A família da enfermeira Berenice Rodrigues da Silva, de Curitiba, se despede hoje da casa de dois quartos em que vivia no bairro Xaxim, aperta dademais para um casal e três filhos. Eles estão se mudando para outra casa alugada, mas apenas para esperar a aprovação de um financiamento. Em breve, ela pretende acomodar melhor o filho mais velho, de 9 anos, e o casal de gêmeos, de 6, que dividiam um quarto pequeno, por falta de espaço para ampliar a casa comprada há 10 anos. "Estamos esperando só a aprovação do financiamento", diz Berenice. Se o crédito for liberado, a família vai aproveitar o melhor cenário dos últimos anos para a compra de um imóvel.
Para a família de Berenice e para muitas outras, 2007 promete ser o ano da casa própria. A economia estável, a taxa básica de juros em queda e o aumento da oferta de crédito indicam um momento seguro para se livrar do aluguel ou investir em imóveis. "2006 já foi um ano da casa própria e a tendência é melhorar neste e nos próximos", afirma a economista Amaryllis Romano, especialista da Tendências Consultoria na área de construção civil. "A estabilidade da economia e da taxa de juros permitem uma previsibilidade que é muito importante nos investimentos de longo prazo."
Não são apenas os fatores macroeconômicos que estão ajudando. A Caixa Econômica Fede-ral (CEF) destinou em 2006 R$ 14 bilhões (inclusive recursos do FGTS) para financiar a aquisição, reforma e construção da casa própria e promete pelo menos R$ 12 bilhões para este ano. Os recursos de aplicações em poupança destinados a financiamentos imobiliários pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) que inclui instituições privadas e públicas foram 95,5% maiores em relação a 2005, atingindo R$ 9,5 bilhões.
A previsão é de que os empréstimos para aquisição de imóveis cheguem a R$ 11 bilhões este ano. "Os bancos não estão mais financiando só a obrigatoriedade que é de 65% de recursos da poupança. Estão destinando, em média, 80% para o crédito imobiliário. O financiamento é um produto bom que em todo mundo é o principal produto dos bancos, em função da permanência dos mutuários no vínculo com a instituição", explica o superintendente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Carlos Eduardo Duarte Fleury.
O crescimento brutal no volume financiado não é só uma questão de boa vontade dos agentes financeiros. Mudanças na legislação da compra da casa própria deixaram os bancos mais confiantes para oferecer crédito. A principal delas foi a alienação fiduciária que mantém a propriedade do imóvel com o banco até o momento da quitação e permite que o mutuário tenha o imóvel retomado em até 90 dias em caso de inadimplência. No sistema antigo, eram anos de briga na justiça. "O fortalecimento das garantias para os bancos foi um dos fatores que mais contribuiu para os resultados de 2006 e que deve continuar sendo positivo para os próximos anos", prevê Armando Castelar Pinheiro, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
Entre as construtoras, o clima não poderia ser mais otimista. O empresário José Américo Baggio, dono da construtora J.A. Baggio, diz que os pedidos cresceram 30% este mês em relação ao mesmo período do ano passado. "O cliente está mais confiante porque os juros caíram e a inflação está estável."
A competição entre os bancos também está fazendo o juro cair. No financiamento de casa própria, a queda varia conforme o banco. O Itaú, por exemplo, diminuiu até quatro pontos porcentuais nas correções dos primeiros anos do contrato. As taxas, de maneira geral, variam entre 8% e 12% ao ano. "As parcelas fixas têm ajudado bastante", diz o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Paraná (Sinduscon-PR), Hamilton Franck. "Os juros por longo prazo estão civilizadíssimos e o comprador tem a vantagem de programar o orçamento."
Na construtora e incorporadora Thá, os planos são de tentar dobrar os resultados do ano passado. "Fechamos 2006 com 12 empreendimentos e este ano já iniciamos com mais quatro. Esperamos um aumento de 100% no faturamento", afirma o gerente comercial Márcio Souza, sem revelar valores. A empresa pretender se aventurar em um público atípico em seus empreendimentos: a classe média. "Normalmente lidamos com um público de classe A e B, mas a demanda reprimida na classe média é tão grande que resolvemos demolir a sede da construtora para lançar um conjunto residencial com 300 apartamentos."