Ironicamente, a bilionária indústria cinematográfica americana foi fundada por produtores "piratas". Em 1912, esses pioneiros deixaram Nova York para fugir da guerra judicial promovida por Thomas Edison, que detinha as patentes dos equipamentos de filmagem e projeção, e rumaram para a costa oeste dos EUA, onde fundaram Hollywood.
O sucesso só cresceu e logo o cinema era a diversão preferida dos americanos. Isso até o surgimento do primeiro concorrente, na década de 50: a televisão, vista como uma inimiga. Com o VHS, nos anos 80, aconteceu o mesmo. Os estúdios tentaram inclusive sufocar na Justiça a nova mídia, temendo uma queda ainda maior nas bilheterias bastante semelhante ao que acontece hoje, com a chamada pirataria online.
Apesar de todo o temor, hoje, em média, 80% da receita dos filmes americanos não vem das salas de exibição. Agora os vilões são os downloads. Mas, com a queda nas vendas dos DVDs, a pergunta que fica é: até quando?
O império prepara o contra-ataque, com novas armas. Mais de 20 filmes devem ser lançados em 3D apenas neste ano que começa. A primeira sala brasileira de exibição no sistema Imax com tela 3D gigante, em que a imagem parece saltar em direção à plateia será inaugurada em São Paulo na sexta-feira (a próxima deve ser no Shopping Palladium, em Curitiba, e a inauguração está prevista para maio). As salas em 3D convencionais também estão se popularizando, e a primeira do Paraná foi inaugurada no mês passado, no Shopping Mueller.
Não é só de imagens impactantes e som cristalino que se faz o futuro desse "novo cinema". Muito conforto e uma grande variedade de serviços também entram na conta. A Cinemark inaugurou no Shopping Cidade Jardim, em São Paulo, uma sala premier que oferece "serviço de bordo", com garçons e poltronas similares às da primeira classe de um avião. Já é possível ainda, em muitas salas, comprar ingressos com antecedência e lugares marcados via web.
Na prática o que se vê é o cinema lutando para oferecer ao público a certeza de uma experiência impossível de ser reproduzida em outro lugar. Claro que os estúdios não amoleceram a briga contra os piratas, mas já perceberam na rede uma possível aliada, com downloads pagos e o uso da rede para fortalecer, a preço baixo, as estratégias de divulgação.
O centro da questão está no modelo de negócios das empresas do setor, que está centrado numa lógica à moda antiga: alguns fazem e vendem para outros consumirem. Esse jeito de fazer as coisas está caminhando para a extinção. O consumidor conectado à web quer assistir aos mais variados filmes e tem como consegui-los de graça, mesmo que ilegalmente. Os estúdios querem os consumidores assistindo a determinados títulos (os que estão no cinema ou em DVD) e pagando (às vezes caro) por eles. Não haverá entendimento enquanto as motivações assim se mantiverem.
Analisemos o último exemplo grande de "pirataria": The Dark Knight, o mais recente filme do Batman, foi o mais baixado pela internet em 2008, segundo o site TorrentFreak, encostado no líder de todos os tempos, Titanic (2001). Isso ocorreu por causa da instantaneidade da rede e do poder de compartilhamento.
Mas o fenômeno da pirataria não impediu que The Dark Knight também fosse a maior bilheteria de 2008 e uma das maiores da história: quase US$ 1 bilhão. O filme foi um sucesso estrondoso, apesar do chororô de Hollywood. "A pirataria é a maior ameaça à indústria do cinema. Perdemos US$ 18 bilhões por ano", afirmou ao Link Dan Glickman, presidente da Motion Pictures Association (MPA), associação que congrega os maiores estúdios de cinema dos EUA. Mas o que explica a contradição entre pirataria e consumo "legal" ocorrendo concomitantemente? O fato de que a internet pode até ser a vilã, mas é também a mais nova mocinha dos estúdios. A estratégia de publicidade de The Dark Knight foi ostensivamente via web. A internet, portanto, ajudou e prejudicou a Warner.
Assim, continua sem solução o dilema que tanto aflige os estúdios e distribuidoras e as gravadoras, e as lojas de discos etc etc: as pessoas estão dispostas a pagar por algo que poderiam ter de graça?
Para o escritor inglês e "defensor dos piratas", Matt Mason, autor do livro The Pirates Dilemma, a resposta é sim. "Ao baixar um filme de forma legal o consumidor está comprando um produto seguro, longe de vírus e pronto para ser visto", disse Mason.
Os downloads legais são o caminho que parece mais agradar às produtoras. Não é de espantar. A produção e a exibição com tecnologia digital começam a se popularizar. Quanto mais os filmes abandonarem a película, mais vantajoso será para os estúdios.
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