Uma das principais aceleradoras do Vale do Silício, que já investiu em startups de mais de 60 países diferentes, a 500 tem novo comando no Brasil. A economista Itali Pedroni Collini assume a representação local do hub tecnológico, com a missão de fortalecer o ecossistema de startups investidas pelos fundos da empresa. Ela substitui Rodolfo Pinotti.
O Brasil é um mercado importante para a 500, que já acelerou e investiu em mais de 40 startups no país, entre elas a Olist, Pipefy e Conta Azul. A aceleradora tem uma atuação pioneira no país — que iniciou com a investidora Bedy Yang, atual Managing Partner global da 500, responsável por parcerias estratégias.
Agora, os planos são aproveitar este know how brasileiro para surfar no bom momento que o ecossistema de startups brasileiro já vive, e que deve se intensificar nos próximos anos.
“Nos últimos 10 anos a gente teve um crescimento bastante significativo tanto no número de startups quanto de aceleradoras e fundos de investimento. Hoje você tem mais fundos focados no early stage [startups que estão começando], mas também mais fundos focados em série A, série B, que já são maiores”, avalia Itali Collini, em entrevista exclusiva para a Gazeta do Povo.
Os frutos já começam a ser colhidos. Com o surgimento de centauros (startups avaliadas entre US$ 100 milhões e US$ 1 bilhão), alguns deles investidos pela 500, e de unicórnios. Só este ano as fintechs Nubank e PagSeguro, além da startup de mobilidade 99 superaram a casa do US$ 1 bilhão e entraram para este último grupo. Uma série de outras empresas, como Movile, PSafe e Ebanx, caminham a passos largos para se juntar a elas.
Os investimentos da 500 são realizados com diferentes fundos ao redor do mundo. Algumas carteiras são gigantes, globais, e é daí que vem o dinheiro das investidas brasileiras. Mas também há microfundos, muitas vezes criados para atender a uma demanda regional, como há no México e em vários países da Ásia, como Japão e Tailândia.
Collini não descarta a criação de um microfundo específico para o mercado brasileiro. Ou até mesmo a criação de um programa local de desenvolvimento de startups. Não necessariamente uma turma de aceleração (atualmente as selecionadas brasileiras se graduam em São Francisco, na Califórnia), mas alguma iniciativa de fomento com DNA nacional.
Neste modelo de parcerias a 500 lançou em outubro, em Miami (EUA), uma programa de aceleração nos moldes do que chama de Anchor Partner. O programa foi desenvolvido em conjunto com três parceiros: a multinacional financeira Visa, o Miami DDA (órgão do governo ligado ao desenvolvimento local) e Knight Foundation, organização sem fins lucrativos voltada ao desenvolvimento local. Das dez selecionadas para a primeira turma, três delas brasileiras (Runrun.it, Apptite e EadBox).
“Este programa é um ótimo exemplo da união de forças para fazer o ecossistema sair fortalecido. Iniciativas parecidas poderiam acontecer no Brasil no médio prazo”, opina Itali Collini, que estava no evento, em Miami, quando conversou com a Gazeta do Povo.
Comunidade 500
Além de prospectar novas empresas, Collini tem a missão de dar suporte às brasileiras que já integram o portfólio da 500, acompanhando e auxiliando no crescimento destas companhias. Muitas delas, depois de receber um investimento inicial da rede, recebem novos aportes.
Isto porque quando uma startup passa por uma nova rodada de investimentos, quem investiu em um momento anterior tem a opção de aplicar mais dinheiro, para manter sua cota de participação na startup.
Outra frente é a conexão com grandes corporações. A 500 dá palestras e orienta empresas que querem se conectar a startups e ao ecossistema de inovação. Além de fomentar conexões, é uma forma de fortalecer a marca da aceleradora no país.
Trajetória
Formada em economia na Universidade de São Paulo (USP), Itali Collini começou sua trajetória no mercado financeiro, setor bastante tradicional. De lá migrou para os investimentos de impacto social, e a possibilidade de ampliar esta atuação foi decisiva na sua migração para a 500.
“Embora não seja focada apenas em impacto social, é uma organização com impacto positivo alto, porque ela tem uma capilaridade muito interessante”, com grande abertura para temas como diversidade e inclusão, explica.
A paridade no alto escalão, que é composto por 60% de mulheres, é prova disso. Algo que chama atenção em um mercado tão masculino, como é o de investimento em startups (o chamado “venture capital”). Na sede da empresa, em São Francisco, há um espaço para funcionárias e empreendedoras que queiram amamentar.
Um desafio que ela se coloca é trazer o impacto positivo desta diversidade para o ecossistema de inovação no Brasil. “A gente vê um amadurecimento, mas continua sendo um mercado majoritariamente branco, masculino e hétero. [Temos que pensar] como trazer mulheres, minorias raciais e LGBTs para dentro do ecossistema”.
Itali também é fundadora de uma plataforma voltada para a diversidade e inclusão no mercado de trabalho, a Incluser, criada no ano passado (2017). A empresa está em fase de desenvolvimento de uma metodologia e uma plataforma de avaliação do ambiente de trabalho com base em critérios de diversidade. A previsão é rodar até o fim do ano.