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Há alguns dias, vi o relato numa rede social de uma colega, que contou ter ido a uma loja "para dar uma olhadinha e ver se tem coisa nova" – a tal loja, ligada a uma rede multinacional, havia sido reformada recentemente e estava com nova organização e novo visual. No seu comentário, ela elogiava a loja e reclamava de si mesma, porque havia gastado demais. "Fica praticamente impossível sair de lá sem pelo menos um lencinho, uma camisetinha, uma bolsinha, um cintinho, um vestidinho", escreveu. "Ou, pior: você se anima e vai pegando isso, aquilo, aquilo outro que combina. Quando vê gastou 600, 800, 1.200, 2 mil..."

Ela tem razão. Mas vale observar que – ao contrário do que muitos pensam – esse entusiasmo consumista não é só uma característica feminina. Conheço homens que são um perigo em lojas de eletrônicos. Outros que precisam evitar empórios gastronômicos, aqueles que vendem produtos especiais, temperos e bebidas. Eu tenho um fraco por livrarias. Posso passar horas pelos corredores e sairia carregado de livros (isso se tivesse onde colocá-los e tempo para desfrutar de todos eles; o que estou lendo atualmente, acredite, foi comprado em 1995 e continuava aguardando seu lugar em uma fila sempre crescente). Como se vê, a diferença não está no pendor pelo consumo, mas no tipo de mercadoria sobre os quais nos atiramos.

Em uma entrevista, tempos atrás, ouvi uma explicação simples e eficientíssima a respeito. É que há uma relação desigual entre consumidores e vendedores. As grandes lojas têm estudos aprofundados sobre o comportamento do consumidor, estão em dia com as novidades do marketing e sabem muito bem as tendências do mercado em que atuam. No caso, das lojas de roupas, elas sabem no que as pessoas (em geral) estão interessadas, quais são os lançamentos dos grandes costureiros e têm agilidade para produzir e expor aquelas mercadorias que, de antemão, já se sabia que venderiam bem. Já o consumidor...

Bem, o consumidor passa "para dar uma olhadinha" e é cercado por uma doce emboscada. Só lhe resta embarcar. Ou não?

Perceba que o sujeito que age dessa forma sofre duplamente. Primeiro, porque compra algo que (quase sempre) não precisa. Segundo, porque paga mais caro – afinal, não pesquisou preços nem atributos do produto com antecedência, de modo que não conhece o custo-benefício real.

É claro que não precisa ser assim. Uma atitude consciente diante do consumo exige que o indivíduo reconheça esse desequilíbrio e tome precauções para não cair em armadilhas. Cito pelo menos três auxílios que podem ser úteis:

• saia de casa com uma lista de compras. Elas são mais eficientes no supermercado, porque tornam a compra mais objetiva – você procura apenas o que interessa –, mas podem ajudar em outras situações. Ela precisa ser detalhada. Vai comprar um aparelho de tevê? Se tiver em mente as especificações (tamanho da tela, número de entradas de que vai precisar, funções desejadas), vai ser mais fácil comparar preços e fazer uma escolha inteligente;

• tenha em mente as suas necessidades. É bem comum que o consumidor confunda as necessidades com seus desejos. Pergunte-se a si mesmo se realmente precisa dessa roupa ou desse aparelho;

• evite as tentações. Se o orçamento estiver comprometido, não vá passear na Zara, na Fnac, no Mercado Municipal.

Do leitor

Veja o que diz a Maria Victória. "Apavoro-me toda vez que tenho que comprar um carro. A primeira coisa que eles dizem é: ‘Como é para você, vai custar tanto’. Respondo: ‘Como, se você nunca me viu?’ E por aí segue uma negociação que parece ficção. Acho cansativo e chato. Pergunto: Por que não existe um preço fixo? Quando fecho o negócio me sinto mal, pois tenho certeza que estou sempre sendo lesada. O carro é só um exemplo. Existe preço à vista neste país?"

Boa pergunta. O fato é que as empresas buscam sempre elevar os seus ganhos, inclusive cassando a autonomia de seus funcionários para fazer concessões aos clientes. Mas não desista. As boas empresas sabem tratar o consumidor. Difícil é encontrá-las...

Mande sua mensagem para financaspessoais@gazetadopovo.com.br.

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