Antes responsável pelo baixo retorno do investimento mais popular do Brasil, o rendimento pré-fixado fez a caderneta de poupança virar a mesa na semana passada. O aumento da taxa Selic, que ajuda compor o retorno financeiro da poupança, já a tornou mais rentável para pequenos investidores do que os fundos DI (pós-fixados) e os Certificados de Depósito Bancário (CDBs). A poupança é melhor no caso de aplicações inferiores a R$ 10 mil, patamar a partir do qual, em média, a taxa de administração dos fundos supera 1,2%, não importando o prazo do investimento.
Pelas regras criadas pelo governo federal no ano passado, existem duas fórmulas para calcular a remuneração da poupança. A fórmula antiga Taxa Referencial de juros (a TR, que tem ficado bem perto de zero) + 0,5% ao mês, somando 6,17% ao ano vale para os depósitos feitos antes de 3 de maio de 2012. Ela também é aplicada sempre que a taxa básica de juros (a Selic) for maior que 8,5% ao ano. Se a Selic for igual ou menor que 8,5%, uma nova regra deve ser aplicada: depósitos feitos a partir de 4 de maio de 2012 rendem 70% da Selic. Na semana passada, o Banco Central elevou a Selic de 8,5% para 9% ao ano, deflagrando o gatilho da caderneta, que está agora pagando rendimentos segundo a fórmula antiga.
Com isso, a poupança volta a render 6,17% no ano, contra 5,89% dos fundos DI, em média, descontadas as taxas de administração. O retorno dos CDBs que remuneram 80% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) (taxa média encontrado nos bancos para quem tem R$ 10 mil) resulta em ganho líquido ainda menor: de 5,77% ao ano.
No caso de aplicações menores, de menos de R$ 1 mil, e prazos menores de 120 dias, o investidor tem perda certa se optar por fundos de renda fixa, calcula o matemático Antonio Carlos Bellio. "É necessário obter quase 100% do CDI para que o CDB tenha remuneração praticamente igual à poupança". Isenta de imposto, a poupança é inegavelmente mais atraente nessa situação. Mas, para valores maiores (cerca de R$ 10 mil) e prazo acima de 180 dias, o CDB vale mais a pena mesmo que o imposto de renda leve de 15% a 20% sobre o rendimento se houver saque. Dados do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) indicam que 92% (ou 99,2 milhões de correntistas) optaram pelo caminho certo: tinham saldo menor que R$ 10 mil ao fim de 2012.
Migrar o dinheiro, porém, nem sempre é a saída. "É preciso considerar o tempo que a aplicação vai durar. Por isso definir 'horizontes' é tão importante", diz o consultor Altemir Farinhas, especializado em educação financeira. Deve sempre constar no cálculo a incidência de imposto ao resgatar dinheiro aplicado em fundos, que muda conforme o tempo de aplicação. Como a atratividade da poupança depende de políticas econômicas ou seja, de previsões às vezes é melhor deixar o dinheiro parado no DI. Ainda que a tendência seja de que a Selic volte a ter dois dígitos em 2014, acredita Farinhas. A última vez que isso ocorreu foi em janeiro de 2012 (à época, era de 10,25%).