A indústria é o patinho feio da produtividade no Brasil. Um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) aponta que entre 1995 e 2021 a produtividade por hora trabalhada no setor encolheu 5,7%, enquanto o índice geral da economia brasileira cresceu 27,6%. A expectativa é de retomada na expansão com a difusão da tecnologia 5G e de suas aplicações.
O problema da produtividade ganhou força nos últimos anos. Dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que ela caiu tanto em 2020 quanto em 2021. A queda do ano passado, de 4,6%, foi a maior desde 2000 e fez o indicador retornar a níveis próximos de 2016.
“Essa desaceleração reflete os efeitos da segunda onda de Covid-19 ocorrida no início do ano [2021], e as dificuldades enfrentadas na retomada dos investimentos e da produção. Além de gargalos antigos, como a complexidade do sistema tributário, há problemas com a falta ou alto consumo de insumos e matérias-primas”, aponta a entidade.
A CNI complementa afirmando que, no curto prazo, o indicador deve retornar à trajetória de baixo crescimento apresentada antes de ser impactada pelos efeitos da pandemia. Mas a expectativa é de que as grandes tendências relacionadas às tecnologias da indústria 4.0 e ao desenvolvimento do 5G e suas aplicações representem oportunidades para crescimento sustentado da produtividade, a depender dos investimentos em inovação.
A nova tecnologia para a telefonia celular deve estrear nas capitais no segundo semestre. “Isto vai assegurar uma maior conectividade”, diz o presidente da Associação Brasileira da Internet Industrial (Abii), José Rizzo Hahn Filho.
Os maiores ganhos, segundo ele, serão na eficiência das operações e no desenvolvimento de modelos de negócio diferentes. “A informação certa no tempo correto vai facilitar a tomada de decisão e permitirá a obtenção de ganhos de eficiência.”
Mas os trunfos não serão imediatos, avalia o pesquisador Fernando Veloso, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV). “É uma inovação importante, como são a inteligência artificial, a robotização e a digitalização, mas seus ganhos não são imediatos. As empresas precisam investir para mudar seu plano de negócios.”
O desafio da mão de obra
Um dos principais gargalos está relacionado à mão de obra. “Não tem gente qualificada para as novas demandas. É por isso que os salários na área de tecnologia da informação estão aumentando muito.”
A gerente de políticas industriais da CNI, Samantha Ferreira e Cunha, diz que a indústria terá que atuar em duas frentes quando for implantar essa tecnologia: a capacitação da mão de obra e a transformação digital. “A 5G é uma tecnologia essencial para a indústria brasileira não perder mais espaço”, afirma.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) aponta que o Brasil precisa qualificar 9,6 milhões de trabalhadores em ocupações industriais até 2025 para repor inativos, preencher novas vagas e assegurar a atualização da mão de obra.
Aproveitar os benefícios da tecnologia 5G também entra em uma agenda de desenvolvimento da indústria, que, segundo Samantha, já conta com outros itens como os desafios das mudanças climáticas, a transição energética, a preocupação ambiental e a adoção de práticas mais sustentáveis.
Os desafios técnicos e tecnológicos
Um dos principais desafios técnicos para a implantação da tecnologia 5G é a modernização das Leis das Antenas, que são uma prerrogativa municipal, diz a presidente da Federação Nacional de Call Center, Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e Informática (Feninfra), Vivien Suruagy.
Segundo ela, das 27 capitais, somente 12 estão com leis aderentes à nova tecnologia. “É um grande gargalo no desenvolvimento da tecnologia no Brasil”, afirma.
Outros problemas estão relacionados à tecnologia. Segundo estudo da consultoria alemã Roland Berger, o Brasil foi o quinto país que mais sofreu crimes cibernéticos em 2021. Apenas no primeiro trimestre, foram 9,1 milhões de ocorrências, mais que no ano passado. Neste ano, pelo menos oito empresas listadas na B3 foram alvo de cibercriminosos e tiveram seus sistemas invadidos.
“A questão da cibersegurança é crucial”, aponta Rizzo, da Abii. Uma questão que também está desafiando a indústria é a interoperabilidade, ou seja, como garantir a conexão entre máquinas e equipamentos modernos e os mais antigos.
Os desafios econômicos da tecnologia 5G
Os fatores econômicos também podem influenciar. “É preciso ter dinheiro para investir nas novas tecnologias, seja público ou privado”, diz Rizzo. E o momento não é dos mais favoráveis, com o aperto da política monetária.
O custo do dinheiro está mais caro. A taxa média de juros cobrada das empresas subiu de 0,79% ao mês em setembro para 1,42% em fevereiro, apontam dados do Banco Central.
Dentro desse desafio, também está a falta de semicondutores. O problema surgiu com a pandemia da Covid-19, em 2020, e foi agravada pelos recentes lockdowns nas regiões de Xangai e Shenzhen, dois dos maiores polos econômicos e industriais da China.
O presidente da Abii acredita que a situação somente será normalizada em meados de 2023. “Vamos ter de nos adaptar e reduzir a dependência da China”, diz Vivien, da Feninfra.
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