Não é novidade que o Brasil possui uma das maiores taxas de juros reais do mundo, a despeito do recente esforço do governo para amenizar esse peso. Para completar, também somos o único país do planeta onde na teoria não há diferenciação entre o preço à vista e a prazo. Na prática, porém, a realidade é outra e os juros costumam vir embutidos e bem disfarçados nas compras à vista e nos parcelamentos longos, anunciados à exaustão como juro zero.
Totalmente incorporada pelo mercado brasileiro, essa prática é difícil de ser identificada por parte dos consumidores. "É impossível sabermos qual a porcentagem exata de juros que as empresas incorporam no preço à vista. Mas uma coisa é certa: ninguém no varejo empresta dinheiro ou antecipa um bem de graça", alerta Carlos Tadeu de Oliveira, gerente técnico do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).
Embora sejamos bombardeados constantemente com informações do tipo "à vista ou em até 12 vezes sem juros", o professor José Dutra Sobrinho, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) garante que isso é impossível, pois toda a operação a prazo tem um custo de financiamento, que geralmente nunca é menor que 2% ao mês.
Com base nisso podemos, por exemplo, calcular uma média aproximada de juros embutidos no preço à vista. "Se você considerar um produto de R$ 1.200 a ser pago em 12 prestações, com uma taxa de juros de 2% ao mês embutida, o mínimo de desconto que o comprador deve ganhar para se aproximar do real preço à vista é equivalente a 12%, ou seja, R$ 143".
O problema, segundo Sobrinho, é que o cálculo da taxa de juros embutida numa operação de financiamento ou empréstimo em prestações iguais é extremamente difícil, mesmo para pessoas com excelente base matemática. "De cada 100 pessoas, 99 não vão saber calcular os juros embutidos e nem mesmo o que seria um desconto adequado", afirma o professor do Insper.
Muitas lojas se recusam a dar descontos e procuram induzir o consumidor a assumir o maior número de parcelas possível, com a justificativa de que o parcelamento longo cabe no bolso, explica Wilson Benício Siqueira, conselheiro do Conselho Federal de Economia (Cofecon). "Só isso já é um bom motivo para o consumidor desconfiar. Como podem anunciar juros zero em 10, 12, 15 vezes?", questiona. Segundo ele, isso ocorre com mais frequência nas lojas de grandes redes varejistas, que possuem cartão de crédito e financeira própria e incentivam a venda a prazo.
Saída
Diante da falta de transparência das informações, com as empresas anunciado uma coisa e fazendo outra, o consumidor se sente impotente. Contudo, existem outros meios para buscar o menor preço à vista. A maneira mais fácil é comparar qual loja oferece o preço mais em conta para o mesmo produto e, nesse caso, a internet é sempre uma ótima aliada.
Geralmente, o estabelecimento que oferece o maior número de parcelas iguais sem juros é aquele que possui o maior preço à vista e a maior porcentagem de juros embutidos, quando comparado aos demais. "As lojas possuem margem para oferecer descontos no pagamento à vista. Se isso não ocorrer, abandone a compra e busque outro estabelecimento disposto a negociar", recomenda Siqueira.