Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Consultoria

A arte de escolher o mentor certo

 | Felipe Lima

Donos de pequenos negócios costumam sentir-se isolados. Sem os recursos das grandes organizações, é normal que esses micro e pequenos empresários desejem um porto seguro para fugir dos medos e frustrações intrínsecos à atividade. No mínimo, querem um conselheiro imparcial, com quem possam discutir os desafios táticos e estratégicos da administração. Colegas, amigos, técnicos e professores auxiliam em vários estágios da vida, mas tais conselheiros podem não ter o conhecimento ou as habilidades necessárias para ajudá-los nas suas empreitadas atuais.

A consultoria de um empresário calejado ou a simples opinião de um colega podem ser mais bem aproveitadas. Abaixo, algumas sugestões, baseadas tanto na experiência de pequenos empresários como na análise dos especialistas em dar uma forcinha para empreendedores, os mentores profissionais:

Avalie necessidades

Uma autoavaliação rigorosa deve anteceder a procura por um mentor. "Você deve entender seus valores, paixões e motivações antes de pedir ajuda", diz Richard Caruso, que deixou sua carreira na indústria financeira em 1989 para fundar a Integra LifeSciences, uma empresa de medicina regenerativa em Plainsboro, no estado norte-americano de New Jersey.

É preciso considerar pontos fortes e pontos fracos e o estilo de administração para saber que tipo de mentor será o mais útil: alguém com experiência funcional, para auxiliar na solução de um problema imediato, por exemplo, ou uma pessoa "de fora", com um ponto de vista novo? Um conselheiro experiente ou um amigo? Relações de longo ou curto prazo? Acon­­selha­­mento em grupo ou interação individual? Responder tais questões pode ajudar na busca. Os possíveis mentores devem ser procurados em grupos comerciais ou industriais, universidades, centros de desenvolvimento e apoio a pequenas empresas ou comunidades on-line.

Mulheres empreendedores geralmente descobrem os benefícios de escalar conselheiros do mesmo sexo. Dee Eliot, vice-presidente da King Relocation Ser­­vices, em Santa Fé, na Califórnia, e também proprietária do site YouGottaGoTravel, diz que as mentoras se sensibilizam mais com problemas como o equilíbrio da vida profissional e a etiqueta corporativa. "As mulheres precisam ser profissionais e ainda assim se mostrarem abertas. Devemos ter mais cuidado com a maneira como somos percebidas", afirma. Dee fundou o programa de mentores em Orange County, também na Califórnia, e faz parte da Associação Nacional das Proprietárias de Empresas dos Estados Unidos.

Personalidade é tudo

Se a combinação de personalidades não está dando certo, o empresário deve buscar outra pessoa. Lena West, fundadora da xynoMedia, uma empresa de estratégia e desenvolvimento de mídia social, passou por vários conselheiros antes de encontrar a pessoa certa. "Alguns mentores querem que sua vida seja igual à deles ou querem que você faça as coisas sempre do jeito que eles mandam. Não desanime se o mentor escolhido não der certo para sua empresa. Apenas mantenha-se firme nos seus objetivos, reconheça o erro na escolha e siga em frente", aconselha West.

Controle no assessorado

Mentores costumavam ser velhos pragmáticos que irradiavam raios de sabedoria. Hoje em dia, as pessoas que os procuram é que devem guiar o processo. O aconselhado precisa ser humilde em seus objetivos e expectativas, além de estabelecer protocolos para a frequência dos encontros e a melhor forma de comunicação. Deve também preparar questões e refletir sobre as opções que tem antes de levantar tópicos. Relações bem-sucedidas com o mentor precisam de estrutura e responsabilidade. Muitos processos de aconselhamento conseguem ultrapassar o tempo de contrato, mas cada parte deve avaliar se continuam sendo beneficiados para se manterem engajados.

Regras claras

A honestidade das avaliações precisa ser garantida – por meio de contrato, se necessário. A confiança é vital, logo, conselheiros que apresentem conflito de interesses, como negócios concorrentes, devem ser evitados. "O novo empresário irá aprender rapidamente que todo mundo possui motivações veladas", diz Alan Marnett, que fundou o site BenchFly.com, uma página que dá suporte ao Serviço de Mentores para Iniciativas do MIT, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts, um programa para universitários empreendedores. O serviço exige que os mentores assinem acordos de confidencialidade e também os proíbe de investir nas empresas de seus aconselhados.

Conselheiros mais prudentes e com mais tato são os preferidos, e com razão. "É extremamente importante proteger as informações, sejam elas sobre um novo produto ou sobre problemas familiares do empresário", explica Brian Constano, vice-presidente sênior de filiação global na Organização dos Empreendedores. Como confiança é algo difícil de se construir em meios on-line, sites como o PartnerUp e MicroMentor incentivam os usuários a classificar a confiabilidade e a astúcia dos mentores. Mesmo assim, todos devem usar o bom senso e "ser cuidadosos ao compartilhar informações confidenciais", alerta David Hemler, vice-presidente sênior de uma empresa de pequenos serviços filiada à Deluxe Corp., proprietária do PartnerUp.

Opiniões variadas

Um mentor não dá conta de tudo. Por isso, o empresário deve cultivar relacionamentos com diversos mentores para o seu desenvolvimento pessoal e profissional. "Uma única pessoa não é um guru. Com uma equipe [de mentores] você obtém o controle de qualidade das ideias e também há o aspecto sadio do relacionamento social. Todo mundo aprende com o erro dos outros", diz Sherwin Greenblatt, diretora do serviço de mentores do MIT, que oferece até quatro conselheiros para executivos.

O equilíbrio entre instintos e a opinião de outras pessoas deve ser uma busca constante, uma vez que empreendedores costumam receber conselhos conflitantes – o clássico "Confie nos seus sentimentos" versus o "Esteja sempre aberto para receber conselhos".

Desentendimentos com os mentores são inevitáveis. "Seus instintos podem ser fortes, especialmente quando existe um nicho que o empresário entende melhor. Todavia, quanto mais importante a decisão, mais eu tento incorporar os conselhos do meu mentor. Se você rejeitar seus mentores, eles perdem o interesse pelo seu caso. Você não precisa seguir todas as recomendações, mas se você ignorar continuamente um conselheiro, pode ser que seja melhor cada um seguir seu caminho", afirma Marnett.

Os mentores também podem auxiliar ao ressaltar obstáculos e fraquezas que o empresário evita. Shannon Cassidy, diretora-executiva da Bridge Between, uma empresa de coaching da Filadélfia, cita uma cliente tímida que preferia não chamar a atenção com roupas ou maquiagem. Sua mentora a encorajou a reformular sua imagem e levá-la às compras. "Até a postura desta mulher mudou. Ela ganhou mais confiança. É preciso criatividade por parte do mentor e mais abertura por parte do cliente. Às vezes os dois irão montar um plano de negócios, às vezes irão escolher um cachecol ou sapato. A relação pode ser estendida para qualquer área da vida", disse Cassidy.

* * * * * * * * * * * * *

Interatividade

Que experiências você já teve ao buscar conselhos sobre administração de negócios ou carreira profissional?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.