O aquecimento global vai chegar ao bolso do contribuinte na forma de novos impostos. E quem ainda acha que o assunto só interessa aos governos e aos ecologistas deve considerar uma lição histórica, ensina o cientista tributário Gilberto Amaral: os tributos sempre foram a principal arma da humanidade para enfrentar emergências que exijam dinheiro, como guerras e catástrofes naturais.
Amaral, que é curitibano e preside há 16 anos o insuspeito Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), está à frente de um estudo sobre a tributação do futuro, e suas primeiras conclusões não são nada alentadoras para um país em que a derrama de impostos chega a quase 39% de toda a riqueza nacional.
Os cenários traçados pelo estudo apontam 2011 daqui a apenas quatro anos, portanto como o ano crítico para as mudanças mais expressivas no sistema de cobrança de impostos do país. Será o fim do governo Lula e a reforma tributária que se esboça e se adia desde 1992 se imporá como única alternativa para o novo presidente obter recursos que atendam às novas demandas da sociedade.
Entre elas, estarão agigantadas as necessidades que derivam diretamente das mudanças no clima. Especialistas entendem que não será possível evitar o impacto ambiental anunciado, assim como suas conseqüências econômicas.
Para ficar apenas nos reflexos mais evidentes, e já perceptíveis, a agricultura sofrerá com a migração de culturas e perda de produtividade; a água doce ficará cada vez mais escassa, e seu tratamento, mais caro; e a saúde do homem se fragilizará, com a incidência crescente de câncer de pele e de doenças respiratórias, causas de perda de rendimento no trabalho. Se não poupará os ricos, a mudança deve exigir mais sacrifício da população dos países pobre ou emergentes, como manda a nomenclatura política.
O governo precisará de mais dinheiro para:
Enfrentar mais e maiores estiagens, enchentes, queimadas, pragas agrícolas e doenças cenário que lembra a descrição bíblica do fim do mundo, mas está nos relatórios técnico-científicos sobre o aquecimento global.
Investir pesadamente na busca de novas formas de energia sustentável, que preservem a natureza e diminuam nossa dependência do petróleo, fonte não renovável e altamente poluente.
Educar a população para que assuma ativamente seu papel na preservação ambiental, separando lixo, economizando energia e aderindo ao consumo consciente de produtos ecologicamente corretos, por exemplo.
Ninguém se arrisca ainda a prever quanto tudo isso vai custar, ou já está custando, em moeda corrente. Mas uma coisa é certa: "A sociedade vai gastar em dez anos vários PIBs [Produto Interno Bruto, conjunto das riquezas de um país] das maiores nações do mundo", antecipa Gilberto Amaral.