Pouco mais de um ano após o início da crise econômica mundial, o mercado de carros usados e seminovos ainda não se recuperou completamente da recessão. Apenas na Grande Curitiba, mil postos de trabalho foram extintos com o fechamento de 250 lojas em 2009. A expectativa do setor para o próximo ano é de melhora nas vendas. Segundo dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), o volume de vendas de carros usados em novembro deste ano foi 15,1% maior do que o do mesmo mês de 2008. Ainda assim, quando comparados os totais de vendas entre os meses de janeiro a novembro, nota-se que em 2009 foram vendidos 306.788 carros a menos do que no ano anterior, o que significa uma queda de 4,67% no número de vendas no período.Os números fazem mais sentido quando observada a situação do mercado antes da crise. Até setembro do ano passado, segundo a Fenabrave, o país registrava uma alta de 6% nas vendas sobre o ano anterior. Quando a crise estourou, a desvalorização dos veículos causou um prejuízo imediato às revendedoras, proporcional ao tamanho de seus estoques. O número de pessoas que conseguiam financiamento também caiu drasticamente devido às mudanças nos critérios de aprovação de crédito. Esses fatores frearam o crescimento do segmento, que, ao término de um ano inicialmente promissor, foi de apenas 2%.
O mercado de usados teve de enfrentar ainda a concorrência do carro zero, que ficou mais atraente depois do anúncio feito pelo governo da redução do IPI, no final de abril, e que só agora está gradualmente voltando ao patamar anterior. Com isso, o vendedor de carros usados viu-se obrigado a baixar os seus preços.
"O grande desafio de 2009 foi adaptar-se à nova realidade e manter-se no mercado. Com os indicadores favoráveis para o próximo ano, esperamos voltar a crescer como antes", diz Gilberto Deggerone, diretor-geral da Assovepar, que representa os varejistas de usados no Paraná. O diretor cita também a inexperiência de parte dos revendedores como mais um motivo para o grande número de lojas fechadas neste ano. Para ele, é difícil manter-se no mercado sem qualificação.
Entre os atingidos pela crise, encontram-se empresários com até 40 anos de mercado, como é o caso de Luiz Carlos Maia, dono da Turbo Car, na Vila Izabel. Ele conta que demitiu três vendedores no último ano e cuida sozinho de sua loja. "Não adianta ter vendedores se não há venda", justifica Luiz, cujos ganhos mensais caíram pela metade neste ano.
Já João Carlos Amaral, um dos proprietários da Holanda Veículos, no bairro Boa Vista, decidiu assumir o prejuízo logo que a crise estourou. Ele vendeu todo o seu estoque com os novos preços, ajustados pela desvalorização dos veículos de, em média, 30%, antes de voltar a comprar outros carros. A estratégia adotada por Amaral reduziu suas perdas, menores do que a de outras lojas que decidiram aguardar antes de baixar seus preços.
Sobre o momento atual, o revendedor diz ainda que o mercado voltou a se estabilizar e que espera recuperar em 2010 o que perdeu. Sua esperança é alimentada pelo retorno do crédito mais facilitado e pela prorrogação do IPI reduzido até março, fato que diminui a correria do consumidor para comprar o carro zero e dá tempo a ele para pesquisar. Segundo Amaral, com a mesma quantia, o comprador pode adquirir um seminovo repleto de acessórios e mais potente e confortável do que um carro de fábrica sem os mesmos benefícios.