São Paulo - A voz do jovem blogueiro palestino Sameh Akram Habeeb, de 23 anos, soava cansada no telefone ao falar com a reportagem pela segunda vez na última semana. "Está tudo bem por aqui... Só que os bombardeios ainda não acabaram (suspiro). Você já escreveu meu nome no jornal?", ele pergunta, curioso, mas sem entusiasmo.
Desde o início do cerco a Gaza, há duas semanas, Sameh teve poucas horas de descanso. Ele se dispôs a reportar voluntariamente, pela internet, a situação na cidade de Gaza, onde vive com seus pais, irmãos e irmãs.
Sua casa está sem eletricidade e, a cada dia, ele percorre quatro quilômetros até um local onde pode recarregar a bateria de seu notebook. Nas horas seguintes, telefona para hospitais, ouve as notícias pelo rádio do seu celular e tira fotografias do caos que tomou a região. Em casa, na região leste da cidade, se conecta à internet usando uma precária conexão discada.
Ela é lenta, mas, desde que a banda larga deixou de funcionar, tem sido a única opção para atualizar seu blog "Gaza Strip, the Untold Story" (http://gazatoday.blogspot.com) e o álbum virtual de fotografias que mantém no site http://picasaweb google.com/sameh.habeeb. No blog, que em português quer dizer "Faixa de Gaza, a História Não Contada", Sameh descreve as dificuldades pelas quais os palestinos que vivem em Gaza têm passado nos últimos dias.
Sameh formou-se em Língua Inglesa no ano passado, mas também faz trabalhos como jornalista independente. Por isso, a cobertura em seu blog tem um tom objetivo, mesmo que ele, pessoalmente, tenha opiniões contrárias às ações de Israel.
Blogueiros palestinos como Sameh têm feito um papel importante durante a ofensiva israelense porque nenhum jornalista estrangeiro teve permissão de Israel para entrar na Faixa de Gaza. Foi com informações de pessoas como Sameh que a mídia internacional conseguiu dizer o que ocorria dentro da Faixa de Gaza.
Sameh é um caso especial porque, além de ter experiência como jornalista, deixa todos os seus contatos no blog. "Estou disponível 24 horas para atender jornalistas. Você pode me ligar a qualquer hora em minha casa", avisa ele no blog. "Meu telefone toca como o de um escritório cheio. Imagino que recebi umas 200 ligações nas últimas duas semanas. Não foram só jornalistas, mas algumas pessoas ligaram para dar apoio, dizer boa sorte e essas coisas", afirma.
A vontade de ajudar e de contar a situação de Gaza trouxe consequências perigosas. Sameh já recebeu ligações anônimas ameaçando-o de morte se não parasse de escrever no blog. Ele diz não ter medo e que apenas não quer que sua família seja machucada. "Vou continuar escrevendo mais e mais. Não vou parar. Sinto que preciso mandar notícias sobre esta guerra."
Após a declaração, Sameh conta que adora o Brasil e quer visitar o país quando tiver férias. Fica curioso para saber se é o custo de vida aqui é alto e ainda diz que em Gaza há muitos fãs de Ronaldo, o jogador. "Sabia que ele já esteve em Ramallah (cidade palestina próxima a Jerusalém)?"
A conversa é interrompida e ele diz "Look, breaking news (olhe, últimas notícias): um jornalista de Gaza foi morto em sua casa. Era um cinegrafista. Acho que foi atingido por um foguete. Nossa, agora estou com medo."