O restaurante Cardamom serve em média 200 refeições por dia, metade delas para funcionários de um edifício do HSBC que fica bem em frente, do outro lado da Avenida Presidente Kennedy, em Curitiba. Nas últimas semanas, em meio a notícias desencontradas sobre a venda da operação brasileira do banco, o clima entre eles tem sido de apreensão.
Caixa da prefeitura sente o baque da saída do HSBC
O caixa do município também vai sentir o baque da saída do HSBC, porque o banco é o maior pagador de Imposto Sobre Serviços (ISS) da cidade. No ano passado, recolheu R$ 84 milhões, o equivalente a 8,5% da arrecadação desse tributo, ou 1,3% de todas as receitas da prefeitura.
Leia a matéria completaApreensivo também está o dono do restaurante, Alexandre Domingues Pareja. “Se as atividades nesse prédio forem encerradas, nosso faturamento cai pela metade de uma hora para outra”, diz. A declaração oferece uma pequena amostra do que a saída do HSBC do Brasil pode representar para a economia da cidade que hospeda a sede do banco no país.
O banco emprega 7,1 mil pessoas em Curitiba e região, sem contar estagiários e terceirizados. O número equivale a todos os empregos gerados pela economia da capital no ano passado – 7.106 postos de trabalho, segundo o Ministério do Trabalho.
Cerca de 1,2 mil bancários trabalham no edifício da Kennedy, que fica no bairro Água Verde e concentra atividades de tecnologia da informação (TI). Além desse, o HSBC mantém outros quatro núcleos administrativos, nos bairros Hauer, Xaxim e Portão e no Palácio Avenida, no Centro. Somados, esses cinco endereços empregam pelo menos 5,8 mil bancários, segundo o sindicato da categoria.
Faltou volume
O baixo volume de operações do HSBC em relação à sua estrutura explica os maus resultados – em 2014, o prejuízo foi de R$ 550 milhões. “O que faz os lucros bilionários são os altos volumes de operações, algo que o HSBC nunca alcançou no Brasil”, diz Alberto Matias, da USP.
Esses empregos são os mais ameaçados pela venda do HSBC Brasil. Uma vez que os candidatos tidos como favoritos à compra do banco – Bradesco, Santander e Itaú – já têm suas próprias sedes no país, é muito provável que o novo dono abra mão da área administrativa do banco inglês. “Quanto mais estrutura administrativa tiver o comprador, mais ela vai coincidir com a do HSBC e, portanto, maior deve ser o enxugamento”, diz Alberto Borges Matias, professor de Finanças da USP.
Funcionários torcem por comprador estrangeiro
Embora Bradesco, Itaú e Santander despontem como favoritos para a compra do HSBC, e o BTG Pactual pareça correr por fora, os funcionários do banco inglês mantêm a esperança de que alguma instituição estrangeira sem atividades no Brasil possa se interessar pelo negócio.
Leia a matéria completaComo os potenciais compradores também têm uma vasta rede de agências, alguns pontos de atendimento do HSBC tendem a ser extintos, ameaçando os empregos de parte dos 600 bancários que trabalham nesses locais em Curitiba e região. O HSBC tem 30 agências na capital, várias delas próximas a unidades do Santander, do Bradesco ou do Itaú – que têm, respectivamente, 60, 70 e 80 agências.
O banco inglês conta ainda com uma empresa de desenvolvimento de softwares, a HSBC Global Technology (GLT), que tem quase 700 funcionários em Curitiba e cujo futuro é uma incógnita.
Reação em cadeia
A extinção de agências e o fechamento dos edifícios administrativos, com a dispensa de profissionais desencadeariam uma reação em cadeia na economia de Curitiba, em termos de emprego, renda e arrecadação de impostos. Para começar, agravariam a delicada situação do mercado de trabalho nestes tempos de recessão – de janeiro a abril, a cidade fechou mais de 800 vagas formais.
Para além da perda de renda dos demitidos, haveria forte impacto sobre o comércio que desde os tempos de Bamerindus se desenvolveu na vizinhança dos núcleos administrativos, e também sobre as inúmeras empresas contratadas pelo HSBC, das terceirizadas de limpeza, segurança e guarda de documentos às que prestam serviços mais sofisticados.
Apenas na área de TI, cinco companhias com filiais em Curitiba – duas brasileiras, uma indiana, uma francesa e uma japonesa – têm boa parte de seu faturamento vinculada a contratos com o HSBC, segundo um levantamento informal da prefeitura. Juntas, elas empregam perto de 2,5 mil pessoas.
Especialista vê chances para empresa de TI
Curitiba hospeda, desde 2005, um dos seis centros globais de desenvolvimento de software do HSBC. Conhecidos como HSBC Global Technology (GLT), eles prestam serviços de tecnologia da informação a todas as empresas do grupo HSBC no mundo – além do Brasil, há unidades do GLT na Índia, China, Malásia, Polônia e Canadá.
Segundo dados de 2013, cerca de 700 pessoas trabalham no GLT de Curitiba, várias vezes reconhecido como uma das melhores empresas para se trabalhar no estado. Naquele ano, a unidade curitibana faturou R$ 112 milhões.
O professor de Finanças da USP Alberto Borges Matias vê boas chances de que, mesmo vendendo suas operações bancárias, o HSBC mantenha o GLT no Brasil. “Com a desvalorização do real, a estrutura ficou mais barata para padrões internacionais. Acredito que essa empresa não venha a fazer parte do processo de venda”, diz.
Matias também acredita que o comprador do HSBC possa aproveitar parte dos funcionários administrativos em Curitiba. “O HSBC tem uma estrutura de pessoal qualificada. O comprador poderia contratá-los, substituindo parte dos seus.” (FJ)
Reforma tributária promete simplificar impostos, mas Congresso tem nós a desatar
Índia cresce mais que a China: será a nova locomotiva do mundo?
Lula quer resgatar velha Petrobras para tocar projetos de interesse do governo
O que esperar do futuro da Petrobras nas mãos da nova presidente; ouça o podcast