"Sorriso enigmático" já colocou Levy em maus lençóis
O novo ministro da Fazenda também tem uma característica marcante que já o deixou em maus lençóis no passado. Quando está nervoso, Joaquim Levy congela um sorriso no rosto, que às vezes é confundido com deboche.
Em 2005, durante um depoimento do então ministro da Fazenda Antonio Palocci na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados, o deputado Rodrigo Maia fazia suas perguntas a Palocci quando notou e denunciou que o secretário do Tesouro sorria. Furioso, Maia disse: "O senhor está achando graça no que eu estou dizendo, doutor Levy?"
Como o secretário não disse nada, o deputado cobrou providências ao presidente da comissão, deputado Geddel Vieira Lima. Este, por sua vez, repreendeu Levy, advertindo-o para que não mais desrespeitasse o nobre deputado pefelista. O problema é que Levy não estava rindo de Rodrigo Maia e sim mostrando o tal sorriso nervoso.
"Ele entendeu em algum momento que aquele sorriso é um cartão de visita. Ele não sorri daquele jeito na vida real", disse um amigo.
Certa noite, ao jantar com uma das principais lideranças do PT na área econômica, a presidente Dilma Rousseff perguntou ao interlocutor quem estaria disposto a assumir o desafio de recuperar uma economia tão cheia de problemas. "O Joaquim certamente aceitaria", foi a resposta. "Se o quadro fosse mais ameno, não teria graça para ele", acrescentou o interlocutor. Gostar de um desafio é uma das características do engenheiro naval Joaquim Levy, de 53 anos, futuro ministro da Fazenda. Ele também carrega a fama de perfeccionista e workaholic.
Quando era secretário do Tesouro Nacional no governo Lula, Levy trabalhava madrugada adentro a ponto de deixar ternos no gabinete para não ter que ir em casa trocar de roupa. Levy muitas vezes preferia espremer seu 1,93m e dormir no sofá do gabinete para não perder tempo.
Na rotina de trabalho do futuro ministro, responder e-mails e pedir dados à equipe no meio da madrugada são comuns, tanto no governo federal quanto no tempo em que ficou à frente da secretaria de Fazenda do Rio e do Bradesco Asset Management (Bram), de onde saiu para substituir Guido Mantega.
Alguns dos adjetivos usados para descrevê-lo por ex-subordinados são "genial", e "fantástico". Isso, porém, não significa que ele não cobre ou não seja exigente com quem trabalha com ele. De acordo com um assessor dos tempos do Tesouro, para convencer o chefe de alguma ideia com a qual ele não concordasse era preciso "suar a camisa": "Não é que ele seja teimoso, mas ele é muito bem preparado. Por isso, se for para discordar dele, é bom ter argumentos na ponta da língua."
Determinação
Levy está agora no lugar almejado por alguém que é conhecido como fiscalista ferrenho: no governo. Amigos e colegas de trabalho são unânimes em afirmar que sua determinação para manter as contas sobre controle é única. Enrola quem pede verba, briga feio e argumenta.
Para a economista Monica Baumgarten de Bolle, a ascensão de Levy com a escolha para a Fazenda representa o mesmo que sair da última fileira da classe econômica para o assento número um da primeira classe. "Ele é um cara que não tem enrolação, não tem embromação. Faz, pensa, elabora, faz a estratégia e executa. O estilo do Joaquim é de ter resultado rápido. E ele não tem medo de ser impopular."
A austeridade fiscal defendida pelo futuro ministro, por exemplo, está longe da unanimidade. "Ele tem princípios e visões semelhantes ao que o mercado financeiro defende. Todo mundo fala de globalização, mas não incluem em seus modelos. São muito provincianos. Estamos resvalando para uma recessão", afirma Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp.
Futuro ministro enfrentou cúpula do Banco Central
Em seu tempo de Tesouro, Joaquim Levy tinha divergências com a cúpula do Banco Central. O então diretor de Política Econômica do BC, Afonso Beviláqua, era seu principal desafeto. Na época, a Fazenda criticava a política de juros altos do BC e Levy criticava duramente Beviláqua, considerado o mais conservador da equipe de Henrique Meirelles. As divergências ficaram explícitas quando Levy afirmou que os juros projetados pelo mercado naquele momento não eram condizentes com os indicadores econômicos e insinuou que o BC estava confortável com a situação.
O ministro Palocci teve que intervir e decidiu publicar uma nota à imprensa repreendendo publicamente Levy . Agora, o quadro é outro. O futuro ministro usa constantemente o pronome "nós" para falar da unidade entre os ministérios da Fazenda, do Planejamento e do Banco Central.
Na secretaria de Fazenda do Rio, que assumiu em 2007, Levy contou com o apoio de Sérgio Cabral para blindá-lo das pressões políticas. Suas ações eram consideradas inegociáveis. "Agora, vai ser curioso ver como ele vai lidar com as pressões do partido da base do governo. Esfriar CPIs que podem dar até em impeachment vai custar caro, e esse dinheirinho do varejão não vai estar disponível", comentou uma pessoa que trabalhou com ele na secretaria.
Julgamento do Marco Civil da Internet e PL da IA colocam inovação em tecnologia em risco
Militares acusados de suposto golpe se movem no STF para tentar escapar de Moraes e da PF
Uma inelegibilidade bastante desproporcional
Quando a nostalgia vence a lacração: a volta do “pele-vermelha” à liga do futebol americano
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast