Nos EUA, manifestantes protestam contra Trump: se o republicano chegar a Casa Branca, pode sobrar até para a economia brasileira| Foto: MANDEL NGAN/AFP

O Brasil causou praticamente sozinho a crise que provocou a pior recessão de sua história. Uma sucessão de políticas incorretas, como o controle de preços, a redução forçada da taxa de juros e o descontrole das contas públicas, fizeram com que a economia se desarrumasse. Com uma contribuição alta da crise política e da paralisia provocada por escândalos de corrupção, o PIB brasileiro recuou 3,8% no ano passado, dose que deve ser repetida neste ano.

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No front externo, o país encontrou uma fase até positiva. A crise europeia perdeu fôlego nos últimos dois anos, com até a Grécia fechando acordo para reformar a economia. O maior soluço veio da desvalorização das commodities, que perderam fôlego a partir do crescimento menor da China.

Tudo isso poderia ser bem pior. Há no momento pelo menos cinco grandes problemas internacionais que, se evoluírem para crises reais, causariam grandes estragos ao Brasil. Veja quais são e como se relacionam:

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Brexit

Moradores do Reino Unido votam em um referendo no dia 23 de junho se querem permanecer ou não na União Europeia. A visão geral é de que os britânicos não aceitariam perder algumas das vantagens de pertencer à UE, como o livre trânsito de pessoas e mercadorias. O problema é que há uma grande oposição no país à imigração permitida pela UE, em especial do Leste Europeu. Além disso, muita gente acredita que a economia iria melhor fora do bloco, com políticas totalmente independente. Os mercados ainda não fazem ideia de qual seria a reação caso o Reino Unido saia da UE – junho, portanto, pode ser um mês turbulento.

Trump na Casa Branca

O controvertido Donald Trump deve ganhar a corrida pela candidatura do Partido Republicano à presidência dos Estados Unidos. Ninguém sabe exatamente o efeito econômico caso ele vença a eleição em novembro. Com um discurso contra imigração e acordos comerciais, Trump pode levar a uma guinada econômica, com fechamento da economia americana, oscilação exacerbada do dólar e deterioração da recuperação do país após a crise de 2008. É, claro, que Trump pode vencer e convencer que fará um bom governo. O risco está na incerteza.

Dívidas na China

O total de dívidas na economia chinesa ultrapassam os 250% do PIB do país. Esse é um elemento que pode fazer com que a desaceleração enfrentada pela China seja mais pronunciada do que o mercado estima. Há duas razões para se temer esse risco. O primeiro é a a qualidade baixa dos débitos, que podem causar problemas no sistema bancário. O segundo é a baixa produtividade desses débitos – muitos projetos são claramente improdutivos, como condomínios fantasmas. O lado positivo é que o governo chinês tem condições de bancar perdas grandes em seus bancos públicos.

Juros nos EUA

O Fed, o banco central dos Estados Unidos, elevou pela primeira vez desde o início da crise subprime, em 2007, sua taxa de juros. Ela está agora entre 0,25% e 0,50% ao ano. O mercado trabalhava com a possibilidade de haver altas em sequência, o que não ocorreu devido aos problemas que vinham da China no início do ano. Depois, a economia americana perdeu um pouco de fôlego, fazendo com que muita gente antecipasse que o Fed desistiu de subir os juros. Esse é um cenário ainda bastante incerto. A presidente do Fed, Janet Yellen, já disse que a normalização da taxa de juros deve continuar acompanhando a evolução da economia do país. Isso pode significar novas altas ainda neste ano, o que deve causar estresse nos mercados financeiros.

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Bolha do déficit

Um risco de certa forma ligado à decisão do Fed está no que especialistas estão chamando de bolha dos títulos públicos. Os maiores bancos centrais do mundo, no Japão, União Europeia e Estados Unidos vêm mantendo as taxas de juros muito baixas, ou até negativas. Ele elevaram acentuadamente a liquidez no mundo. O dinheiro extra, no fim da linha, não está trazendo crescimento, mas sim investimentos novos em títulos de dívida pública, que ficaram extremamente caros (pagam juros baixos). Notícias ruins, como a alta nos juros americanos ou problemas de déficit em países europeus, podem rapidamente fazer os juros subirem, detonando uma corrida para vender títulos.