As perspectivas para a economia são favoráveis para 2019: a expectativa de bancos e consultorias ouvidos pelo Banco Central é de uma expansão de 2,55% no PIB, segundo o último Boletim Focus de segunda (31). E se elas se concretizarem, o novo ano será favorável para emprego. Especialistas ouvidos pela Gazeta do Povo apontam que muitas empresas estão com quadros e equipes reduzidas. Para atender à expansão da demanda vão precisar contratar pessoal.
Segundo Alexandre Attauah, gerente sênior de recrutamento da Robert Half,
“Vai ser um ano de crescimento nas contratações. As empresas estão voltando a contratar e muitas estão descongelando vagas”
A consultoria Tendências tem uma posição mais moderada que a média, projeta um crescimento de 2% no PIB, puxado pelo consumo familiar e pelo investimento privado. “O crescimento vai ganhar velocidade, mas não será algo robusto”, diz Thiago Xavier, analista de atividade econômica. Para 2019, ele projeta a criação de 800 mil postos de trabalho formais. Em 2018, a expectativa é de que tenham sido criados 450 mil, segundo a consultoria.
Os números refletem a melhoria na confiança, que no caso dos empresários está no maior nível desde junho de 2010, conforme a Confederação Nacional da Indústria (CNI). E a dos consumidores, é a melhor desde janeiro de 2014, destaca a entidade empresarial. Ao mesmo tempo, um levantamento feito pela empresa de recrutamento Robert Half aponta que 70% dos profissionais de RH consultados acreditam que 2019 será melhor do que 2018 quando o assunto é a criação de vagas.
Outra grande recrutadora, a Catho, já percebe um maior volume de oferta de vagas formais. Nos nove primeiros meses do ano houve um crescimento de 17% na oferta, comparativamente a igual período de 2017. A reação é mais forte em estados do Sul e do Sudeste e em segmentos como o agronegócio e de commodities, que estão sendo beneficiados pelas cotações favoráveis do dólar.
Há também segmentos que vêm mantendo a cadência no surgimento de oportunidades de trabalho. Isto está acontecendo, segundo Attauah, em áreas como a tecnologia de informação e a farmacêutica.
Um ano de recuperação lenta dos salários
O desemprego elevado – 11,6%, segundo o IBGE – poderá resultar na contenção dos aumentos dos salários em cargos em que há grande oferta. Durante o período de crise, houve queda na remuneração de muitos cargos. Para 2019, a expectativa é, portanto, de uma recuperação lenta dos salários e mais restrita a funções que serão mais demandadas.
Um levantamento feito pela plataforma Love Mondays mostra que o salário médio de um diretor caiu, em média, 10,89% nos últimos dois anos, para R$ 13.370,29; o do trainee, 6,2%, para R$ 3.123,27; o do analista, 10,72%; para 3.991,88; e o do gerente, 2,71%, para R$ 7.999,93. No último ano, os salários de supervisores encolheram 4,38% no último ano, para R$ 4.693,35.
Outro fator que pode conter a expansão dos salários é o grande número de pessoas que estão subocupadas ou desalentadas. “Neste cenário, o poder de barganha fica mais reduzido”, diz Xavier. Nos últimos meses, o mercado de trabalho registrou uma melhora, baseada no crescimento da informalidade, onde os rendimentos são menores do que no trabalho formal.
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Attauah aponta que os salários devem melhorar à medida que ocorrer a recuperação da atividade econômica. Mas não projeta uma forte elevação. A expectativa da consultoria Tendências é de que em 2019, a renda média real (já descontada a inflação) tenha um aumento de 1,5%.
Oportunidades
Os segmentos que mais sentiram os reflexos da crise foram a construção civil, a infraestrutura e a indústria. Desde 2015, esses setores fecharam 1,61 milhão de postos de trabalho, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados.
O aumento de confiança nestes setores e a concretização da retomada podem criar um efeito multiplicador em outros setores. “Uma melhora nos setores de infraestrutura e construção puxa a indústria e a reação se estende para o resto da economia”, diz Humberto Wahrhaftig, diretor associado da Page Executive.
Ele lembra que, durante o período de crise, as empresas trataram de tornar mais robustas as áreas financeira e comercial.
Elas buscaram novas formas de vender mais e se ajustaram, o que pode implicar em ganhos de produtividade.
Já as áreas industriais e operacionais, que sofreram muito com a retração da economia, devem ganhar um impulso com a retomada do nível de atividade. “Vai ser uma puxada muito grande”, enfatiza o diretor da Page Executive.
A indústria da construção já começou a reagir. Nos 12 meses encerrados em outubro, foram criadas 4,5 mil oportunidades de trabalho. E nos dez primeiros meses de 2018, o faturamento da indústria de materiais de construção cresceu 1,6% em relação a igual período do ano anterior, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Material de Construção (Abramat).
Mas, também há setores em que o emprego não foi tão afetado pela crise, como o agronegócio, que teve um bom desempenho nos últimos anos mesmo diante de um cenário crítico; o de tecnologia da informação e os de saúde e educação, que estão em fase de consolidação.
Na TI, a tendência é de que haja mais aumentos. A demanda está em alta e a oferta é pequena, ressalta Wahrhaftig. E entre as áreas em que a procura deverá ser bem forte estão os de blockchain, big data e o de inteligência artificial.
“Há muita procura por profissionais nesta área”, diz a analista de carreira Luana Marley, da Catho. Segundo ela, esse segmento está passando por um boom, com boas ofertas.
Um dos profissionais mais cobiçados neste mercado é o de cientista de dados. Ele é o profissional dedicado a criar soluções complexas que envolvem: captar, analisar e enxergar tendências em dados (informações) que impactem nos negócios e gerar/prever ondas de crescimento exponencial. O salário médio fica entre R$ 9 mil e R$ 18 mil.
Novos modelos de contratos de trabalho
Os novos modelos de contratos de trabalho, como os intermitentes e os temporários devem ganhar participação marginal no mercado. “Vai levar alguns anos para que estas novas formas de contrato tenham um impacto relevante no mercado de trabalho”, destaca Xavier, da Tendências.
Mas o interesse é crescente. Pesquisa da Robert Half aponta uma maior confiança neste modelo de contratação em cargos que vão de analista a diretor. Os itens remuneração, oportunidade de efetivação e desafio de projeto são os prioritários ao aceitar uma proposta de trabalho neste modelo de contratação. Os profissionais também levam em consideração a opção por mais flexibilidade, acúmulo de aprendizados, possibilidade de conciliar estudos e projetos pessoais.