O Grupo Abril deu entrada no pedido de recuperação judicial na última quarta-feira (15). O principal motivo para a medida é reequilibrar as contas da empresa, que já vinham no vermelho há algum tempo, devido à ruptura tecnológica do modelo de negócio e à crise econômica, segundo o que foi informado pela Exame, marca publicada do grupo. A dívida alcança R$ 1,6 bilhão.
O pedido de recuperação foi aprovado e o plano de recuperação será mostrado aos credores em até 60 dias. A partir disso, a dívida é congelada e a empresa entra em um período de proteção de 180 dias, quando não pode ser executada pelos credores.
Nesse tempo, a empresa também precisa encontrar novas estratégias para gerar receita e pagar dívidas. “Durante o processo de recuperação judicial, a gestão da Abril terá de se preocupar com a reversão da operação, virando geradora de receita para poder fazer frente aos seus débitos”, explica Douglas Duek, CEO da Quist Investimentos, gestora de um fundo especializado em investir em empresas endividadas e que presta assessoria em reestruturações de alta complexidade.
A venda de ativos é avaliada internamente como parte da solução para a geração de caixa. O atual presidente executivo do grupo, Marcos Haaland, sócio do Alvarez &Marsal Brazil, escritório responsável pela condução da recuperação judicial, disse à Folha de S.Paulo que o processo pode ou não incluir vendas de operações.
Há negociações em andamento desde antes do pedido de recuperação da Abril
Segundo a reportagem apurou, desde antes do pedido de recuperação judicial a empresa mantém conversas com diversos grupos interessados em seu portfólio.
O UOL é um dos principais nomes envolvidos, num acordo que envolveria a compra de até 10 marcas publicadas pela Abril. A Somos Educação negociou longamente a aquisição do Guia do Estudante, mas as conversas estão paradas no momento. Títulos já descontinuados, como a Boa Forma, também têm interessados, mas nenhum acordo foi concretizado por enquanto.
Por fim, os controladores receberam sondagens de interessados em assumir toda a operação de mídia, o que incluiria as marcas mais importantes da Abril, como Veja, Exame e Quatro Rodas. Mas, internamente, essa negociação é considerada muito mais complexa. Além disso, a partir do pedido de recuperação judicial, qualquer venda depende de aprovação judicial.
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A reportagem entrou em contato com a assessoria da Somos Educação, que afirmou “não comentar especulações do mercado”. A assessoria do UOL não respondeu ao pedido de entrevista até a publicação desta matéria. A Abril negou as negociações.
A venda de títulos pode servir não apenas para levantar caixa, mas também para redefinir a estratégia do grupo. Para Douglas Duek, a reabilitação plena da empresa é possível, desde que bem estruturada, e por meio de um processo de dentro para fora. “O mundo sofreu transformações e a empresa não acompanhou”, afirmou Duek.
“Na prática, a empresa não está colhendo bons frutos porque não plantou da maneira correta. Como parte do diagnóstico, é preciso separar as unidades de negócio para entender o que dá lucro e o que perde dinheiro e adaptar a empresa para um novo ciclo”, afirma.
Apesar de ter prejuízo como grupo, a Abril segue tendo diversas marcas e operações lucrativas. E até experimentou crescimento em algumas áreas, como eventos e licenciamentos.
Marcos Haaland, atual presidente executivo do Grupo Abril, informou na entrevista à Exame que a receita da empresa caiu de R$ 1,4 bilhão, há quatro anos, para R$ 1 bilhão, em 2017.
Nesse período, a operação de mídia sofreu queda em todas as suas principais linhas de receita - em especial no faturamento publicitário, mas também em assinaturas e nas vendas de revistas. Essa última, é agravada pelo crescente fechamento de bancas de jornais em todo o país. O prejuízo do grupo no ano passado foi de R$ 300 milhões.
Corte de funcionários e demora em pagar todos os direitos
Diante do quadro, a empresa tem sido obrigada a fazer demissões. Na última onda, foram cerca de 800 funcionários. Nem todos receberam a totalidade das indenizações devidas, mas a empresa garante que pagará os valores, de maneira parcelada.
Duek diz que todos os empregados devem acabar recebendo o que têm direito. “Pode demorar um pouco, mas todo mundo vai receber de acordo com o plano de recuperação judicial”, diz.
O grupo garantiu Abril que as indenizações trabalhistas serão pagas em sua totalidade, porém parceladas e que durante o processo de RJ as dívidas trabalhistas têm prioridade frente às demais.
Durante a recuperação judicial, as operações do grupo continuam funcionando normalmente. A empresa mantém cerca de 3 mil funcionários e o portfólio que fica é composto por Veja, Veja SP, Exame, Você S/A, Você RH, Quatro Rodas, Placar, Capricho, Claudia, Portal M de Mulher, Bebe.com, Saúde, Viagem e Turismo, Superinteressante, Guia do Estudante e Vip.
Publicações como Elle, Cosmopolitan, Mundo Estranho, Casa Claudia e Boa Forma, entre outras, foram encerradas.
Apesar de tudo, Duek garante que a imagem do grupo não necessariamente ficará abalada com esse episódio. “Se o trabalho de reestruturação for bem feito a empresa vai se recuperar e pode até ficar melhor do que antes”, diz.
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