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2 mil haitianos vivem “sonho curitibano”

Reginald Alfred, 29 anos: psicólogo e comunicador no Haiti, ele trabalha como atendente de produção no restau­­rante Karina | Bruno Covello/Gazeta do Povo
Reginald Alfred, 29 anos: psicólogo e comunicador no Haiti, ele trabalha como atendente de produção no restau­­rante Karina (Foto: Bruno Covello/Gazeta do Povo)
Sony Sylvéus, 28 anos: contador no Haiti:

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Sony Sylvéus, 28 anos: contador no Haiti:

Difícil andar pelo centro de Curitiba e não ver um haitiano. Hoje, segundo estimativas da Pastoral do Migrante, há mais de 2 mil circulando pela cidade e pela região metropolitana, dos quais 60% homens com idade entre 20 e 40 anos. Educados e solícitos, eles deixam a capital mais simpática e movimentam o mercado de trabalho, carente de mão de obra no setor construção civil, e a própria economia.

Jean Peoul, 24 anos, é um deles. Conseguiu trabalho como ajudante de obras logo que chegou a Curitiba, há um ano e dois meses. Pouco tempo depois, teve uma promoção e virou pedreiro. "Percebi que quando a pessoa estuda aqui no Brasil, ela cresce profissionalmente", diz.

Peoul fez um curso oferecido pelo Senai-PR. Com a promoção, viu o salário aumentar para R$ 1,8 mil. "Já consegui comprar geladeira, colchão e um celular de R$ 200, tudo à vista, pois não quero ficar pagando juros", conta Peoul, que vive em uma casa alugada em Pinhais. A cada dois meses, ele envia R$ 400 para sua mãe e sua irmã, que ainda moram no Haiti.

Câmbio movimentado

A remessa de dinheiro para o país tem movimentado as casas de câmbio na cidade. Na Fair Câmbio, localizada no Shopping Itália, o envio mensal é de R$ 300 mil, segundo a atendente Mara Silva. Quanto maior o valor, maior a taxa. A cada R$ 100, a agência cobra R$ 10 mais R$ 0,93 de IOF. No fim do mês, o lucro bruto mínimo da corretora é de mais de R$ 30 mil. "Alguns vêm aqui todo dia para mandar dinheiro", conta Mara. Na corretora, o Haiti representa 80% de tudo o que é enviado ao exterior, seguido do Líbano e do Equador.

Na Flex Câmbio, no mesmo shopping, são enviados R$ 500 mil por mês ao Haiti. "Do dia 5 ao dia 15 do mês, vêm até aqui 100 haitianos por dia, em média. Do começo do ano pra cá, o atendimento aumentou em 150%", relata a atendente Maria Helena Cochinski.

Para Peoul, o Brasil é um local de oportunidades, onde não falta emprego, e daqui ele não sai. O país, no entanto, tem um problema: a comida. "Arroz com feijão é bom, mas enjoa comer todos os dias. Além do mais, é muito caro. Eu gasto mais de R$ 300 (valor do seu vale alimentação) por mês para me alimentar", diz.

Da construção civil ao fast food

A Agência do Trabalhador de Curitiba atende de 10 a 15 haitianos por dia. Eles são contratados principalmente para a construção civil, como é o caso de Jean Peoul, e por redes de supermercado e de fast food.

O Kharina, por exemplo, já tem 27 haitianos em seu quadro de funcionários. Reginald Alfred, 29 anos, está na rede desde março. Ele é atendente de produção, ganha R$ 1,4 mil e já conseguiu comprar eletroeletrônicos e eletrodomésticos. "Adquiri tudo o que preciso para viver. Tenho até computador e internet", conta.

Ele mora em uma casa alugada e paga R$ 350 por mês, mas não pretende ficar por aqui por muito tempo. "Quero viajar e conhecer o mundo", conta Alfred, que já viveu no Peru, Panamá e até no Peru. Aqui ele é um atendente, mas no Haiti era psicólogo e comunicador.

Sony Sylvéus, 28, está no Kharina faz um ano. Contador no Haiti, ele foi contratado como atendente de salão na rede. Com o salário de R$ 1,8 mil, conseguiu adquirir vários bens. Mas o que ele quer mesmo é crescer profissionalmente. "Quero uma carreira ascendente. O Brasil precisa dar mais oportunidades para o meu povo, como um dia deu para os japoneses, alemães, italianos e outros que moram aqui."

Sylvéus, como outros haitianos de Curitiba, colocam a educação como prioridade. "Às vezes ouço os brasileiros dizerem ‘vou juntar dinheiro para comprar um carro’ e falo: ‘Mas, poxa, por que você não investe em estudo?’’’

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