PUC, concluiu pós-graduação em Saúde Mental Comunitária.
Atuou em hospitais psiquiátricos de referência na cidade, foi membro da Associação Paranaense de Psiquiatria, diretor geral do Centro Psiquiátrico Metropolitano de Curitiba e respondeu pelo Programa de Saúde Mental em Curitiba entre 1999 e 2004. Segundo ele mesmo, buscava “tratamentos que promovam a recuperação, reabilitação, reinserção social e formação profissional, tornando possível a convivência na família e que eles se mostrem socialmente úteis, respeitando os limites de cada um”.
O médico se preocupava de forma mais ampla com o bem-estar do paciente, com concentração não apenas em medicar e regular dosagens de remédios. “Ele atuava como uma mistura de psiquiatra e psicólogo. Trabalhava a aceitação dos pacientes em ter uma condição de transtorno mental. Ele era muito acolhedor e amável nas consultas, que duravam uma hora, tempo incomum para a área dele”, conta a esposa de Wirmond, a dentista Marici da Silva D’Angelis.
Suas três grandes paixões pessoais eram compartilhadas com os irmãos Wagner, Waldir e Wilmar. A música, praticada desde cedo por eles, suscitou durante toda a vida cantoria conjunta durante os encontros de família, com Wilmond, canhoto, empunhando o violão. O incentivo da mãe professora alimentou a criação de poesias, que mais tarde seriam expostos entre amigos e em “varais de poesia” para o público. E por último o mar. “Esse era um gosto que estava na alma e nas raízes da família. Ir à praia era ritual de todos os irmãos, um prazer coletivo”, lembra o irmão Wagner. Wirmond deixa esposa, três filhas, dois genros e dois netos.
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