O crédito ficará mais caro e escasso este ano, tanto para empresas quanto para o consumidor, e será mais uma trava ao crescimento da economia. Este é o cenário traçado por economistas, professores e estrategistas financeiros. Nas estimativas desses especialistas, a oferta de crédito deve crescer pouco mais de 10%, abaixo dos 11% registrados em 2014.
Será o quinto ano consecutivo em que os empréstimos desaceleram, afetando o consumo, que foi um dos propulsores da economia do país até 2010. O resultado é que os mesmos especialistas preveem uma expansão bem próxima de zero do Produto Interno Bruto (PIB), que deve crescer apenas 0,6% em 2015, cravando mais um ano de estagnação econômica.
"Nos últimos anos, já estamos vendo uma desaceleração da oferta de crédito, que deverá se acentuar em 2015. Essa redução, combinada a uma queda no rendimento real das famílias, será um freio ao consumo, afetando o desempenho da economia", avalia a economista da consultoria Tendências Mariana Oliveira.
Em 2008, ano de crise internacional, a oferta de crédito no Brasil cresceu 30% e o PIB avançou 5,1%, mostrando que esse é um importante motor de expansão da economia. Mas, quando os empréstimos secam ou ficam mais caros, o efeito é contrário e o consumo tende a esfriar.
Pé no freio
Milhões de brasileiros estão evitando entrar no crediário e apertando o orçamento este ano, com medo do desemprego que já despontou nas montadoras de veículos e pode se alastrar para outros segmentos da indústria. Nas perspectivas da consultoria Tendências, o desemprego deve subir de 4,8% para 5,4% este ano. O dinheiro no bolso também está perdendo valor. E quem continuar empregado terá o salário corroído em mais 6%, por causa da inflação estimada para este ano, afirma Mariana.
Ela observa, ainda, que a massa de rendimentos reais advindos do trabalho, medida pelo IBGE, também deve ter um crescimento pífio até dezembro. Se no ano passado houve crescimento de 3,5%, este ano ela não deve subir mais do que 0,8%. Será a expansão mais fraca da última década, limitando ainda mais o consumo, avalia.
"A queda na renda real aliada a um cenário de perspectiva de desemprego freia o consumo e aumenta o risco das operações de crédito para os bancos. Para evitar uma alta da inadimplência, eles ficam mais seletivos na hora de emprestar e também aumentam os juros cobrados do consumidor", explica o professor de economia da Fundação Getulio Vargas de São Paulo Ernesto Lozardo.
Taxa em alta
Quem pediu dinheiro emprestado aos bancos, ultimamente, já sentiu esse aumento. A taxa média de juros cobrada do consumidor chegou a 44,2% ao ano em novembro, segundo o Banco Central (BC). É o maior patamar da série do BC, que foi iniciada em março de 2011.
A taxa refere-se às linhas de crédito oferecidas a pessoas físicas com recursos livres, em que as instituições cobram o que quiserem. Em outubro, os juros estavam em 44% ao ano.