Barganha
Cenário econômico define cacife dos negociadores
Momentos de crescimento econômico e aumento de demanda, como o atual, deixam os trabalhadores com "a faca e o queijo na mão" na hora de negociar. Situações de crise e desemprego, por outro lado, colocam os sindicatos na defensiva. A avaliação é da doutora em sociologia pela UFPR Maria Aparecida Bridi.
"A economia funciona como uma alavanca do poder de negociação. Os sindicatos fazem uma avaliação econômica de perdas e ganhos; quando há aumento de produtividade, eles avaliam como um momento propício para reivindicar aumentos maiores", explica.
Para Cid Cordeiro, economista do Dieese, as reivindicações deste ano são compatíveis com o momento econômico. "As pautas de reivindicação são enxutas, dentro da realidade. A expectativa é sair com o aumento real médio no patamar de 5%, mas sempre há margens, como em qualquer negociação", avalia.
Foi-se o tempo em que a luta sindical se resumia apenas à distribuição de panfletos, discursos inflamados sobre carros de som e mobilização de trabalhadores em porta de fábricas. A luta continua, mas hoje também envolve equipes de advogados, técnicos e estrategistas qualificados, encarregados de realizar, sob um ambiente de extrema tensão, cálculos políticos e análises econômicas sofisticadas. Organização e qualificação técnica podem valer mais do que apenas a capacidade de mobilizar uma categoria para uma greve. Essa força se reflete nos acordos de reposição salarial de dois dígitos, obtidos este ano pelos metalúrgicos de montadoras sem a deflagração de greve geral.
"Para reivindicar um aumento, o sindicato tem de estar pautado em possibilidades reais. É preciso entender a conjuntura econômica, o quanto a empresa vendeu e o quanto pode vender. Para mostrar força, há que se mostrar, acima de tudo, conhecimento", avalia Maria Aparecida Bridi, doutora em Sociologia e membro do Grupo de Trabalho e Sociedade da Universidade Federal do Paraná (UFPR).
O ambiente de uma negociação, em geral, é tenso, e começa com cada lado exigindo o máximo e cedendo o mínimo. "No caso dos bancos, por exemplo, eles não querem abrir mão dos lucros enquanto os trabalhadores buscam que esse aumento da produtividade seja repassado aos salários, na forma de ganhos reais", resume a secretária-geral da Central Única dos Trabalhadores no Paraná (CUT-PR), Marisa Stédile.
O objetivo é encontrar um denominador comum, e cada nova proposta apresentada é analisada pelos negociadores e deve ser referendada pelas entidades envolvidas ou pelas próprias bases através de assembleias. Já a greve equivale a uma "declaração de guerra", e por isso mesmo é sempre considerada o último recurso, usado apenas para forçar o "oponente" a voltar às negociações.
Tal como uma mobilização bélica, a greve também envolve custos políticos e econômicos. A última greve dos bancários curitibanos custou mais de R$ 400 mil, diz Marisa. "O custo envolve a contratação de carro de som, banheiros químicos, alimentação, veículos de apoio, viagens de dirigentes para negociação, pagamento de propaganda em rádios e jornais" explica. Os recursos saem do caixa do sindicato, formado pela contribuição dos associados e pelo imposto sindical. Os gastos podem incluir até mesmo a contratação de "grevistas" em 2008, o sindicato dos bancários contratou 120 piqueteiros para participar dos protestos.
Segundo Maria Aparecida, que tem um estudo sobre o movimento sindical dos metalúrgicos do Paraná, a "profissionalização sindical" contribuiu para que a categoria conquistasse aumentos reais ano após ano na última década. "Temos uma visão de que o Paraná é um estado de baixa atividade sindical, mas, apesar disso, sempre houve ação coletiva. Existem os sindicalistas profissionais, mas uma coisa muito interessante é o surgimento de novas lideranças nas comissões de fábricas de algumas empresas, o que contribui para a formação de dirigentes novos, oriundos da base", avalia.
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