Em geral, diz-se que a renda fixa costuma ser um investimento conservador, em contraste com as ações, destinadas a pessoas mais arrojadas. Pois no ambiente de crise que se desenha neste primeiro trimestre, a moda é buscar as formas mais conservadoras de renda fixa, capazes de evitar aborrecimentos em um mercado onde as certezas são o ativo mais escasso.
O momento é conturbado por causa das incertezas no mercado internacional em especial a possibilidade de algum dos países europeus afetados pela crise se mostrar incapaz de cumprir seus compromissos financeiros e de dois fatores internos intimamente ligados: a evolução das taxas de juros e a inflação. Bancos e consultorias estimam em 5,3% a inflação de 2012, medida pelo IPCA. O porcentual é menor do que os 6,5% do ano passado.
O investimento nos títulos públicos disponíveis via Tesouro Direto é o caminho indicado pela maioria dos consultores financeiros. A vantagem dos títulos em relação a fundos DI e outras modalidades está nos custos associados à aplicação. Os fundos incluem taxas de administração, que reduzem a rentabilidade líquida do investidor. Em comum, ambos têm a taxação pelo Imposto de Renda, que varia de 15% a 22,5%, dependendo do prazo da aplicação.
Outro tipo de aplicação de renda fixa é em títulos privados, dos quais os mais populares são os Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Normalmente eles pagam um pouco menos que a taxa Selic, a taxa básica de juros, que caiu na semana passada para 10,5% ao ano. "A taxa dos CDBs tende a ficar entre 9% e 9,5% ao ano. Com a tributação, ela tende a ficar bem próxima à inflação", observa o economista José Guilherme Vieira, professor da Universidade Federal do Paraná.
Para Vieira, o investidor deve fazer um movimento duplo, que envolve alocação de recursos e fé. "A hora é de colocar dinheiro em títulos públicos e torcer para o governo controlar a inflação", resume. Isso porque uma eventual alta da inflação acabaria por corroer os ganhos.
Entre os papéis disponíveis no Tesouro Direto, Vieira indica as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), papéis pós-fixados, indexados à taxa Selic. Mesmo com a possibilidade de a Selic cair novamente em março, data da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, ela configura uma alternativa mais conservadora. "Ela é melhor num cenário de incerteza", explica.
Raphael Cordeiro, analista da empresa de gestão de recursos Inva Capital, tem opinião semelhante. "As LFTs vão sofrer menos oscilação", diz. Essa oscilação se refere às operações de recompra, que são feitas semanalmente pelo Tesouro para dar liquidez àqueles investidores que não querem "carregar" o título até seu vencimento. Nesse mercado, os papéis são vendidos a preços de mercado, de acordo com oferta e demanda. Sendo assim, nada impede que eles se desvalorizem. "As Letras do Tesouro Nacional (LTNs), pré-fixadas, têm um padrão de oscilação muito grande por causa das expectativas em relação às taxas de juros", diz Cordeiro. Além das LFTs, a Inva recomenda a compra de CDBs de bancos de primeira linha (os grandes bancos nacionais, sejam privados ou estatais).