Na última quarta-feira, Larry Page completou 100 dias no comando do Google. Nesse período, o buscador lançou um notebook com sistema operacional próprio, aumentou a presença do seu botão Curtir (+1), anunciou uma ferramenta que promete transformar o telefone celular em cartão de crédito, apresentou um serviço de músicas on-line, mudou o visual de sua página inicial e, além de outras novidades, lançou o Google+.
Dentre tantas mudanças, o Google+, ou Plus, é o projeto que mais representa os rumos que o buscador começou a tomar desde que o cofundador do Google voltou ao comando da empresa que criou há quase 13 anos.
Ao lado de Sergey Brin, Page foi responsável pelos algoritmos iniciais que definiam a relevância de um site nos resultados de busca. Page retorna em um momento em que o Google muda a forma como encara seu objetivo de organizar todas as informações do mundo agora, pensando também no lado social e pessoal da internet.
O desenvolvimento do Google+ teve início há mais de um ano com o codinome "Emerald Sea" (Mar de Esmeralda), como relatou em uma recente reportagem publicada no site da revista Wired, o veterano jornalista de tecnologia Steven Levy, autor do livro In The Plex, sobre o Google.
O tamanho do projeto do Plus descrito no livro mostra a importância que o Google está dando à tentativa de tornar seus serviços mais sociais e, enfim, reagir ao Facebook e ao Twitter. Ao todo, 18 produtos do Google devem ser integrados às ferramentas sociais do Plus e mais de cem novidades são esperadas para este ano. Trinta equipes de engenharia fazem parte do desenvolvimento e são lideradas pelos principais nomes da empresa, como os vice-presidentes Vic Gundotra e Bradley Horowitz.
O visual do Plus e seus círculos ficou a cargo de Andy Hertzfeld, o designer conhecido como "mago do software", o mesmo que criou a interface do sistema dos computadores Macintosh para a Apple nos anos 1980. Ele trabalha no Google desde 2005.
O desafio é tanto que uma das primeiras medidas de Larry Page como CEO do Google foi decretar que 25% do bônus de fim de ano aos funcionários vai depender do desempenho da empresa nas ferramentas sociais.
Racional
O Google passou quase 13 anos buscando dar às pessoas a resposta mais relevante e isenta possível. Agora, com o Google+, aponta para a percepção de que uma pergunta a amigos no Facebook ("Quero fazer uma lasanha. Dicas?") pode ser mais útil do que uma busca ("receita de lasanha"). A proposta é criar esse tipo de interação pessoal também dentro dos serviços do buscador.
"O Plus não é um produto isolado", diz Felix Ximenes, diretor de comunicação do Google no Brasil, falando, em seguida, de um ideal bastante semelhante ao do Facebook: "Para a gente, não é uma rede social. É como a internet será nos próximos anos, agregando componentes sociais na navegação. Da busca ao compartilhamento de vídeos, fotos, mensagens, notícias. Tudo que fazemos na web, mas de uma forma mais natural".
O executivo nega que essa concepção tenha relação com a troca de comando no Google, mas reconhece que ambas as novidades estão relacionadas com a visão do Google de "como a rede deve ser". "Tem de ser rápida, tem de refletir o desejo do usuário, tem de refletir as tendências do momento", diz. Questionado sobre a importância da área social para o Google neste ano, ele afirma: "Vai ser um ano agitado".
Desafios
Larry Page assumiu o Google no início de abril no lugar de Eric Schmidt, que foi presidente-executivo por dez anos. Ele comandou o enorme crescimento da empresa, quando passou de líder de buscas ao posto de maior empresa de internet do mundo. Só no primeiro trimestre, o faturamento foi de US$ 8,6 bilhões (R$ 13,46 bilhões).
Dez anos depois, porém, o buscador sofria as consequências burocráticas de ser uma empresa de 24 mil funcionários, coisa que os fundadores sempre quiseram evitar. Além disso, à medida que o Google expandiu sua área de atuação, ganhou concorrentes líderes em seus setores. O principal deles, segundo o próprio Google, é a Microsoft.
"A mudança de cargo do Larry é muito mais uma melhoria na velocidade em que a empresa trabalha", afirma Ximenes. "A companhia sempre se viu muito como uma startup. Quando ele assumiu, a proposta era não apenas manter esse espírito, mas também ter uma estrutura de trabalho ágil o suficiente para acompanhar o ritmo das inovações."