Opinião
O legado está na imagem
Guido Orgis, editor executivo de Economia
O discurso de que receber a Copa do Mundo é uma bênção econômica que deixa um legado de longo prazo vem da boca de políticos e não de economistas. As análises mais otimistas sobre o efeito econômico da Copa falavam em pequenos incrementos no PIB e de investimentos em estádio e mobilidade, mas não se propunham a fazer a conta completa. Se tirarmos o fato de grande parte do investimento ser bastante improdutivo (arenas que não terão retorno) e que outra parte das obras seria feita de qualquer maneira (em mobilidade, principalmente), e descontarmos as horas paradas por causa dos jogos e as vendas menores em cidades onde haverá feriados, a conta é de um efeito nulo. O que ninguém esperava é que o setor que deveria ser o maior beneficiado, o de turismo, teria dúvidas sobre as vantagens da competição. Mas o fato é que há muita gente nesse mercado torcendo para que a lotação incompleta de quartos e voos seja compensada no futuro com a imagem que o país transmitirá para novos visitantes. O Brasil está pronto para que quem vier volte para casa falando bem? Esse é o melhor legado que podemos ter com a Copa, embora não haja muita gente preocupada em como fazer isso.
Brasileiros
Hoteleiros apostam na demanda interna para preencher vagas
A ocupação próxima dos 50% garantida para o torneio a 30 dias da Copa do Mundo não preocupa os hotéis da cidade, garante o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Paraná (ABIH-PR), Henrique Lenz César Filho. Segundo ele, os dados de ocupação divulgados até o momento englobam principalmente o movimento de estrangeiros na cidade e ele acredita que a maioria dos turistas brasileiros ainda não fez suas reservas. "Tradicionalmente, o brasileiro deixa para confirmar suas reservas na última hora. Às vésperas do torneio, a procura deve aumentar bastante", afirma.
Segundo um levantamento da Foward Keys em parceria com a consultoria especializada em turismo Pires e Associados, a tendência é uma diminuição no ritmo de reservas. O relatório, que mostra a procura de estrangeiros por cidades brasileiras durante o torneio, afirma que se for mantido o histórico do último mundial, não há expectativa de que haja um grande aumento de reservas de estrangeiros na última hora.
Até 9 noites é o período médio que maior parte dos turistas estrangeiros deve permanecer em Curitiba ao longo da Copa, segundo o levantamento feito pela Foward Keys em parceria com a consultoria Pires e Associados. Segundo o estudo, 44% dos turistas de fora do país ficarão apenas alguns dias na cidade. Outros 36% dos viajantes vão prolongar a estada e permanecer de 9 a 21 dias por aqui. Até agora, a maioria das reservas é para americanos, australianos e alemães.
Curitiba é a segunda cidade com mais quartos de hotéis disponíveis para o período da Copa do Mundo entre as doze sedes do torneio. A praticamente um mês da competição, 43% das unidades de hospedagem da capital estão vagas para o período.
O levantamento, feito pelo Fórum dos Operadores Hoteleiros do Brasil (Fohb), aponta que entre fevereiro e abril cerca de 6% das reservas que estavam bloqueadas para o período foram canceladas e apenas 3% foram confirmadas e pagas pelos turistas. Sendo assim, a proporção de reservas vendidas nos últimos dois meses aumentou de 41% para 44% do total de quartos na cidade, enquanto a quantidade de quartos vagos cresceu mais, de 37% para 43%.
A proporção pode ficar ainda pior nos próximos dias. Com o encerramento da última rodada de vendas de ingressos no dia 30 de abril, a Match, agência oficial da Fifa para as viagens da Copa do Mundo, vai devolver todas reservas restantes que não foram aproveitadas pelos turistas. A estimativa é de que cerca de 10% dos leitos curitibanos estejam nesta situação.
A procura aquém do esperado não foi suficiente para provocar uma queda geral nos preços das hospedagens, como visto em algumas outras sedes, de acordo com o levantamento do site de buscas Trivago. De acordo com a pesquisa, algumas hospedagens no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador registraram quedas de até 40% nos seus preços. "Aqui o preço não caiu, até porque não houve uma grande valorização somente por conta do torneio. Além do mais, Curitiba já era o destino mais barato entre as sedes", afirma o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Paraná (ABIH-PR), Henrique Lenz César Filho. Em média, Curitiba tem a menor diária entre as sedes, com R$ 522 por noite.
O movimento, no entanto, é mais fraco do que o alardeado há alguns meses e que justificaria a realização do evento na cidade hoje, a proporção de reservas garantidas para o torneio está abaixo da média histórica de ocupação da cidade, que beira os 65%. "Curitiba depende muito do turismo de negócios, que vai ficar praticamente suspenso no Brasil em junho e julho. Isso é bastante preocupante", afirma o professor de administração turística da UFPR, Charles Macedo.
O presidente da consultoria especialista em hotelaria BSH, José Marino Neto, concorda. Segundo ele, alguns empresários se precipitaram ao imaginar que a demanda da Copa do Mundo seria suficiente para lotar os hotéis da cidade. "Empresas cancelaram congressos e turistas deixaram de visitar cidades-sede durante a Copa com medo de faltar leito. Achava-se que o evento traria um número gigantesco de pessoas, mas não foi bem assim", completa.
Preço de passagem aérea cai 25%
Outro setor que teve que recuar para tentar atrair público no período da Copa do Mundo foi o da aviação civil. Quem fez a reserva em outubro de 2013 de um voo para alguma das cidades-sede do torneio pagou, em média, R$ 481,43. Já para os turistas que compraram passagens ao longo da segunda quinzena de março para viagens entre junho e julho, o ticket médio gasto foi de R$ 361,33. O levantamento, elaborado pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), aponta que a queda é de 25% no preço médio. Segundo a Anac, o anúncio dos jogos da primeira fase e a autorização de novos voos feitos pela própria agência em janeiro são os principais fatores para a queda nos preços.
O levantamento apontou que apenas 10% das passagens já estão vendidas, o que está dentro das expectativas para o período, de acordo com a autarquia. Fortaleza e Natal estão com a maior taxa de ocupação até o momento, com cerca de 40% dos assentos ocupados nos voos para junho e julho.
O estudo também apontou que Campina Grande, na Paraíba, está praticamente sem voos para o período a cidade organiza a festa junina mais tradicional do país. "O estudo não detalha, mas mostra que o impacto da Copa é bastante relativo no movimento aéreo do Brasil", afirma o consultor em mercado de aviação civil e professor da PUC-RS, Leonardo Chagas. "É incomparável o número de voos que esta cidade recebe em relação a São Paulo, ou Rio de Janeiro, por exemplo. Qualquer aumento pode ser bem impactante", completa.
Regime especial
Ao longo do mês do torneio, a Anac aprovou um regime especial de voos, privilegiando as cidades-sede. Ao todo, 16 mil voos foram alterados ou criados especialmente para o período uma alta de 30% em relação aos 51 mil voos regulares para as doze cidades da competição.
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