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Desenvolvimento

A nova cidade do papel no Paraná

Josimar, pedreiro, e Edivaldo, carpinteiro, estão com os salários inflacionados por causa da escassez de mão de obra em Ortigueira | Josué Teixeira/Gazeta do Povo
Josimar, pedreiro, e Edivaldo, carpinteiro, estão com os salários inflacionados por causa da escassez de mão de obra em Ortigueira (Foto: Josué Teixeira/Gazeta do Povo)
Campos, secretário municipal de Administração de Ortigueira: entusiasmo e preocupação |

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Campos, secretário municipal de Administração de Ortigueira: entusiasmo e preocupação

Uma cidade pequena, com menos de 25 mil habitantes, cerca de 60% deles vivendo na zona rural, com escolas superlotadas, sem hospital e apenas cinco policiais nas ruas. Na contramão do amargo título de localidade paranaense com o pior Índice de Desenvolvimento Humano no Estado (IDH), com base em dados populacionais do ano 2000, o município de Ortigueira, nos Campos Gerais, vive a expectativa de receber uma unidade da maior produtora de papel do Brasil, a Klabin, cuja construção está orçada em R$ 6,8 bilhões. A cifra fica ainda maior se comparada ao orçamento da cidade para o ano de 2013: R$ 40,16 milhões, menos de 0,6% dos gastos previstos na obra da fábrica.

Como o Projeto Puma, assim apelidado pela Klabin, ainda não foi aprovado pelo Conselho de Administração da empresa, não existe uma data exata para o início das obras da fábrica, cuja sede ficará cerca de 15 quilômetros distante de Ortigueira. Mesmo assim, a Klabin estima que só essa unidade gere cerca de R$ 70 milhões anuais apenas em Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Das 12 cidades da região que serão beneficiadas, Ortigueira vai receber a maior fatia do ICMS – 50% – por ser a sede do empreendimento. Com isso, o orçamento do município deverá quase dobrar.

Preocupação

Ao mesmo tempo, a situação anima e preocupa o secretário municipal de Administração, Altair Campos. Mesmo com a perspectiva de uma injeção de recursos dessas proporções, ele reconhece que Ortigueira não está preparada para receber a população flutuante que começa a procurar a cidade. Só para o pico da obra, no 20.º mês depois do início da construção, a Klabin afirma que cerca de 8 mil pessoas estarão trabalhando ao mesmo tempo.

O número equivale a quase um terço da população atual. "Claro que é um empreendimento muito bom para Ortigueira", diz Campos. "Vai trazer uma série de benefícios, mas precisamos de um compromisso do governo do estado em nos ajudar nesse processo, pois o município não tem condições de dar conta de tudo isso sem apoio."

Apesar de a Klabin não confirmar a informação, segundo ele, uma atividade de preparação do solo do terreno onde vai ficar a fábrica deve ser iniciada nas próximas semanas.

Governo fala em capacitar 8 mil, mas Klabin aponta para 1,6 mil

A Secretaria Estadual do Trabalho, Emprego e Economia Solidária está organizando um mutirão para promover a qualificação de cerca de 8 mil funcionários que estarão trabalhando até o pico da obra. Os planos, no entanto, não batem com o discurso de capacitação imediata de menos de 2 mil trabalhadores da Klabin e com a contratação do restante já com experiência.

Segundo o governo estadual, os cursos serão realizados através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (Pronatec), em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (Senai) – que vai oferecer cursos rápidos, com duração mínima de 160 horas – e do Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem), que oferta cursos mais longos, com duração média de seis meses.

De acordo com um dos diretores da Secretaria, José Maurino de Oliveira Martins, não se sabe precisamente o que este esforço coletivo vai representar em termos de gasto, mas, por enquanto, o custeio estaria sendo feito por meio de verbas federais do Projovem e do Pronatec. "Os primeiros cursos devem começar já em março deste ano", avisa.

As Agências do Traba­­lhador da região devem ajudar não só com o cadastro e a seleção dos interessados em trabalhar na obra, como também oferecer estrutura para capacitação. Nas cinco cidades onde não há uma unidade da Agência, o governo fala em levar uma unidade móvel. A compra do veículo, no entanto, ainda está em fase de licitação. "Esse ônibus que pretendemos adquirir vai ser usado pelo estado em diversas ações da Agência, não apenas para o empreendimento de Ortigueira. Ainda não sabemos, exatamente, quando ele vai estar à disposição", explica Maurino.

Ainda segundo ele, um levantamento feito pela Secretaria aponta que a maior parte dos currículos disponíveis nas unidades da Agência da região são de homens – principalmente nas faixas de 18 a 24 anos e 30 a 39 anos – que sequer completaram o ensino fundamental.

O foco, por enquanto, é a busca por profissionais das áreas de construção civil, elétrica, segurança do trabalho e mecânica industrial. Apesar dos números da Secretaria, a Klabin afirma, por meio de assessoria, que só deverão ser capacitadas 1,6 mil pessoas, a partir do segundo trimestre deste ano, e que as outras 6,4 mil seriam mão de obra já com experiência nas funções.

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