O endividamento está crescendo entre a população mais nova. A falta de planejamento financeiro fez com que o número de devedores com até 20 anos dobrasse em um ano. A falta de experiência, as compras por impulso e as facilidades de crédito começam a formar uma nova geração de devedores. Um levantamento da Paraná Pesquisas exclusivo para a Gazeta do Povo revela que 46% dos jovens curitibanos entre 18 e 21 anos têm dívidas. Desses, 23% estão com as contas atrasadas.
"É um número muito alto, principalmente se considerarmos que estamos falando de pessoas que têm apenas duas décadas de vida. Um quarto dessa população já está inadimplente. São jovens que estão crescendo dentro da cultura da dívida", diz Murilo Hidalgo Lopes de Oliveira, presidente da Paraná Pesquisas.
O consumo começa cada vez mais cedo e se ampara sobretudo na combinação do crédito farto, do forte apelo do consumo e da velha necessidade de afirmação dentro do grupo social. "Muitos jovens usam o crédito para transmitir um padrão de vida maior do que o real. O consumo está relacionado a status social. Eles parcelam a compra do tênis com juros, que de R$ 800 passa a R$ 960, o celular de R$ 1,2 mil e por aí vai. E daqui a quatro, cinco meses, eles trocam por um novo. Com isso vem o descontrole das contas", diz Marcelo Segredo, presidente da Associação Brasileira do Consumidor (ABC).
Para ele, trata-se de um problema social que guarda relação com a geração anterior. "Esses jovens cresceram vendo seus pais pendurados, parcelando suas compras, usando o limite do cheque especial. Ao mesmo tempo, esses pais tiveram dificuldade em dizer não e impor limites ao consumo dos filhos." Uma pesquisa da Associação Comercial de São Paulo não há dados sobre o tema em Curitiba revelou que a participação da população com até 20 anos entre os inadimplentes dobrou no último ano passou de 4%, em março de 2009, para 8% em 2010.
Sem experiência
Para o economista da instituição, Marcel Solimeo, parte desse resultado se deve à própria inexperiência. Os consumidores mais novos no mercado têm mais dificuldade para organizar suas contas. Um levantamento realizado com 100 entrevistados mostra que em seis meses os novatos tinham uma inadimplência de 8,4% contra 6,7% do pessoal que já estava no mercado.
Para especialistas, o aumento da chamada bancarização da população também tem facilitado o endividamento. Junto com a abertura da conta bancária, vêm os cartões, o limite do cheque especial, o crédito parcelado, o crédito consignado. Adolescentes têm acesso cada vez mais cedo a esses plásticos.
Segundo a Paraná Pesquisas, 16% dos jovens entre 14 e 17 anos já possuem cartão de crédito. Entre os de 17 e 21 anos, essa proporção sobe para 49%. A armadilha, muitas vezes, está no aumento do limite pelo banco. "O jovem acaba seduzido por aquele crédito, mas não dá para usar o crédito como se fosse a renda mensal. Temos jovens de 21 anos que já estão quebrados", diz Gilmar Mendes Lourenço, chefe do departamento de ciências econômicas da FAE Business School.
Os gastos com jovens e adolescentes também vêm afetando as contas das famílias, que muitas vezes têm dificuldade para fechar o orçamento no fim do mês. "Quando o jovem não se endivida, ele acaba endividando a família."
Para ele, o movimento é preocupante. Dados do Banco Central mostram que cerca de 20% dos brasileiros com mais de 16 anos têm dívidas que equivalem a, pelo menos, quatro vezes a renda média mensal. A retomada do crédito no período pós-crise elevou em 40% o número de brasileiros com dívidas acima de R$ 5 mil. O comprometimento do orçamento com elas vem subindo. Em 2001, as dívidas tragavam 5% da renda do brasileiro. Em 2009, esse porcentual subiu para 18% volum e superior ao do consumidor norte-americano com essas despesas (15%).
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Interatividade
Que atitudes sua família adota para administrar o gasto dos jovens, evitando que gastem acima do que podem e comprometam o orçamento doméstico?
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