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Curitiba – No Brasil, computador ainda não é commodity. Tal afirmação soa estranha em um primeiro momento, por parecer óbvia demais. Mas o fato é que a indústria local, ao contrário do que ocorre nas grandes potências, ainda aposta em diferenciais de qualidade importantes na produção dos equipamentos físicos (hardware), que fazem deles mais do que mera mercadoria e valorizam as marcas que carregam.

Na semana passada a consultoria International Data Corporation (IDC), especializada em tecnologia da informação, divulgou seu estudo sazonal sobre o mercado brasileiro. Para surpresa geral, a venda de PCs (computadores pessoais) no país atingiu um recorde histórico no primeiro semestre, com 2,5 milhões de máquinas vendidas – um crescimento de 44% em relação ao mesmo período de 2004. "Vários fatores motivaram esse movimento", afirma o relatório da IDC. "Merecem destaque a atuação da Receita Federal, que coibiu o contrabando, a MP do Bem (n.º 232), que isentou os fabricantes do PIS/Cofins, e as opções de sistemas operacionais, que reduziram ainda mais os preços dos PCs."

Apenas para efeito de comparação, as vendas de microcomputadores nos Estados Unidos cresceram, nos últimos anos, a uma média de 1,5% ao ano – taxa que pode ser interpretada como mera reposição de equipamentos obsoletos.

A novidade mais interessante evidenciada na pesquisa, porém, está no recuo dos PCs piratas no varejo nacional. Apesar de ainda dominar as vendas no Brasil, com 65% do mercado total, o "mercado cinza" (ou "grey market") – como é conhecida a fatia dos montadores de computador que sonegam impostos, compram peças contrabandeadas e/ou equipam seus modelos com softwares piratas – diminuiu em 9 pontos porcentuais de janeiro a junho de 2005.

O gerente-geral da Lenovo do Brasil, Flávio Haddad, afirma que o grande benefício trazido pela MP 252 foi exatamente a chance de competição do mercado formal frente aos "grey". "Os informais sobrevivem porque conseguem vender produtos similares até 30% mais baratos, por meio do não recolhimento de impostos e dos custos menores – com peças muitas vezes contrabandeadas", afirma. "Hoje, com os incentivos fiscais, a diferença já caiu para algo como 20%." Quando o consumidor põe na balança fatores como a falta de assistência técnica e garantia, além das limitações cada vez maiores aos sistemas operacionais e programas piratas, ele acaba freqüentemente optando pelo PC legalizado.

Esse é o caso de Elis Regina Szalbot. Há mais de dois anos, ela e o ex-marido planejavam comprar um computador, principalmente para que os filhos, Éder e Evandro, pudessem fazer trabalhos escolares na máquina. Oito dias atrás, um técnico instalou na sala o primeiro PC da família, comprado por R$ 2,4 mil (parcelados em 8 prestações). "Já sei redigir textos, montar tabelinhas no Excel e gravar CDs. Quero ver se faço um curso de digitação, para ficar mais rápida", anima-se Elis, que, no momento, está desempregada. "A próxima coisa será instalar a internet", adianta.

Com uma grande demanda reprimida e altíssima exclusão digital, que tenta vencer com programas oficiais de financiamento ainda tímidos, o Brasil está no caminho inverso da indústria internacional da informática. Há cinco anos, os grandes fabricantes vêm mudando seu foco drasticamente: de um lado, quem fabrica hardware se esforça para diversificar sua atividade e deixar de fazer exclusivamente os componentes físicos que fazem parte do equipamento eletrônico; do outro, desenvolvedores de softwares (programas, sistemas operacionais e jogos) e de conteúdo para a internet se tornam as grandes potências da tecnologia.

Nada mais emblemático para essa movimentação do que a venda da divisão de PCs da IBM para a chinesa Lenovo, ocorrida no ano passado. A "gigante azul", como é conhecida a multinacional norte-americana, havia percebido que as margens de lucro no mercado de computadores pessoais era muito baixa – e tendia a diminuir ainda mais – para continuar investindo ali. "Qualquer fábrica de garagem pode vender computadores", é o pensamento dominante no mundo inteiro.

Pensar de forma diferente e insistir na viabilidade de continuar produzindo hardware acabou por destronar, em fevereiro último, a toda-poderosa executiva-chefe da HP, Carly Fiorina. Ela acreditou – e vendeu a idéia a outros acionistas – que a compra da fabricante Compaq, em 2002, seria um bom negócio.

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