Em março, Brasil tinha 41,2 milhões de empregados formais e 18 milhões de famílias recebendo Auxílio Brasil.| Foto: Leonardo Sá/Agência Senado
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Em 13 das 27 unidades federativas do Brasil o número de famílias que recebem o Auxílio Brasil é superior ao total de carteiras de trabalho assinadas. Todos os estados nessa situação ficam nas regiões Norte e Nordeste, de acordo com dados de março de 2022 do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, e do Auxílio Brasil, do Ministério da Cidadania.

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Naquele mês, o quadro foi observado em todos os nove estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), além de quatro dos sete estados do Norte (Acre, Amapá, Amazonas e Pará). Juntas, as duas regiões concentraram 76,3% das famílias que receberam o pagamento em março.

Ao todo, o Brasil tinha 41,2 milhões de empregados formais no mês, enquanto o total de famílias que recebeu uma parcela do programa de distribuição de renda foi de 18 milhões. Havia ainda uma demanda reprimida de 1,3 milhão de famílias que não receberam o pagamento embora atendessem aos critérios do programa, segundo cálculos do jornal “O Estado de S.Paulo” a partir de estudo da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

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Os dados do Caged referem-se a contratos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e, portanto, não incluem servidores públicos do regime jurídico único, os chamados estatutários.

Em maio, a Gazeta do Povo revelou que na maioria das cidades do país o total de beneficiários do Auxílio Brasil é maior que o estoque de empregos formais.

O quadro é verificado, mais precisamente, em 2.892 das 5.570 cidades do país (51,9%), também com concentração maior no Nordeste e no Norte. Em 1.695 das 1.794 cidades nordestinas o número de beneficiários do Auxílio Brasil supera o total de empregados com carteira assinada, o que corresponde a 94,5% dos municípios. No Norte, esse índice é de 83,5%, com 376 das 450 cidades nessa situação.

O mapa a seguir mostra os estados com preponderância de beneficiários do Auxílio Brasil, e aquelas onde há maioria de empregados formais. Confira ao fim da reportagem a lista completa de estados e regiões do país com o número de beneficiários do Auxílio Brasil e empregados formais em cada um:

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Têm direito a receber o benefício famílias em situação de extrema pobreza, ou seja, com renda mensal per capita de até R$ 105, ou de pobreza, com ganhos de até R$ 210 por pessoa. Um trabalhador com carteira assinada pode receber o Auxílio Brasil, mas, para isso, deve se enquadrar em um desses critérios.

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Diretor da FGV Social e fundador do Centro de Políticas Sociais, o economista Marcelo Neri explica que Norte e Nordeste são áreas que se caracterizam por oportunidades de trabalho de mais baixa qualidade.

“Não só são áreas mais pobres e que, portanto, têm mais necessidade de auxílio, como também têm uma outra face, que é onde há muito emprego informal, emprego precário”, diz.

“O emprego informal explica parte desse descompasso. Não é que as pessoas não trabalham; muitas vezes elas não ganham o suficiente para sustentar suas famílias. Precisam do auxílio porque não têm oportunidade de conseguir um emprego de qualidade, produtivo e sustentável”, avalia.

Para ele, a preponderância de beneficiários sobre o número de empregados revela um desequilíbrio incapaz de se sustentar no longo prazo e, por outro lado, sugere haver uma tendência.

“A gente teve uma pandemia, e o emprego formal foi afetado, embora depois tenha se recuperado. Mas houve uma grande recessão e, ao mesmo tempo, o Auxílio Brasil representou uma expansão em relação ao Bolsa Família. Então não estamos falando só de uma fotografia de mais benefícios do Auxílio Brasil do que emprego formal, mas também é um pouco a tendência do que aconteceu nos últimos tempos”, diz Neri.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]

Número de empregados formais e beneficiários do Auxílio Brasil, por estado (março de 2022)

UFEmpregados formaisBeneficiários Auxílio BrasilMais beneficiários que empregados
Acre88.574111.112SIM
Alagoas364.976483.586SIM
Amapá71.71498.843SIM
Amazonas450.027482.539SIM
Bahia1.829.3152.240.774SIM
Ceará1.201.6121.311.545SIM
Distrito Federal847.853117.448NÃO
Espírito Santo787.501265.897NÃO
Goiás1.348.668408.248NÃO
Maranhão530.8261.107.306SIM
Mato Grosso807.406219.085NÃO
Mato Gorsso do Sul579.159176.105NÃO
Minas Gerais4.369.9881.412.861NÃO
Pará824.2011.157.016SIM
Paraíba432.990620.775SIM
Paraná2.868.528513.368NÃO
Pernambuco1.286.9981.442.493SIM
Piauí303.237544.945SIM
Rio de Janeiro3.267.4951.349.567NÃO
Rio Grande do Norte437.802443.398SIM
Rio Grande do Sul2.617.547499.889NÃO
Rondônia251.345103.949NÃO
Roraima65.46858.257NÃO
Santa Catarina2.325.674178.896NÃO
São Paulo12.817.2462.175.017NÃO
Sergipe281.710353.261SIM
Tocantins203.483145.645NÃO
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Fonte: Caged/MTE; Ministério da Cidadania

Número de empregados formais e beneficiários do Auxílio Brasil, por região (março de 2022)

RegiãoEmpregados formaisBeneficiários Auxílio BrasilMais beneficiários que empregados
Norte1.954.8122.157.361SIM
Nordeste6.669.4668.548.083SIM
Centro-Oeste3.583.086920.886NÃO
Sudeste21.242.2305.203.342NÃO
Sul7.811.7491.192.153NÃO

Fonte: Caged/MTE; Ministério da Cidadania