Três anos de recessão estão aí para provar que, se dinheiro não traz felicidade, a falta dele também não colabora muito. Enquanto a crise não acaba, resta rir da própria desgraça. Um livro lançado no Brasil no fim do ano passado pode ajudar quem não tem a prática.
“A graça do dinheiro” (Zahar) reúne 359 charges sobre economia publicadas na revista norte-americana “The New Yorker” desde seu lançamento, em 1925, até 2009. As sátiras sobre a Grande Depressão dos anos 1930 aparecem logo nas primeiras páginas, e as últimas são dominadas por cartuns que abordam a crise financeira iniciada em 2008.
As duas crises têm em comum a origem: bolhas infladas e rompidas no centro financeiro de Nova York, a alguns quarteirões da sede da revista. Um mundo que é alvo frequente do sarcasmo de seus cartunistas. “É verdade, um teto salarial em Wall Street pode limitar a oferta de talento, mas, por outro lado, se eles ficarem ainda mais talentosos vamos todos falir”, comenta a convidada de um coquetel num cartum de Robert Mankoff, editor de charges da “New Yorker” desde 1997 e organizador do livro.
A maioria dos cartuns, no entanto, trata de questões universais e atemporais. Como as relações entre bancos e seus clientes e entre pagadores e cobradores de impostos. Num deles, um fiscal da Receita debocha de um irritado contribuinte: “Pode ser que estejamos gastando mal cada dólar do seu imposto, mas admita que fazemos um grande trabalho quando é para coletá-lo”.
Algumas charges retratam hábitos bem difundidos no Brasil. Como a que ilustra um carrinho de mão transbordando de dinheiro na antessala de um gabinete: “A propina gostaria de uma audiência, senador”, anuncia a secretária. Ou esta da década de 1970, muito atual: “Nossa tarefa, senhores, é persuadir o governo de que a melhor solução ainda é botar dinheiro no problema”, clama um velho engravatado a seus colegas.
Também desfilam pelo livro figurões e modestos funcionários tramando truques contábeis, último recurso de empresas e – como bem sabemos por aqui – governos desesperados.
O problema de “A graça do dinheiro” está, ironicamente, no preço. O valor sugerido é de quase R$ 70.
Confira na galeria a seguir algumas das charges, divididas por década. Clique no canto inferior direito para expandir as imagens: