Levantamento do Departamento Intersindical de Estatística de Estudos Socioeconômico (Dieese) revela que 86,8% dos reajustes salariais realizados em 2011 resultaram em aumento real de salários, ou seja, superaram a inflação medida pelo INPC. O resultado é um pouco inferior ao de 2010, quando 88,2% dos reajustes tiveram ganho real. Nos demais acordos de 2011 analisados pelo Dieese, 7,5% foram corrigidos por porcentual igual à inflação e 5,7% ficaram abaixo do INPC. Em 2010, houve perda em 4,4% dos reajustes e reposição da inflação, em 7,4%.
Na maior parte dos aumentos acima da inflação, os aumentos reais foram de até 2%. Em 2011, o aumento real médio obtido pelos trabalhadores foi de 1,38%, ligeiramente menor do que em 2010, de 1,68%.
O coordenador de relações sindicais do Dieese, José Silvestre, considerou os resultados de 2011 positivos, apesar de inferiores aos do ano anterior. "Foi um resultado extremamente positivo diante do cenário enfrentado em 2011. No ano passado, houve ainda parte do entusiasmo de 2010, quando houve um grande crescimento do PIB, e isso intensificou a ação sindical. Também temos que considerar uma variável fundamental que é a inflação, que foi de dois pontos porcentuais na média mais alta em 2011 que em 2010. E o ganho real médio de 1,38% contra 1,68% é muito próximo", disse.
Dos setores avaliados pelo Dieese, o comércio apresentou os maiores reajustes acima da inflação, com 97% das negociações com aumentos reais. Na indústria, este percentual ficou em 90% e no setor de serviços, em 76%.
Segundo o Dieese, nas regiões Norte e Nordeste do país houve maior incidência de reajustes abaixo da inflação; a Região Sul por sua vez, teve o maior índice de reajustes acima da inflação (quase 93%).
No que se refere aos aumentos reais médios, as regiões Sudeste e Centro-Oeste alcançaram os maiores patamares. Os menores foram registrados na região Norte e nas negociações de abangência nacional ou inter-regional. O levantamento foi feito com a análise de 702 acordos entre empregadores e empregados.
Perspectivas
Para o coordenador de relações sindicais do Dieese, não há indicativos de que as negociações de reajustes neste ano terão resultado pior do que em 2011. "Tem a crise externa que pode refletir na economia brasileira e um debate da desindustrialização, que será usado pelo setor patronal para dizer que a indústria não tem como reajustar salários. Mas há também aspectos positivos no cenário macro, como o salário mínimo e o mercado interno brasileiro. Isso pode contribuir para que o desempenho em 2012 pareça com o de 2011", disse Silvestre.
O secretário-geral adjunto da Força Sindical, Edson Bicalho, se mostrou otimista em relação à negociação de reajustes em 2012. "Já temos várias paralisações de trabalhadores acontecendo, como a dos professores, então imagino que o cenário de 2012 será mais favorável que o de 2011 para as negociações coletivas", disse Bicalho.
Rogério Giannini, secretário de relações de trabalho da Central Única dos Trabalhadores (CUT) em São Paulo, não está tão otimista. "Temos que endurecer as negociações e continuar a pressionar o governo sobre a necessidade de uma mudança econômica que aprofunde o que avançamos e que enfrente o cenário do câmbio e dos altíssimos juros reais praticados."