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5 mil caminhões e um rastro de sujeira

Scalvi e Bazzi: faltam locais para limpar os caminhões | Antônio More/Gazeta do Povo
Scalvi e Bazzi: faltam locais para limpar os caminhões (Foto: Antônio More/Gazeta do Povo)
Via de acesso ao porto: trânsito intenso e perigoso |

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Via de acesso ao porto: trânsito intenso e perigoso

Talvez o problema que mais simbolize o conflito da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) com a prefeitura de Paranaguá e órgãos como o Ministério Público Federal (MPF) em torno das questões ambientais seja a falta de limpeza adequada dos resíduos de cargas (em especial soja e fertilizante) nas principais vias de acesso – avenidas Bento Rocha e Ayrton Senna – e também no entorno do porto.

Hoje a cidade recebe 5 mil caminhões por dia, com capacidade para carregar entre 5 e 50 toneladas. "Chegamos, na maioria das vezes, com soja e voltamos com fertilizantes", conta o caminhoneiro Gilmar Scalvi, 45 anos, dez de profissão. Segundo ele e o colega Eder Bazzi, 25 anos, são poucos os terminais e empresas que oferecem local para a limpeza adequada das carrocerias.

Há algum tempo a Appa varre as ruas mais próximas ao terminal e fornece caçambas para a coleta dos resíduos, após uma determinação judicial oriunda de ação do MPF. Mas isso não é suficiente para o município, diz a secretária municipal de Meio Ambiente, Joziane Baka.

"Após um trabalho educativo, também com as empresas, começamos, em 2011, a fazer blitzes e a multar qualquer situação irregular, entre R$ 19 mil e R$ 38 mil. No caso das empresas, muitas assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta com a prefeitura, tiveram redução no débito e estão procurando se adequar. Já a Appa não aceita pagar e tem um montante devido entre R$ 300 mil e R$ 400 mil", conta.

Diretoria ambiental

Mesmo com a execução de estudos e programas ambientais a cada processo de licenciamento a que se submete, a Appa deveria, segundo as recomendações do Plano de Desenvolvimento e Zoneamento do Porto Organi­zado de Paranaguá (PDZPO), criar uma diretoria multidisciplinar de Meio Ambiente, Saúde e Segurança do Trabalho para funções que não são delegáveis a terceiros e que são sua obrigação – ou ao menos seu interesse.

Entre essas funções estaria a elaboração de estudos e projetos ambientais e o acompanhamento do monitoramento da qualidade da água, do ar e do solo que estão sob influência da atividade portuária, inclusive as medidas de prevenção, controle e mitigação de impactos negativos nessa área. Nenhum desses cuidados é tomado atualmente. Apenas o programa de controle de zoonoses está realmente ativo.

Emissões não são monitoradas

Nem a Appa nem a prefeitura de Paranaguá têm um programa fixo para monitorar o conjunto de emissões das indústrias e atividades portuárias. "Não temos condições de arcar com um programa assim", diz a secretária municipal de Meio Ambiente, Jozaine Baka. Ela toca em uma das "mágoas" da atual gestão com a Appa: a falta de pagamento de ISS da autarquia para o município. Seriam R$ 50 milhões devidos, desde 2005, mas algumas decisões judiciais sobre o tema sinalizaram que a Appa tem imunidade tributária em relação ao município.

"Nessa briga quem fica sem solução é a população. Em alguns dias é possível sentir não só o cheiro incômodo, mas também uma ardência nas vias aéreas", alerta o promotor estadual Alexandre Gaio.

Há também a suspeita de ligações irregulares de escoamento de água e esgoto por parte de empresas que atuam na cidade. A secretária de Meio Ambiente diz que tem pedido, junto com a CAB Águas de Paranaguá, a cópia dos projetos de drenagem de diversas empresas para verificar a situação, mas ainda não tem um balanço. Gaio lembra que Paranaguá não tem uma rede coletora própria de esgoto, que acaba sendo escoado por galerias pluviais; com isso, em dias de chuva mais forte são comuns os alagamentos.

Regularização

Mas o monitoramento da qualidade do ar, do solo e da água terá de ser feito corretamente em breve. O Porto de Paranaguá está em processo de regularização de sua licença ambiental no Ibama e pretende obter a última, de operação, dentro de 30 dias.

"A partir daí teremos de dar cumprimento às premissas que certamente o Ibama vai impor, como o monitoramento da qualidade do ar, do solo e da água, entre outras exigências", diz o superintendente da Appa, Luiz Henrique Tessutti Dividino. Ele conta que, "para se antecipar ao Iba­­­ma" contratou, ainda em regime de cargo de comissão, dois profissionais de engenharia para começarem desde já a listar as necessidades do porto na área ambiental.

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