Para o professor da Universidade de São Paulo (USP) Chen Tsung Jye, ainda há pouco interesse dos brasileiros em relação aos chineses. Para Jye o conhecimento mútuo ajudaria a melhorar os negócios entre os países. Leia a seguir a entrevista que o engenheiro químico chinês, há trinta anos no Brasil, concedeu à Gazeta do Povo.
Qual a principal barreira cultural, além da lingua?A língua já é uma grande barreira, mas a pior é o pensamento. A tradição chinesa, com influência taoísta e budista, é muito diferente da cultura ocidental. O oriental nunca deixa as suas intenções totalmente claras, e isso tem de ser interpretado pelo interlocutor.
O que os brasileiros deveriam aprender sobre os chineses para ficar em igualdade na hora de uma negociação comercial?Os brasileiros precisam tentar entender a cultura e o pensamento do chineses. Hoje o ocidente já tem acesso a este tipo de informação.
Na minha percepção, o interesse chinês na cultura brasileira é muito maior do que o do Brasil na China. Hoje, há muitos grupos de universidades chinesas que vem ao Brasil e poucos de brasileiros na China. O interesse inicial dos chineses que vem para cá é cultural, mas pode virar comercial também.
O senhor acha que o modelo econômico chinês, com empregados que trabalham muito e ganham pouco, tem vida longa?O modelo está mudando rapidamente. Já não há a situação miserável de anos atrás. Hoje as delegações que recebemos no Brasil são de pessoas bem vestidas, que falam inglês, o que quer dizer que os chineses estão mudando. Hoje a renda média mensal do chinês é de 500 dólares, o que faz com o ele possa pagar uma universidade para os filhos, que na China é privada.
O chinês tem uma cultura de trabalho maior que a nossa? Na China há o problema da competição. Como o país tem mais de 1 bilhão de pessoas, a concorrência é muito grande, todos têm que se esforçar muito para conseguir uma boa educação e oportunidade de trabalho.
Quem estuda lá, estuda muito. O chinês tem a tradição de fazer todo o sacrifício para dar um estudo melhor para os filhos, pois entende que a educação é a forma mais rápida de alcançar uma condição melhor de vida.
No Brasil, a procura pelo estudo da língua chinesa está aumentando?Sim, mas ainda é pouco. Muitas pessoas e empresas me procuram para que eu indique pessoas que falam chinês e português, mas ainda há poucas pessoas preparadas no Brasil. Quem quiser estudar chinês vai ter emprego.(ML)
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast