Cinqüenta por cento dos pacientes que precisam de algum medicamento no país, não podem comprá-lo. A informação está num estudo feito por médicos e farmacêuticos de São Paulo e pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Gustavo tem 11 anos e Otávio, 13. Eles são pequenos para a idade que têm. Quando Gustavo estava com 7 anos, tinha o corpo de uma criança com menos de três, segundo um exame feito pelo Sistema Único de Saúde.
Foi pelo próprio SUS que a mãe deles tentou um tratamento.
- Por três anos levava as crianças, mas não chegava o remédio, não conseguia - explica a empregada doméstica Rosilda Dias.
Cansada, ela decidiu pagar um plano de saúde. A médica receitou hormônio do crescimento, mas, para conseguir o remédio que é importado dona Rosilda continuou dependendo do SUS. O tratamento mal começou e já parou, porque o medicamento está em falta.
- Não tem data para eu pegar o remédio de novo. Se está faltando para os meus filhos, está faltando no geral - acredita ela.
O Brasil é o nono país do mundo em consumo de remédios, mas a divisão é extremamente desigual. Como dona Rosilda, metade das pessoas que precisam de um medicamento, não podem comprá-lo. E quando não conseguem nem na rede pública, abandonam o tratamento.
Nas farmácias, 15% da população, a parcela mais rica, compra 48% dos medicamentos; enquanto 51% dos brasileiros, os mais pobres, consomem apenas 16%. Os dados estão numa cartilha feita pelos Conselhos de Medicina e Farmácia de São Paulo e pelo Idec, Instituto de Defesa do Consumidor.
O presidente do Conselho de Medicina/SP diz que a falta de remédios obriga o governo a gastar mais.
- Porque o paciente piora, e é atendido no pronto-socorro e nos hospitais públicos em condições piores -explica Desiré Carlos Callegari.
Em Porto Alegre, o menino Mateus está há dois meses sem o medicamento para a fibrose cística, doença que compromete o sistema respiratório e digestivo.
- Até a gente conseguir a compra do medicamento, a associação do Paraná nos emprestou alguns frascos, porque nós não tínhamos mais. Eu tenho mais meio frasco, só - conta a mãe dele, a socióloga Elisabeth Backes Baccon.
A secretaria de saúde do Rio Grande do Sul informou que foram comprados 120 mil comprimidos do remédio Ultrase-MT12.
Já a secretaria de Saúde de São Paulo disse que a medicação Somatropina, de que Gustavo e Otávio precisam, deve chegar nas farmácias da rede pública na próxima semana.