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Atividade econômica

A recessão se afasta do Brasil, mas a retomada do crescimento não chega

Cláudia Dionísio, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, apresenta os dados do PIB
Cláudia Dionísio, gerente de Contas Trimestrais do IBGE, apresenta os dados do PIB (Foto: Divulgação/IBGE)

O fantasma da recessão está mais distante da economia com o crescimento de 0,4% no segundo trimestre, comparativamente ao primeiro (veja no infográfico abaixo). Mas os números ainda não são suficientes para indicar a retomada do crescimento, apontam analistas de mercado ouvidos pela Gazeta do Povo. “A economia está se recuperando lenta e gradualmente”, diz Álvaro Bandeira, economista-chefe do banco Modalmais.

Os níveis pré-crise ainda estão distantes. Segundo Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos, os resultados do segundo trimestre ainda estão 4,8% abaixo do melhor momento da economia brasileira, no primeiro trimestre de 2014. E 3,7% acima do pior, registrado no quarto trimestre de 2016.

É preciso cautela, aponta relatório do Itaú distribuído a clientes: “Este segundo trimestre positivo não representa uma aceleração da economia. Além disso, os poucos dados já disponíveis para o terceiro trimestre apontam para nova desaceleração do crescimento trimestral."

Três fatores inibem a entrada em um novo ciclo de expansão. A guerra comercial entre Estados Unidos e China está desacelerando o crescimento da demanda mundial. A crise na Argentina, grande importador de produtos brasileiros, segura o desempenho da indústria. E, ainda, há a necessidade da aprovação da reforma da previdência e avanços na tributária para melhorar a confiança de consumidores e empresários.

“A retomada de boa parte da confiança depende muito do cenário externo e da ajuda das reformas”, diz o economista Marcos Ross, da XP Investimentos. Mas, mesmo diante desse panorama, o mercado recebeu bem o número: o Ibovespa voltou ao patamar dos 100 mil pontos, fechando em alta de 2,37% e o dólar encerrou o dia a R$ 4,172, uma valorização de 0,34%.

No curto prazo, o resultado dos números do segundo trimestre não devem alterar as expectativas para o resto do ano. Uma pesquisa divulgada nesta segunda pelo Banco Central (BC) mostra que as instituições financeiras projetam uma alta de 0,8% no PIB em 2019, inferior aos 1,1% registrados nos dois anos anteriores.

OS PONTOS FORTES

  • Construção civil

Uma das principais surpresas foi o crescimento da indústria da construção civil (+1,9%). “Foi algo bem positivo. Isto mostra que o setor vem reagindo, apesar do crédito não ter aumentado”, diz Lima, da Mapfre. Mas a expansão está mais ligada ao segmento habitacional do que ao de infraestrutura.

Isto, segundo ele, pode ter desdobramentos sobre o restante da economia, já que a construção civil é grande empregadora de mão de obra. No primeiro semestre, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), foram criados 57,6 mil postos de trabalho com carteira assinada. 35,5% a mais do que em igual período de 2018.

Outro fator que contribui para o bom desempenho da construção civil, de acordo com o analista Lucas Carvalho, da Toro Investimentos, é o programa Minha Casa, Minha Vida.

  • Serviços

O setor de serviços, o mais relevante para a economia brasileira, cresceu 0,3% no segundo trimestre, puxando por avanços nas atividades imobiliárias (0,7%) e no comércio (0,7%). O primeiro segmento vem se beneficiando da melhoria na indústria da construção e o segundo, da melhoria do consumo das famílias, que cresceu 0,3% entre o primeiro e o segundo trimestre.

“Depois de dois anos de recessão e dois anos de crescimento fraco, as expectativas estão melhorando. Tem muita gente que está aproveitando, depois de muito tempo, para repor equipamentos mais antigos, como geladeiras e carros”, afirma Bandeira, do Modalmais.

  • Consumo das famílias

O consumo familiar cresceu 0,3% no segundo trimestre, comparativamente ao primeiro. É o décimo trimestre seguido em que os números não ficam no vermelho.

Dois fatores pesam nessa expansão, diz Arbetman, da Ativa Investimentos: a inflação controlada e os juros em baixa.

“Não foi aquele crescimento desejado, mas as expectativas são favoráveis”, destaca Carvalho, da Toro Investimentos. Ele aponta a tendência à redução na Selic, atualmente em 6% ao ano, o que teria impacto nos juros cobrados dos clientes; a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e, no médio prazo, a aprovação das reformas previdenciária e tributária.

  • Investimento privado

O investimento privado (conhecido pelos economistas como formação bruta de capital fixo) teve um crescimento de 3,2% em relação ao trimestre anterior. Segundo o IBGE, a alta foi impulsionada pelo crescimento nas importações e produção de máquinas e equipamentos e pela construção.

Mas, segundo Bandeira, não dá para sair comemorando, uma vez que a taxa de investimento é de 15,9%, alta de 0,6 pontos percentuais em relação ao trimestre. “É pouco, paga só a depreciação”, diz.

O que dificulta uma expansão mais vigorosa do investimento privado é a elevada capacidade ociosa. Atualmente, ela é de 23%, segundo dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em outubro de 2013, antes da crise, era de 16%.

OS PONTOS FRACOS

  • Indústria extrativa

Passados mais de sete meses da tragédia de Brumadinho, que matou mais de 200 pessoas, a Vale ainda sente os efeitos, que se refletem na queda de 3,8% no desempenho do PIB setorial. Minas que tiveram a produção suspensa após o desastre voltaram a entrar em operação.

  • Setor externo 

As importações de bens e serviços cresceram (1,6%), enquanto as exportações caíram (1,0%). Segundo o IBGE, os aumentos mais relevantes nas compras de produtos do exterior ocorreram em máquinas e equipamentos; produtos de metal; máquinas, aparelhos e metais elétricos; petróleo e seus derivados e gás natural. “Isto mostra a estagnação da indústria, que está perdendo competitividade”, diz Ross, da XP Investimentos.

A retração das exportações está associada à retração da demanda externa, por causa da guerra comercial, e à crise na Argentina, principal cliente internacional da indústria brasileira. Somente as vendas de carros caíram 40% no comparativo entre os primeiros semestres de 2018 e de 2019.

E o cenário pode piorar, afirma Lima, da Mapfre: “além da guerra comercial, a Argentina está renegociando os empréstimos com o FMI e há o temor de retaliações da União Europeia por causa dos incêndios na Amazônia.”


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