É natural que a recessão longa, profunda e ainda longe do fundo do poço seja associada ao plano de ajuste fiscal apresentado pelo governo no fim do ano passado. Afinal, o corte de gastos e aumento de impostos têm efeitos contracionistas sobre a economia. A explicação para a crise, porém, está em outra parte.
Os dados do PIB mostram que o gasto do governo, dentre os componentes que compõem a demanda, é o que menos cai. O investimento começou a retroceder há mais de dois anos. Depois começou a cair o gasto das famílias, seguido do gasto público. O corte no orçamento federal não foi elevado a ponto de ser esse o fator a levar o país para a recessão.
É bom lembrar que o investimento cai há nove trimestres. Ele é o termômetro da confiança na economia, da qualidade do retorno esperado pela iniciativa privada (afinal, ela é responsável pela maior parte dessa rubrica). Parece que a deterioração das contas públicas vista desde 2012/2013 já vinha contaminando as expectativas e reduzindo o investimento.
Há também o problema crônico da indústria, que vem perdendo dinamismo desde 2013 e hoje produz menos do que em 2008. O setor perdeu espaço por causa do câmbio e do baixo investimento ao longo dos anos que a tornou pouco produtiva e inovadora. O subinvestimento não será revertido antes que a economia se estabilize.
O choque de realidade de 2015, com reajuste de preços de energia e combustíveis, fez com que a crise chegasse ao consumo das famílias e ao gasto público. No fim do primeiro semestre de 2014, quando a recessão oficialmente começou, o governo não agiu. Continuou gastando e maquiando as contas de olho nas eleições. O ajuste fiscal é a correção de uma rota suicida que poderia provocar um desajuste ainda maior.
O problema é que o ajuste não andou e a recessão passou a ser acompanhada de uma crise política sem fim à vista. As perspectivas para o investimento e para a indústria continuam nubladas e a recessão chegou com força ao emprego, acentuando a curva de derretimento do PIB. Não é, portanto, o ajuste fiscal a causa da recessão, mas sim políticas que elevaram preços e gastos públicos sem qualquer ganho de produtividade para o país.
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