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"A nova Renault diz o que vai fazer e faz o que disse." A frase parece ter virado um mantra para o francês Jérôme Stoll, presidente da Renault do Brasil. Foi com ela que o executivo encerrou a apresentação do compacto Sandero, em setembro – e, sempre que pode, a repete. Em entrevista à Gazeta do Povo, Stoll valeu-se dessa máxima para reiterar que confia plenamente no cumprimento das metas estabelecidas em fevereiro do ano passado: triplicar a produção e dobrar a participação de mercado da Renault no Brasil até 2009.

O "mantra" é também um recado aos fornecedores – para que façam um esforço extra e acompanhem a expansão do mercado – e para os consumidores. Para Stoll, a instalação de um centro de engenharia no Paraná, o primeiro da marca no continente, é prova do comprometimento da Renault com o país e com a América Latina. "Queremos ficar mais próximos do consumidor local. No passado, sempre tivemos o apoio da matriz, mas a experiência mostrou que a resposta aos novos desafios do mercado regional não foi tão rápida quanto deveria." Cerca de 700 engenheiros vão trabalhar no centro, que desenvolverá veículos para todo o continente.

À frente da montadora desde maio de 2006, Stoll, tido como arredio, tem se mostrado mais à vontade com o português nos últimos tempos. E, principalmente, mais sorridente, até porque alguns resultados do plano de reestruturação são surpreendentes: impulsionadas pelo sedã Logan, as vendas da empresa cresceram quase 40% neste ano, acima dos 29% do mercado nacional. Para 2008, o executivo prevê mais 30% de aumento, novamente superando o avanço da concorrência.

Mas o presidente da Renault admite que palavras não serão suficientes para apagar de vez o passado da montadora no país – marcado por promessas não-cumpridas e pela inauguração de uma grande fábrica em São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba) que, por conta de seguidos fracassos comerciais, estava subutilizada até pouco tempo atrás. "Precisamos explicar com fatos, e não só com palavras, que o plano é sério." Confira abaixo os principais trechos da entrevista concedida à Gazeta do Povo na última terça-feira, pouco antes do jantar anual do Sindipeças-PR, que representa as fabricantes de autopeças do estado.

Gazeta do Povo – No começo de 2006, especulava-se que a Renault do Brasil poderia demitir funcionários ou até fechar a fábrica. O que explica a "virada" que ocorreu de lá para cá?

Jérôme Stoll – Desde o sucesso do Scénic, em 2001, a Renault não lançou novos produtos. Foi um período muito difícil, de prejuízos. Com o lançamento do novo plano, houve um grande trabalho para criar novos produtos, como o Mégane Sedan, o Mégane Grand Tour e o Logan. Eles são a chave do crescimento atual.

Qual é a expectativa para 2008?

Esperamos que o mercado brasileiro cresça cerca de 10%. Para a Renault, em particular, acreditamos em 30%. Por duas razões. A primeira é que o Logan está sendo vendido há menos de meio ano, e em 2008 serão 12 meses completos. Seu impacto sobre as vendas será ainda maior. A segunda razão é que teremos o Sandero, que deverá ser um grande sucesso.

A Renault esperava vender 1,5 mil Logan por mês. A previsão foi superada, e há fila de espera para comprá-lo. E o Sandero, deve vender quanto?

(Risos) Mas nós ainda nem lançamos o carro! O curioso é que todo o mercado, e a imprensa também, acreditava que o Sandero seria uma versão "hatch" do Logan. E o carro tem um design totalmente diferente. Mas, apesar das carrocerias diferentes, a plataforma dos dois é a mesma, e eles têm vários componentes em comum. É uma boa estratégia para uma montadora relativamente pequena, como é a Renault no Brasil. Assim, o fornecedor de peças consegue produzir um volume maior, e o preço unitário cai. E o brasileiro dá grande atenção ao preço ao comprar o veículo.

Como a Renault conseguiu aumentar em 126% suas exportações neste ano, enquanto as concorrentes diminuíram os embarques?

Boa parte de nossas exportações vai para a Argentina e o México, dois mercados que estão muito bem. Na Argentina, o crescimento é quase tão forte quanto no Brasil.

A valorização do real não atrapalha?

Não há como negar esse aspecto. É um problema geral, que afeta a competitividade de todas as montadoras. Em 2008, as exportações certamente vão cair, inclusive as da Renault, porque é impossível aumentar nossa produtividade na mesma velocidade em que o câmbio cai.

Recentemente, a Renault, e outras montadoras, tiveram problemas com falta de peças. Isso pode se repetir em 2008?

Será um desafio diário. Quando as montadoras anunciaram investimentos, os fornecedores de autopeças não acreditaram muito. Com a Renault, a confiança estava abalada, porque no passado ela fez anúncios que não conseguiu cumprir. Quando anunciamos o Contrato 2009, não sei se todos acreditavam, porque falamos em duplicar as vendas no Brasil e triplicar a produção. Mas precisamos explicar com fatos, e não só com palavras, que o plano é sério. O Logan está sendo um sucesso, o Sandero também será, a Grand Tour já ultrapassou a Fielder (perua da Toyota) e, como os fornecedores demoraram a investir para produzir mais, agora terão que correr atrás.

Em 2006, a Renault anunciou seis novos carros para o Brasil. Já apresentou quatro. Os outros dois, um em 2008 e outro em 2009, também serão sobre a plataforma do Logan?

(Risos) Depois da surpresa com o Sandero, as concorrentes estão muito mais atentas, então precisamos guardar alguns segredos. Mas a nova Renault é uma empresa que diz o que vai fazer e faz o que disse.

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