E195-E2, o maior avião produzido pela Embraer, com capacidade para 130 passageiros| Foto: Sergio Fujiki

Um dos maiores negócios do ano envolvendo uma empresa brasileira foi fechado nesta segunda. Pelo negócio, duas das maiores fabricantes de aviões, a Boeing e a Embraer, se uniram em uma joint-venture (criação de uma nova empresa) para a fabricação de aviões comerciais. Pelo acordo, os americanos terão 80% e os brasileiros, 20%. Uma segunda joint-venture, desta vez com 51% de participação da Embraer e 49% da Boeing procurará viabilizar o avião militar multiuso KC-390.

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O que é o negócio? 

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A Embraer anunciou nesta segunda-feira (17), que seu conselho de administração aprovou a parceria estratégica para combinação de ativos na área de aviação comercial com a Boeing. A Boeing deterá 80% de participação na joint venture pelo valor de US$ 4,2 bilhões. P valor anunciado pela empresa em fato relevante é de US$ 5,26 bilhões. Pelos cálculos da Embraer, o resultado da operação, líquido de custos de separação, será de US$ 3 bilhões. 

Conforme a companhia, a expectativa é que a parceria não terá impacto no lucro por ação da Boeing em 2020, passando a ter impacto positivo nos anos seguintes. A joint venture deve gerar sinergias anuais de cerca de US$ 150 milhões - antes de impostos - até o terceiro ano de operação. 

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Quem vai comandar o negócio? 

Após concluída a transação, a joint venture da aviação comercial será liderada por uma equipe de executivos sediada no Brasil, incluindo um presidente e CEO. A Boeing terá o controle operacional e de gestão da nova empresa, que responderá diretamente a Dennis Muilenburg, presidente e CEO da Boeing. A Embraer terá poder de decisão para alguns temas estratégicos, como a transferência das operações do Brasil. 

Do que depende a concretização do negócio? 

A fabricante de aviões brasileira ressalta em fato relevante enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que a parceria ainda está sujeita à aprovação do governo brasileiro e, posteriormente, será submetida à aprovação dos acionistas e das autoridades regulatórias. O conselho também já autorizou envio de notificação solicitando a aprovação prévia da União. 

A marca Embraer vai desaparecer? 

A nova empresa civil é chamada internamente de "NewCo" ("nova companhia" na abreviação inglesa) e ainda não está definido se manterá o nome Embraer. Há avaliação de que os aviões regionais da empresa brasileira são uma marca estabelecida, mas existe a possibilidade de a linha ser simplesmente absorvida no portfólio da Boeing. A área de engenharia da aviação comercial deverá trabalhar de cara no projeto de um avião de longo alcance de capacidade intermediária. 

A fabricação de aviões da Embraer vai ser transferida para os Estados Unidos? 

O acordo entre Embraer e Boeing não prevê, em um primeiro momento, a transferência de operações do Brasil para os Estados Unidos. Pelo entendimento, a Embraer terá poder de veto em decisões sobre o assunto no futuro. 

A fábrica da companhia ficará em São José dos Campos (SP), onde será feita a maior parte dos aviões comerciais.  As linhas de jatos executivos, que hoje estão em São José, devem ser transferidas para Gavião Peixoto (SP). 

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A companhia ainda não sabe quantos engenheiros e funcionários migrarão para a NewCo e quantos ficarão com a Embraer. 

Por que a Boeing se aproximou da Embraer? 

A Boeing precisou aproximar-se da Embraer por dois motivos básicos. Primeiro, não possuía uma linha de aviação civil de caráter regional, com aeronaves menores, de 70 a 130 lugares. A brasileira tem uma linha nova, a E2, que dá sequência à bem-sucedida família dos E-Jets. A rival europeia da Boeing, Airbus, tinha o mesmo problema e o resolveu comprando o controle da família regional C-Series, da canadense Bombardier, adversária histórica da Embraer. O movimento de consolidação parecia óbvio. Além disso, a área de engenharia da empresa paulista é vista como de ponta, e poderia injetar dinamismo no setor da americana. 

Para a Embraer, fundada pela Força Aérea em 1969, o risco de manter-se sozinha era o de ficar de fora de uma das grandes cadeias mundiais de produção e, num prazo de talvez uma década, ver seus horizontes comerciais se fecharem. No setor, tudo é interligado e retroalimentado, e com a Bombardier indo para o guarda-chuva europeu, o caminho mais lógico seria a associação com a gigante americana. Russos, chineses, indianos e japoneses estão no mesmo processo. 

Por que o governo brasileiro precisa se posicionar sobre o negócio? 

Embora a fabricante brasileira tenha sido privatizada em 1994, o governo detém uma “golden share”, ação especial que lhe permite vetar quaisquer negócios em seu Conselho de Administração. Quando emergiu o começo da negociação entre as duas empresas, a reação inicial do presidente Michel Temer (MDB) foi de recusar “a venda da Embraer”. 

Isso acabou levando as partes para a mesa de negociações, e o Planalto se diz satisfeito com o acerto —que terá 30 dias para ser analisado a partir da entrega da documentação à Procuradoria Geral da Fazenda Nacional e à Secretaria de Economia e Finanças da Força Aérea. 

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Foi formado um grupo de trabalho em janeiro e as acomodações foram ocorrendo. Ao longo do ano, autoridades brasileiras deram aval à negociação de forma paulatina, e hoje os óbices ao negócio desapareceram com as concessões feitas de lado a lado —os americanos, por exemplo, queriam comprar toda a Embraer, inclusive a parte de defesa, o que não foi aceito pelos militares. O conselho da nova empresa ficará sediado no Brasil. 

Como fica o projeto do avião militar KC-390? 

As companhias também chegaram a um acordo de uma segunda joint venture para promover e desenvolver novos mercados para o avião multimissão KC-390. De acordo com a parceria proposta, a Embraer deterá 51% de participação na joint venture e a Boeing, os 49% restantes. 

A transação também está sujeita à aprovação do governo brasileiro, ratificação pelo conselho de administração da Embraer e autorização deste para assinatura dos documentos definitivos da transação. 

Na sequência, a parceria estratégica ainda deve ser submetida à aprovação dos acionistas, das autoridades regulatórias, bem como a outras condições pertinentes à conclusão de uma transação deste tipo. Caso as aprovações ocorram no tempo previsto, a expectativa da Embraer é que a negociação seja concluída até o final de 2019. 

A Boeing já era responsável por promover o avião, desenvolvido a custo de US$ 5 bilhões com dinheiro do governo brasileiro, no exterior. A aeronave mira um mercado potencial de mais de 700 modelos antigos, a maioria composta por Lockheed C-130 Hercules, no mundo. 

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Essa empresa não venderá outros produtos militares da "velha" Embraer, como o Super Tucano, nem cuidará de contratos de defesa como o sistema de proteção de fronteiras. Essa foi uma exigência dos militares do país, que temiam perder autonomia na hora de fazer novos contratos estratégicos. A nova joint-venture terá controle nacional de 51%, outro ponto que agradou o Ministério da Defesa. 

Como fica a “velha” Embraer? 

A "velha" Embraer buscará sua sobrevivência na venda de produtos de defesa (15% de sua receita líquida no terceiro trimestre deste ano), aviação executiva (cerca de 15%) e serviços (20%). Além disso, receberá recursos proporcionais à sua participação nas "nova" Embraer e na joint-venture do KC-390. Ela também manterá a gerência de projetos estratégicos em curso, como a parceria para a montagem dos novos caças da FAB, os suecos Gripen, e participação em programas como o do submarino nuclear brasileiro.