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Washington - Pergunta: O Irã ameaça executar Amir Mirzaei Hekmati, um americano de origem iraniana acusado de trabalhar para a CIA no desenvolvimento de jogos com propaganda ideológica. As agências de inteligência dos Estados Unidos estão realmente gastando seu tempo com o desenvolvimento de videogames?
Resposta: Se isso for verdade, os projetos são supersecretos. A CIA não quis falar com a reportagem e já afirmou publicamente que Hekmati não é um espião dos Estados Unidos. Mas, isso não quer dizer que não existam jogos de videogame sendo utilizados pela CIA para tentar conquistar a mente e o coração de seus inimigos.
A empresa para a qual Hekmati supostamente trabalha, chamada Kuma Reality Games, desenvolveu uma série de jogos on-line que tem como tema situações militares realistas baseadas em eventos recentes. O primeiro título lançado, "Uday and Qusays Last Stand" (Os últimos momentos de Uday e Qusay, em tradução literal), coloca os jogadores na pele de soldados americanos durante a batalha na qual os filhos de Saddam Hussein foram mortos. Os outros jogos são versões bastante realistas de operações do exército dos Estados Unidos, como a que matou Osama Bin Laden, ou o envio das tropas a Bagdá e a recente caçada a Muamar Kadafi na Líbia. Em geral, a narrativa desses jogos apresenta uma visão de mundo pró Estados Unidos, e muitos deles incluem as vozes e os comentários de antigos oficiais do exército americano. Contundo, ao invés de uma campanha de propaganda ideológica, esses jogos parecem ser apenas uma forma de faturar com as últimas manchetes. Todos eles podem ser jogados gratuitamente na internet por qualquer pessoa que visualize os anúncios patrocinados.
Se as agências de inteligência dos EUA estivessem desenvolvendo jogos de videogame secretos com o objetivo de fomentar o descontentamento no Irã ou em outros lugares, eles provavelmente seriam menos violentos e mais voltados para situações em que o jogador deve tomar decisões realistas.
Ian Bogost, professor da Georgia Tech e cofundador de uma empresa que desenvolve jogos como ferramenta de marketing, afirma que os jogos mais convincentes são aqueles que imitam os sistemas do mundo real e dão ao usuário a chance de ver as consequências de diferentes linhas de ação. Para obter sucesso, um jogo voltado para o público iraniano deveria exibir os abismos do islamismo ou a importância dos movimentos democráticos de oposição. (Ele certamente não seria chamado de "Ataque ao Irã", como um dos jogos desenvolvidos pela Kuma.) O jogo "People Power: The Game of Civil Resistance" (Povo no poder: o jogo da resistência civil), desenvolvido pelo Centro Internacional de Conflitos Não Violentos, é um bom modelo. Ele é um jogo de estratégia por turnos, durante o qual o jogador cria alianças e escolhe táticas para garantir os direitos civis e a liberdade de uma população oprimida.